“Eu e Raquel fomos expulsos do PSB”, disse João Lyra Neto

João Lyra Neto - Crédito: Nando Chiappetta/DP/D.A Press

João Lyra Neto – Crédito: Nando Chiappetta/DP/D.A Press

O ex-governador João Lyra Neto foi o entrevistado do programa João Alberto Informal, que foi ao ar nesta quinta-feira, na Rádio Globo. Falou sobre o juiz Sérgio Moro, as expectativas para o futuro político do país, seu tempo como governador do estado, a candidatura da filha Raquel Lyra à Prefeitura de Caruaru e revelou como os dois saíram do PSB. “Nós não optamos sair. Nós fomos expulsos do PSB”, disse ele. Confira alguns trechos:

– O senhor teve a oportunidade de conversar com o juiz Sérgio Moro. Qual foi a impressão que ele lhe deixou?
Eu acho que Sérgio Moro representa o pensamento de uma nova geração. Uma geração que entrou na polícia, na Justiça Federal, no Ministério Público Federal, no final  de 2002, 2003. Se vocês olharem, é um sentimento de estabelecer um combate à corrupção sistemática. Eu ouvi uma palestra do Sérgio Moro e, na conversa que tive com ele, eu o achei uma pessoa muito estudiosa, simples, mas muito determinada. E não é ele só, que tem esse pensamento, ele representa o sentimento de uma geração. E essa geração quer montar um sistema de combate à corrupção. Ele cita muito a operação Mãos Limpas, na Itália, que inclusive foram assassinados juízes e promotores, mas ali estabeleceu-se um combate à Máfia Italiana, que no pós-guerra foi uma das instituições mais criminosas da Europa. A corrupção, eu tenho certeza que existe e faz parte da convivência  humana. Mas a sociedade, através de seus organismos, ela tem que combater sistematicamente. Independente do resultado que vai acontecer, o resultado é extremamente positivo. Nunca houve tanta gente processada, tanto inquérito. E a sociedade brasileira se alertou.

João Lyra Neto e Eduardo Campos. Crédito: Roberto Ramos / DP

João Lyra Neto e Eduardo Campos. Crédito: Roberto Ramos / DP

– O senhor assumiu o governo do estado com sérias dificuldades. E foi extremamente ético, porque sabia que ali estava em jogo a eleição do candidato do governo, Paulo Câmara, e ficou calado, não reclamou, recebia as críticas… Foi um período difícil na vida pessoal do senhor, o período que foi governador: sem recursos, sem poder gastar e tendo que pagar o que devia?
João, foram nove meses, e quando eu assumi, me lembro muito bem, lá, em frente ao palácio do governo, quando recebi das mãos de Eduardo a transmissão do cargo e, em minha posse, na hora, eu resolvi falar de improviso. E eu dizia “Não existirá o Governo de João Lyra. Vai existir a complementação de oito anos do governador Eduardo Campos”. E eu tinha essa consciência, porque fazer em nove meses um governo, é praticamente impossível. Eduardo foi um governador que se consagrou pela sua liderança, pela sua sabedoria e, acima de tudo, pela sua capacidade política e de gestão. Ele foi uma referência nacional. Naquela época, dois estados se destacaram: Minas Gerais, com Aécio Neves, e Pernambuco, com Eduardo. Foram dois estados que fizeram um trabalho de modificação de gestão. Lembro que quando assumimos, em 2007, eu fui várias vezes a Minas Gerais para observar o modelo de gestão que estava sendo implantado em Belo Horizonte. Então foram momentos de grandes transformações e crescimento. E eu não posso deixar de fazer um registro aqui: além da competência de Eduardo, houve a participação do presidente Lula. O presidente teve uma participação muito forte e decisiva nos investimentos que foram feitos em diversas áreas, a partir de Suape, as escolas técnicas, a Universidade Federal com o campus no interior. Mesmo que eu não concorde em nada com o que ele fez, eu acho que ele foi um grande presidente, um presidente transformador. Mas foi também um presidente que utilizou a máquina, em detrimento da sociedade brasileira, fazendo com que a corrupção se implantasse organicamente no país. (…) Mas, voltando ao meus nove meses de mandato, foi um governo de complementação, de um planejamento que foi feito em 2006 e em 2010 e que enfrentei muita dificuldade. Foi o início da redução de receita, mas tinha um compromisso com a eleição, tanto de Eduardo Campos, que aconteceu a tragédia que o levou, mas também a eleição de Paulo Câmara. Eu tinha esse compromisso político, de lealdade, de concluir. E deixei as contas cumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal. E agora o governo, assim como outros estados, está passando por um momento de grande dificuldade. Porque aquilo que foi projetado, foi em outra realidade econômica e outra realidade política. E agora nós estamos em um recessão econômica e em uma grande crise política. Então, todos os estados estão respondendo por esse momento e Pernambuco também.

Crédito: Nando Chiappetta / DP

Crédito: Nando Chiappetta / DP

– Eduardo Campos me disse uma vez: “João Lyra é meu Marco Maciel”. Marco Maciel foi um exemplo de correção e lealdade como vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso. Acho que não pode haver melhor elogio..
Se ele revelou isso, por incrível que pareça, estou sabendo disso agora. Marco Maciel, apesar de termos sido sempre adversários em termo de campo ideológico, é uma pessoa de muita respeitabilidade e ocupou os grandes cargos no Brasil, inclusive foi vice-presidente e todas as vezes Fernando Henrique faz referências elogiosas a ele. “Vice”, segundo a Constituição não é cargo, é uma função. Então você tem que se comportar como substituto eventual ou substituto definitivo. Mas você, sendo eleito com o titular, tem um compromisso de honrar os compromissos assumidos em praça pública. E Eduardo honrou, eu honrei com o compromisso com o povo pernambucano. E eu fico muito feliz que ele tinha esse pensamento. Eduardo, dentro desse quadro que está aí, é extremamente diferenciado, muito inteligente, muito sagaz. E ele vislumbrou isso, muito antes do acontecido. A política dele era justamente de mudança. Algumas pessoas, muitas lideranças do PT, não entenderam, o próprio presidente Lula não entendeu, mas Eduardo tinha razão. Infelizmente a tragédia o levou, mas ele viu antes de muita gente que esse modelo que estava í ia dar errado. E deu errado. A proposta dele era de mudança.

– Por que o senhor e Raquel Lyra trocaram o PSB pelo PSDB?
João, eu costumo ser muito sincero com as minhas coisas. Vou dizer que nós não optamos sair. Nós fomos expulsos do PSB. Essa é a realidade. Eu posso dizer a você, pela primeira vez na imprensa, eu não recebi um telefonema de ninguém. Eles decidiram, em novembro, nomear Raquel Presidente da Comissão Provisória do PSB. Eu imaginava que aquilo estava decidido e faltando três dias para o final do prazo legal, eles comunicaram a Raquel que ela não seria mais a candidata a prefeita. E ela havia recebido a Comissão Provisória de Caruaru dizendo que ela seria pré-candidata à prefeitura. Eu acho que foi um grande equívoco e, acima de tudo, uma falta de respeito conosco, a decisão do PSB. Mas a gente tem que fazer política e nossa vida tem que ser feita com gestos de grandeza. Acho que a grande perplexidade deles foi que eles imaginavam que nós não teríamos alternativas, mas nós tivemos. Apesar do tumulto em Brasília, eu quero ressaltar a cordialidade e a solidariedade do presidente Aécio Neves do PSDB e de toda a comissão executiva daqui de Pernambuco, liderado pelo deputado Antônio Moraes e todos os seus membros, na imensa solidariedade que nós recebemos. Nós temos uma história. Essa história não começou comigo nem com Raquel, essa história tem mais de 50 anos. E a história tem que ser respeitada. E de uma hora você ser afastado sem nem saber o porquê. Eu acho que não pode acontecer isso o que aconteceu com o PSB de Pernambuco.

Raquel Lyra. Crédito: Roberto Ramos / DP

Raquel Lyra. Crédito: Roberto Ramos / DP

– Raquel Lyra está preparada para ser prefeita de Caruaru?
Raquel Lyra é uma servidora pública por vocação. Ela, antes de ser Delegada da Polícia Federal com 23 anos, já foi estagiária do Ministério Público Federal, já foi advogada estagiária do Banco do Nordeste, através de concurso. Ela hoje é procuradora do estado. Eu acho que ela se preparou. Ela é presidente da Comissão de Justiça, implantou a Secretaria da Criança e da Juventude, no segundo governo de Eduardo Campos. E teve uma relação importante em nível nacional. Ela faz parte de grandes instituições nacionais de sustentabilidade, de proteção à criança e à mulher. Então, Raquel é uma servidora por vocação e por decisão. Ela vai apresentar ao povo de Caruaru uma plataforma amplamente discutida com a sociedade caruaruense. E esse sentimento existe já na população. Apesar da rejeição à classe política, ela representa uma renovação da classe com a trajetória política de seriedade e honestidade. É uma exigência da sociedade brasileira que os políticos sejam, na sua maioria, honestos. O que não acontece hoje. Então eu acho que Raquel se preparou para ser política, para ser servidora pública e eu acho que ela vai ser uma grande prefeita de Caruaru.

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