“Viver em função do esporte foi a melhor escolha que eu poderia ter tomado”, diz Yane Marques

“Viver em função do esporte foi a melhor escolha que eu poderia ter tomado”, diz Yane Marques

A atleta Yane Marques, durante a competição de esgrima feminina, no Complexo Olimpico de Deodoro, Zona Oeste do Rio de Janeiro, em 2016 – Foto: Márcio Mercante/Divulgação

Nascida no interior, pernambucana e medalhista olímpica. Uma história de superação, adaptação, treinos árduos e muitas conquistas. Estamos falando de Yane Marques, que tem um currículo vasto de competições no ramo dos esportes e, este ano, assumiu o posto de Secretária-executiva de Esportes na Prefeitura do Recife.

“Estamos trazendo propostas de esportes de participação, de rendimento e educacional com a meta de transformar vidas”, explica Yane sobre seus principais objetivos no cargo. Cargo este que foi merecido após muitos esforços de quem viveu, na pele, a experiência de ser atleta – e que agora quer passar à população recifense como o esporte pode mudar vidas.

Yane Marques foi a porta-bandeira do Time Brasil na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – Crédito: Rodolfo Buhrer/COB

Yane admite que sua relação com a prática de atividades é algo forte e gratificante. “Viver em função do esporte foi a melhor escolha que eu poderia ter tomado”, relata. Ela é pentatleta brasileira, bicampeã em Jogos Pan-americanos e única detentora de medalha olímpica do pentatlo moderno na América Latina. Além de campeã mundial militar por equipes em 2011, Yane cumpriu seus 8 anos como terceiro-sargento do Exército Brasileiro e também integra o Time Brasil, do Comitê Olímpico Brasileiro.

Para alguém como Yane, deixar o mundo das competições não significa deixar os esportes também. Muito pelo contrário, ela mantém uma rotina bastante ativa. “Treino diariamente das 4h30 às 7h15 e vou trabalhar”, conta. No ano passado, diante do Maracanã lotado, Yane Marques foi a segunda mulher na história a conduzir a bandeira brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos, após vencer uma eleição popular realizada pela internet, superando Serginho, do vôlei, e o velejador Robert Scheidt.

Crédito: Peu Ricardo/DP

Em entrevista exclusiva ao Blog João Alberto, a pernambucana falou sobre sua história de vida, trajetória nos esportes, rotinas de treinos e seus novos desafios e projetos como secretária-executiva de esportes na Prefeitura do Recife. Leia na íntegra:

Você é do sertão de Pernambuco e aos 11 anos veio para a capital. Como foi essa mudança? 
Viemos todos em 1995, minha irmã mais velha estava terminando o terceiro ano e enfrentaria um vestibular. Minha mãe fez a escolha de vir junto com os 4 filhos. A mudança foi atraente pelo fato de estarmos vindo morar numa cidade grande e a princípio cheia de atrativos, mas foi difícil sair de uma rotina de interior para morar num apartamento. Essa fase vencemos com tranquilidade e agora sou apaixonada por essa cidade.

Qual a importância do esporte na sua vida?

Eu me envolvi com esportes, acredito, antes de nascer. Movimentar-se era minha regra e minha alegria. Pensando em esporte mais direcionado para clubes e competições, comecei um ano depois que cheguei no Recife. Não consigo me imaginar fazendo algo diferente. Viver em função do esporte foi a melhor escolha que eu poderia ter tomado. Me realizo diariamente quando estou treinando e essa entrega me rendeu bons frutos. Minha vida foi transformada e, junto, a da minha família. No começo, parecia brincadeira mas o destino estava traçado. Rapidamente, eu me envolvi com tamanha seriedade que não dei conta, e, em 2006, me classifiquei para o Pan, que me fez ter a certeza de que nasci com esse propósito. Mergulhei de cabeça aos treinos e vivi essa experiência.

Crédito: Peu Ricardo/DP

Como foi a sua trajetória no esporte?

Eu comecei jogando vôlei no Ginásio Pernambucano onde estudava, depois inventei de nadar. Em 1996, entrei na escolinha de natação do Náutico e, daí pra frente, as braçadas não pararam até hoje. Em 2003, foi fundada a Federação de Pentatlo aqui no Recife, quando fui convidada para um período de apresentação à modalidade. Gostei e remei forte acreditando em um sonho que se construiria com o avançar das datas. Participar de uma Olimpíada… Esse era meu farol!

Você é terceiro-sargento do Exército Brasileiro. Como surgiu o interesse pelo mundo militar? 

Hoje não sou mais sargento do Exército. Eu era temporária e o tempo máximo de permanência na Força é de 8 anos. Em março de 2017, fechei meu 8º ano servindo e dei baixa. Coincidentemente, fui convidada para um desafio grande na Secretaria de Esportes e, por não ser permitido o acúmulo de vínculo, abri mão do meu salário na prefeitura nos meses de janeiro e fevereiro – para ter tempo de me desligar no Exército e assumir definitivamente meu assento como secretária-executiva de esportes do município.

Crédito: Peu Ricardo/DP

Eu entrei para o Exército em virtude dos jogos Mundiais Militares que aconteceram em 2011, no Rio de Janeiro. As forças convocaram atletas “prontos” para representarem o Brasil, abriram um edital de sargentos atletas e fui convidada para integrar esse time. Isso contribuiu muito na minha carreira pois estava num momento de vacas magras e precisava de apoio para seguir me dedicando full time aos treinos. Na hora certa, aconteceu esse convite e o Exército confirmou sua parcela de importância na construção da minha profissão.

Você é uma atleta com uma vasta experiência de competições internacionais. Como era a sua rotina na preparação para os campeonatos?

Eu vivia para os treinos,  imersa até a cabeça numa rotina que significava treinar, descansar, estudar e comer. Isso me preenchia num nível de satisfação absurdo. Me entreguei a essa rotina por pelo menos 15 anos. A rotina é árdua e gratificante. Hoje não pretendo seguir nela, pois me demanda dedicação exclusiva. Acho que dei minha contribuição. Agora me mantenho ativa, consumindo o produto que vendo (esportes) e encarando com amadorismo a rotina de treinos. Entenda amadorismo como amar o que faço.

A pentatleta Yane Marques conquistou a medalha de ouro no pentatlo moderno, em Toronto, em 2015 – Foto: Sergio Dutti/Exemplus/COB

Qual foi a competição que mais lhe marcou?

Tenho algumas bem marcantes, mas a principal, sem dúvida, foi a Olimpíada de Londres em 2012. Ali eu atingi o ápice da minha carreira e realizei o maior sonho da minha vida. O sonho de todo atleta no mundo: o sonho da medalha olímpica.

Quais os seus objetivos na Secretaria de Esportes?

O convite para assumir como secretária-executiva de Esportes na Prefeitura do Recife  surgiu, acredito, após eu defender um discurso de que pretendia contribuir com o esporte de alguma maneira. Depois de ter a vida transformada com a escolha de ser atleta, eu pretendo levar essa oportunidade para muitos jovens. Isso eu falei bastante nas entrevistas e talvez tenha acendido uma luz de alerta para o prefeito, numa proposta de colocar alguém da área e que viveu o esporte para tocar essa pasta. O meu trabalho está sendo muito enriquecedor. Tenho aprendido muita coisa diariamente na Prefeitura. Eu e minha equipe estamos tentando trazer uma intervenção bem técnica ao que tange os esportes no Recife. Estamos trazendo propostas de esportes de participação, de rendimento e educacional com a meta de transformar vidas. Seja mudar a rotina de um sedentário ou garimpar talentos.

Yane Marques em cerimônia de premiação em Londres, em agosto de 2012 – Foto: Valterci Santos/AGIF/COB

E os desafios?

Conseguir colocar em prática todas as ideias que estão na minha cabeça. Muita coisa, muita vontade e um sonho. Nos falamos novamente em 2020 e faremos esse balanço. Claro que nos falaremos antes, não é? Mas me cobre. Recife terá outro olhar para os esportes na nossa passagem.

Como você pretende conciliar o ofício na Prefeitura e a vida de atleta? Pretende se aposentar dos esportes?

Eu estou conciliando bem. Treino diariamente das 4h30 às 7h15 e vou trabalhar. De segunda a sábado está sendo assim. Faço dois treinos diariamente e aos finais de semana aproveito a vida de uma pessoa normal que não mais precisa descansar para suportar a carga de treinos da semana seguinte.

Yane à frente da delegação brasileira na abertura do Rio 2016 – Crédito: TV Globo/Divulgação

Quais são seus próximos projetos?

Estou 100% dedicada a essa nossa missão. Eu tenho um monte de coisa para fazer andar dos nossos projetos aqui dentro. Mas, desafios maiores existem. Quero passar 4 anos e deixar um legado.

Author: Júlia Molinari

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