Naná Vasconcelos: o homem por trás do mito

Ele começou a carreira aos 12 anos de idade, tocando em cabarés, ao lado do pai, sob autorização judicial. Foi só o que bastou para saber que trabalharia com música pelo resto da vida. De lá para cá, morou em diversos países, tocando ao lado de nomes como B.B. King, Talking Heads, Mile Davis, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Geraldo Vandré e Marisa Monte. Carrega oito grammy’s na bagagem e ainda foi eleito “o maior percussionista do mundo”, pela revista Down Beat. Mas antes de ser tudo isso, Naná Vasconcelos é apenas o Naná da esposa Patrícia, da filha Luz Morena, dos familiares e amigos que o vêem como um homem simples, humilde e discreto, dono um talento único.

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

“Esse negócio de eleger melhor do mundo nisso e naquilo é tudo invenção dos americanos. Eles têm essa mania de fazer isso em todo canto”, brinca Naná. “É uma grande besteira, ninguém é melhor do mundo em nada. Há tanta gente por aí fazendo coisas tão únicas e diferentes”, explica. E foram justamente essas diferenças que o fizeram ganhar tanto destaque internacional. “O povo ficava encantado com as coisas que eu fazia porque eram novas. Assim como Villa-Lobos, eu aprendi a usar elementos folclóricos para compor coisas elaboradas. O brasileiro é muito criativo. Nós pegamos o berimbau, que vem de uma parte da África, e a capoeira, que vem de outra totalmente diferente, e juntamos em uma coisa só. Única. Por isso que eu era o ‘bicho estranho’ lá fora. Porque levava uma novidade”.

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

Quando o então prefeito do Recife, João da Costa, passou ao prefeito eleito, Geraldo Julio, ainda em 2012, a missão de acertar os preparativos para o carnaval de 2013, seu nome surgiu de imediato. O músico foi ao encontro do novo prefeito achando que falaria sobre a abertura da festa – que comanda há 12 anos na sexta-feira de carnaval. Na verdade, o assunto eram os homenageados do evento neste ano. “Ele me perguntou sobre isso e eu disse que poderia ajudar a escolher alguém. Aí ele respondeu: ‘Na verdade, nós queremos saber se você aceita o convite para ser homenageado’ . Para mim, foi uma alegria imensa. Estou sendo celebrado na minha terra. E em vida!”, conta Naná. “Geraldo me disse que quando era criança, me viu na TV e perguntou ao pai quem era aquele. E o pai dele respondeu: ‘É um grande pernambucano, melhor percussionista de todos os tempos'”, completa, emocionado.

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

O talento é tão grande que ele é capaz de transformar qualquer coisa em música. Como demonstram seus discos anteriores, os sons vêm de todos os lugares, sejam de objetos ou de elementos naturais. Ao longo do tempo, ganhou mais carinho pelo berimbau, mas não dispensa o talento musical em nenhuma parte. A piscina de casa, uma garrafa, um chocalho e até o próprio corpo se transformam em instrumentos com grande facilidade. “Há certas coisas que só eu faço. Mas tenho trabalhado com um pouco de tudo. Tenho projetos sociais com crianças, tenho trabalhos importantes com orquestras sinfônicas. Fico triste quando pensam que eu sou apenas maracatu”, revela.

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

Naná Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

Sempre que a agenda lhe permite um tempo livre, a tranquilidade reina. Reservado, o músico se diverte com saídas a restaurantes com a família; caminhadas pelo Parque da Jaqueira ou sessões de filmes estrangeiros no Cinema da Fundação. Em casa, não dispensa a rotina de assistir a documentários sobre os mais diferentes temas. Está sempre acompanhado da família e derrete-se de orgulho pela filha, Luz Morena, de 13 anos. Comenta até sobre a herança musical da garota: “Ela começou a tocar piano e se saiu muito bem, mas quando disseram que ela tinha de cortar as unhas para tocar, ela desistiu”, diverte-se o pai. A companhia da esposa, Patrícia, também é fundamental. Ela é assessora de imprensa de Naná, mas também é formada em engenharia. Eles têm a ideia de abrir um restaurante juntos, projetado por ela e inspirado na obra dele.

Naná e a esposa, Patrícia Vasconcelos – Crédito: Annaclarice Almeida DP/D.A Press

Quando o assunto é carnaval, no entanto, a rotina vira de cabeça para baixo. Ainda mais em ano de homenagem. Naná começará nesta semana os ensaios com maracatus de diversas partes do Recife: Leão da Campina, Nação Porto Rico, Estrela Dalva, Raízes de Pai Adão, Oxum Mirim e muitas outras. Todos se unem no dia 8 de fevereiro, em pleno Marco Zero, para a abertura. É o momento em que as rivalidades entre os grupos desaparecem e a música fala por si. Nos dias seguintes, o homenageado fará aparições no Galo da Madrugada e em outros desfiles de blocos tradicionais da cidade. Além dele, o carnaval de 2013 também presta homenagem póstuma ao fotógrafo Alcir Lacerda, de cujo trabalho Naná é admirador. “Suas fotografias mostram um Recife que muitos recifenses não tiveram a oportunidade de conhecer. Acredito que quanto mais divulgadas suas obras forem, mais rica se torna a nossa história”.

Naná Vasconcelos abriu as portas da sua casa para contar a sua história. Confira vídeo:

Imagens: Débora Leão // Edição: Tatiana Sotero

Conheça também a história de Alcir Lacerda, outro homenageado do carnaval do Recife:

Alcir Lacerda, o legado além do homem

Author: admin

Compartilhe este post