Plus Size sim, Miss também
Alta, magra, com uma cintura definida, cabelos grandes e bem tratados, pernas e braços torneados, sem flacidez, olhos claros, nariz afilado… Se você conseguir checar todos os itens da lista – que poderia se estender facilmente por mais três ou quatro linhas -, talvez a sociedade considere que você pode concorrer ao posto de Miss.
A pressão para se enquadrar em um estereótipo de beleza vem de todo lado: da família, dos amigos, da sociedade, da mídia e, muita vezes, de você mesma. E os concursos de beleza coroam exatamente isto: aquelas que mais conseguem chegar perto deste ideal que povoa o imaginário ocidental.
Mas em um mundo onde, cada vez mais, mulheres de todas as idades têm acesso à informação, depoimentos e pensamentos que vão de encontro a essa ideia engessada, é possível encontrar lugares nos quais a diferença é valorizada.
“Se você ensina ao teu filho que o preconceito não vale a pena, ele vai crescer livre disso. É necessário mostrar para as crianças que o legal e o interessante é que todo mundo seja diferente. Todo mundo igual é tão sem graça”. Estas palavras são de Babi Luz, a primeira Miss Pernambuco Plus Size, coroada no ano passado. A administradora de 31 anos diz não ter sofrido muito por causa do seu peso na infância, mas na adolescência, encontrar roupa não era das tarefas mais fáceis.
“Não tinham roupas femininas que coubessem em mim. Eu sentia que não era eu que escolhia a roupa, mas a roupa que me escolhia, porque eu vestia o que dava em mim”, relembra. A vida adulta chegou e, apesar de se sentir bem com seu peso, Babi se privava de muitas coisas. “Eu não usava vestido nem roupa sem manga. Eu não me sentia no direito de ser feminina. Achava que eu ficaria feia, que as pessoas me olhariam e julgariam”, conta a Miss, completando que participar do concurso a fez se aceitar mais.
A ideia de se inscrever no Miss Pernambuco Plus Size veio da tia de Babi, que mora em Brasília, primeira cidade do país onde o concurso aconteceu. “Resolvi entrar porque sempre vi os concursos de beleza com aquela aura de princesa, com vários cuidados com a beleza”, explica. A convivência com as outras participantes, porém, acabou sendo o grande diferencial para Babi. “Eram meninas que tinham o mesmo ‘problema’ que eu e o contato com elas me fez ver que aquilo, na verdade, não era um problema. Que a chave é se transformar e aprender a se aceitar”, fala a Miss.
E é essa a ideia que ela procura perpetuar no seu reinado como Miss Plus Size. Como a cidade não tem muitos eventos para o público plus size, suas atividades acontecem mais nas redes sociais. No seu Instagram pessoal e na conta que administra junto à prima Gisele Luz, terceira colocada no mesmo concurso que a coroou, Babi se coloca como referência para suas seguidoras. “Sempre posto e converso com as meninas nas redes sociais. Dou dicas de roupas legais, lojas onde dá para achar nossos números, dicas de como se sentir bem consigo mesma, de exercício físico…”, exemplifica. Somando os dois perfis, ela já conta com mais de 6500 seguidores.
“Tento ao máximo me dedicar para ajudar essas meninas, porque eu mesma, quando me sentia desta forma, não tinha ninguém que também fosse gordinha e me dissesse que não tinha problema algum nisso”, lembra. Babi fez a cirurgia de gastroplastia há seis anos por questões de saúde e acha que o grande problema que afeta a percepção e a autoestima são os comentários das pessoas. “O pior são as pessoas falando mal, criticando, dizendo que você é gorda porque você quer, porque você não se cuida, porque você é relaxada”, lamenta.
OS PADRÕES DA LUTA CONTRA OS PADRÕES
Ir de encontro às regras não é fácil e até o movimento plus size sofre com as imposições do mundo da moda. Na opinião de Babi, a influência da mídia no ideal de beleza existe e, mesmo quando ela tenta democratizar a ideia, acaba impondo novos padrões. “As grandes marcas quando usam modelos plus size, botam nas campanhas meninas que vestem 42. Como é que uma mulher 42 pode ser considerada plus size? Que tipo de mensagem isso passa?”, ela questiona.
Nas passarelas, a realidade também não é muito diferente. “Uma modelo tem que vestir, no máximo, até o 38. Uma plus size, normalmente, do 44 ao 50. Mas e as outras mulheres? E todo mundo que não está nesses intervalos? Por que elas não têm o direito de serem representadas?”, conclui a Miss acrescentando que se a ideia é promover a quebra de ideias fixas, só está se criando mais um estereótipo.