Bate-bola: Exposição no Museu do Estado exibe peças inéditas do acervo

O Museu do Estado de Pernambuco inaugurou, nessa quinta-feira, sua nova exposição de longa duração: Pernambuco, Território e Patrimônio de um povo. A mostra reúne cerca de 800 peças, selecionadas entre as mais de 16 mil do acervo da própria instituição, localizada no bairro das Graças. São coleções de arte pré-histórica, indígena, afro, holandesa e também do século XIX, chegando até a contemporaneidade. Com curadoria de Raul Lody e Renato Athiasum, que estiveram na cidade para a grande noite de lançamento, a exposição foi resultado de um trabalho de quase dois anos.

Margot Monteiro é diretora do Mepe - Crédito: Nando Chiappetta/DP

Margot Monteiro é diretora do Mepe – Crédito: Nando Chiappetta/DP

Outro grande nome por trás deste projeto grandioso é Margot Monteiro, diretora do museu. Nome conhecido nas artes plásticas de Pernambuco, ela se dedica há cerca de 10 anos ao Mepe. A primeira passagem foi de 2007 a 2010 e a segunda já perdura desde 2015. Neste tempo, Margot se debruçou sobre o acervo do local – o que resultou na nova exposição.

Em entrevista exclusiva ao Blog João Alberto, a diretora contou todos os detalhes da mostra Pernambuco, Território e Patrimônio, a importância para a cultura e o reconhecimento dos pernambucanos. Além disso, falou sobre sua trajetória no museu, as novidades e desejos para o futuro da instituição. Margot é exemplo de dedicação e paixão pelo trabalho: “Quando estamos gerenciando uma instituição tão importante, sempre queremos dar nossa contribuição total, principalmente como pernambucana. Tenho muito orgulho disso”.

Confira a entrevista completa:

Como surgiu a ideia de reunir as obras do acervo nesta nova exposição?

O Museu do Estado de Pernambuco tem uma grande quantidade de obras em seu acervo, cerca de 16 mil peças. É um bem de todos os pernambucanos. Durante todos esses anos que estou lá, a gente pôde trabalhar muito no acervo, com a preocupação de restaurar essas peças. E então a gente foi vendo que dentro do acervo, nós podíamos contar a história do nosso estado, do nosso povo. A ideia surgiu há dois anos. A maioria dos museus contam histórias pontuais e, já que temos esse privilégio que é nossa coleção, nós decidimos contar a história desde o início. Temos coleções da pré-história, indígena, que é uma das mais importantes do Brasil, afro…

A exposição é bem interativa e mais moderna. Quem quiser conhecer o estado de Pernambuco vai ver os primeiros povos, a colonização, o comércio… Você vai entrar em um túnel do tempo. E nas duas salas, nós privilegiamos as coleções, muitas delas foram restauradas. Tudo isso estava dentro do projeto, que tem como patrocinador o Santander. Eles já apostaram com a gente vários projetos, como a reserva técnica. Hoje, todo o acervo está acondicionado da forma mais moderna possível, em armários especiais, com novo layout, climatizado. Também temos agora um corpo técnico, que antes não tínhamos, com funcionários públicos, museólogos e historiadores. Foi com todo esse grupo, junto com os dois curadores Raul Lody e Renato Athiasum, que nós fizemos uma grande pesquisa e pudemos selecionar peça a peça. Foi um trabalho imenso.

Exposição Pernambuco, Território e Patrimônio de um povo - Crédito: Reprodução/Facebook

Exposição Pernambuco, Território e Patrimônio de um povo – Crédito: Reprodução/Facebook

Como foi o processo de curadoria? Você também participou?
Foram mais de dois anos. Existem várias coleções, então a gente vai em cada uma delas. Por exemplo, a coleção Etnográfica, um dos curadores já tinha um grande conhecimento dela. O Raul Lody também já conhecia a coleção Afro. Outras peças, como quadros, a gente vai pesquisar qual época ele retrata. Então fomos pensando, fazendo um desenho de museografia, trabalhando em cima desse pensamento. Queríamos entregar a Pernambuco um museu que oferecesse uma história completa.

Qual a importância desta exposição?
Numa exposição como essa, você tem a possibilidade de entender melhor sua história. A gente vive num mundo muito superficial hoje em dia e, com a mostra, você vai poder identificar o que forma a junção de todos os nossos povos. Também é importante para valorizar a história, o que nós temos. Pernambuco tem um passado muito diferenciado em relação ao Brasil, tanto em colonização, quanto no Século XIX, com o porto, com lutas revolucionárias. E, para os turistas e pessoas que não são daqui, eles vão poder entender melhor a região. Nós também colocamos cinco vídeos com professores falando de temas específicos pela exposição.

Museu do Estado. Crédito: Val Lima/Divulgação

Museu do Estado – Crédito: Val Lima/Divulgação

Quais são as obras que você pode destacar?
São várias. Temos uma coleção de Franz Post, do período holandês, e peças de demolição dessa época também. São pedaços de casas que os holandeses construíram e hoje não existem mais. Foram achados em escavações no Recife Antigo. A coleção Indígena também, temos peças que são motivos de estudo. Várias pessoas vem até aqui buscar essas peças. Outras nunca foram mostradas e, agora, estarão à disposição dos visitantes. Um deles é um mapa de identificação de todos os povos indígenas que viviam no Brasil. Foi feita por um alemão, chamado Curt Nimuendajú, entre as décadas de 1920 e 1930. Só há três desses mapas no mundo: um no Rio de Janeiro e outro na Alemanha. E o nosso é original.

E como a exposição estará dividida?
As coleções estarão separadas por época. Cada espaço tem uma cor definida. A primeira etapa é a natureza – aquilo que o europeu encontrou quando chegou – depois temos a arqueologia, os indígenas, a colonização, o descobrimento, os holandeses, o afro, o Império… até chegar em nosso tempo.

Até quando a exposição ficará em cartaz? Existe uma expectativa de público?
Ela vai ficar durante muito tempo, alguns anos talvez, depende da visibilidade que vamos ter. Estamos divulgando por todo o Brasil, e também vamos trabalhar com outros momentos, como palestras e encontros, e vamos lançar um site. Tudo isso vai criar uma curiosidade em relação ao Museu do Estado.

Palacete do Museu do Estado - Credito: Peu Ricardo/DP

Palacete do Museu do Estado – Credito: Peu Ricardo/DP

Quais são as exposições que também estão disponíveis no museu?
Para contextualizar, a gente tem um museu que tem em cima três grandes salas, que são reservadas para exposições temporárias. Agora, estamos com José Patrício, um artista contemporâneo. Nós também temos embaixo um hall, que sempre recebe lançamentos de livros. Esta nova exposição estará em duas grandes salas. Eu gostaria de ter muito mais espaço, porque temos mil possibilidades.
Há também o nosso Palacete, do século XIX, que tem uma exposição que montamos há dois anos, foi nosso primeiro projeto de longa duração. Assim, temos o circuito da história de Pernambuco e depois o público pode ir viver o século XIX.

Tem algum novo projeto em desenvolvimento para o Mepe?
Nós vamos inaugurar a biblioteca. Fizemos  um novo layout, está praticamente pronta. Ela é muito boa e está toda moderna, adaptada para pesquisas. Devemos abrir no mês que vem.

Como você se tornou a diretora do Museu do Estado?
Eu já tinha sido diretora do Museu de Arte Contemporânea, na década de 1990, fiz vários projetos lá. Hoje em dia, ele está fechado e isso também me deixa um pouco triste. Mas depois do MAC, já tendo experiência nessa área, participei da transformação do Mamam (Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães), quando ele era galeria e virou museu. E depois de um tempo, o ex-governador Eduardo Campos me convidou para dar minha contribuição ao Museu do Estado. Já faz quase 10 anos.

Em sua trajetória no Mepe, houve alguma exposição ou evento que lhe marcou?
Para mim, uma das exposições que mais marcou foi a de Janete Costa e Borsoi. Foi logo no meu primeiro ano, em 2007. Nós trabalhamos muito nessa exposição, ela tomou todo o museu. Janete também trabalhou com a gente. O nome era Uma vida e era resultado de tudo que ela compartilhou com Borsoi durante a vida deles juntos. Foi um sucesso estrondoso, super importante. Houve várias palestras sobre arte popular, vieram pessoas do Sul, de São Paulo, até de outros países para visitar.
Outra exposição muito marcante foi a de recortes das Bienais de São Paulo. Também vieram coleções do MASP, da USP… Foram de extrema importância para o público.

Margot Monteiro - Crédito: Nando Chiappetta/DP

Margot Monteiro – Crédito: Nando Chiappetta/DP

Você tem uma história também como artista plástica, ainda faz este trabalho ou se dedica apenas ao museu?
Continuo pintando! Tenho minhas exposições, mas claro, não num ritmo tão rápido quanto antes. Quando estamos gerenciando uma instituição tão importante, sempre queremos dar nossa contribuição total, principalmente como pernambucana. Tenho muito orgulho disso. E eu sou arquiteta também. É muito importante ter uma formação nessa área para trabalhar em museus. Esse entendimento vale muito.

Você costuma visitar outros museus do estado? Quais você destacaria?
Eu gosto muito do Mamam, do Museu da Cidade do Recife, do Homem do Nordeste, a Oficina Brennand, o Instituto Ricardo Brennand… O Cais do Sertão eu também achei fantástico. O Paço do Frevo também, acho que conta um pouco da nossa história. Pernambuco é muito rico e a gente precisa trabalhar na manutenção desses espaços, principalmente os que pertencem ao Estado. Temos esse privilégio e ainda temos muitos museus para serem restaurados, requalificados, para que fiquem de uma forma mais atualizada.

Museu do Estado - Credito: Peu Ricardo/DP

Museu do Estado – Credito: Peu Ricardo/DP

Tem algo que você queira colocar em prática?
Eu poderia dizer que, para fechar, mesmo, a gente precisa de um espaço maior para que pudéssemos receber mais artistas pernambucanos. Isso seria um espaço novo lá mesmo, no Museu, para poder adequar melhor as nossas coleções, não ficar nada faltando. As nossas salas poderiam ser muito maiores pelo que a gente já têm.

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