Deby Brennand revela detalhes do processo de captação de filme sobre Frei Damião

Deby Brennand revela detalhes do processo de captação de filme sobre Frei Damião

Deby Brennand é cineasta pernambucana e neta de Francisco Brennand – Crédito: Juliana Leitao/DP

Cineasta pernambucana e neta de um ícone artístico do estado, Débora Brennand segue os passos do seu avô Francisco Brennand.  O que eles têm em comum profissionalmente é justamente a arte. A mágica de criar algo na mente – ou no papel – e trazê-la à vida. Deby começou sua trajetória em 1998. “Não fui eu que escolhi. As coisas foram acontecendo”, relata a recifense. Quando jovem, ela tentou trilhar o caminho profissional no ramo da publicidade, mas se decepcionou com a profissão e surgiu a oportunidade de ingressar na produção de cinema. As chances foram aparecendo ao longo do trajeto, até se deparar com um estágio em que trabalhava diretamente com roteiro e direção. “E aí eu me encontrei. Depois disso, eu não parei mais. Saiu um treco de dentro de mim que eu comecei a escrever e estou aqui”, brinca.

Vozes do Araguaia, de sua direção, foi indicado ao Emmy 2011 – Crédito: Reprodução / Academia Brasileira de Cinema

Deby conta que apesar do apoio dos seus pais e do avô, o suporte não era tão fácil assim. “Era muito distante da nossa realidade uma mulher nordestina fazendo cinema”, explica a cineasta. Atualmente, ela coleciona curtas, um longa e uma indicação ao Grammy no seu currículo e acredita que sua marca registrada é a delicadeza: “A maioria das minhas produções são bem femininas. Não é nem a feminilidade, é a delicadeza. Quando você assiste a qualquer filme meu, pode ver, está ela lá. A simplicidade”.

Deby aposta na delicadeza e simplicidade em suas produções – Crédito: Nando Chiappetta/DP

Dona de riso frouxo, Deby é tímida e não gosta de aparecer em frente ao público. O negócio dela é ficar atrás das câmeras. “Eu gosto muito de lidar com gente, apesar de não gostar de aparecer. Gente de verdade, gente simples. Que estão aí no dia-a-dia”, afirma. Para a pernambucana, o trabalho mais difícil, até então, como cineasta, foi roteirizar o documentário sobre sua avó, Débora Brennand. “Vovó tinha um potencial que a gente nem imaginava”, pontua. “Foi super difícil. Era uma pessoa muito próxima, que eu amava. E foi muito especial porque eu desenvolvi uma relação mais profunda com ela do que eu já tinha. De artista pra artista”. Na 20ª edição do Cine PE , o seu primeiro longa, Danado de Bom, conquistou quatro troféus Calunga: Melhor Filme, Fotografia, Montagem e Edição de Som. Na tela, o documentário acompanha o Mestre João Silva, grande compositor e parceiro de Luiz Gonzaga, em uma viagem pelo sertão até sua cidade natal, Arcoverde, em Pernambuco.

Débora Brennand está produzindo um documentário sobre Frei Damião – Crédito: Juliana Leitão / DP

Em fase de captação, Deby está com um novo desafio: dirigir um documentário sobre Frei Damião de Bozzano, um frade italiano radicado no Brasil, em Pernambuco,  que passou a vida realizando missões e ocupou-se em disseminar as santas missões pelo interior do Nordeste. ” O roteiro é de Nadja Bezerra e estamos criando juntas. Tem uns limites, por conta de orçamento, mas o pessoal da produtora está me dando toda liberdade criativa. Na verdade, iremos focar no homem Frei Damião. A história dele como pessoa, não só no mito. Queremos que as pessoas conheçam o lado humano dele e de onde veio”, explicou. Em entrevista exclusiva ao Blog João Alberto, a cineasta relata detalhes da trajetória. Confira:

Por que trabalhar com cinema?

Na verdade, não fui eu que escolhi. As coisas foram acontecendo. Eu trabalhava com publicidade, desde que eu entrei na faculdade. Depois, fiz uns trabalhos e fui chamada pra trabalhar em uma agência em São Paulo, aos 20 anos. Depois de um tempo, fiquei meio decepcionada com a profissão. Sabe quando você quer criar tudo, mas você tem que criar coisas que você não acredita? Eu tinha interesse em ver o outro lado da moeda, a produção. Eu tenho uma grande amiga da família, Malu Viana. Pedi pra estagiar na produtora dela em São Paulo. Ela me colocou para fazer roteiro, assistência de direção com as diretoras. Um dia, Malu teve um projeto para escrever um documentário sobre minha avó, Débora Brennand, que era poeta. Entrei nos cursos de desenvolvimento de roteiro, focada em TV.

Terminou que eu mesma escrevi com ajuda de uma colega. Seria, na verdade, uma coisa veiculada na TV. E aí depois de dois anos, ganhamos o edital da Petrobras, em 2004. Vovó tinha um potencial que a gente nem imaginava. Quando ganhamos, eles deram a ideia de fazer a produção para cinema também. Fizemos. Usávamos câmera digital, tínhamos tudo. Mas tudo tava começando, não era tão disponível. “Agora você vai ter que dirigir”, Malu me disse. Eu me cerquei de bons profissionais e foi aí que me encontrei. Depois disso, eu não parei mais. Saiu um treco de dentro de mim que eu comecei a escrever e estou aqui. Fiz curtas, fui para os festivais, até que comecei a fazer o meu último projeto, o longa Danado de bom.

Deby Brennand e o músico João Silva, personagem de Danado de Bom – Crédito: Mariola Filmes / Divulgação

O que mais chama atenção neste processo?

Sempre escrevi e gosto de escrever, meus curtas foram muito autorais. Já dirigi, que pouca gente sabe, para a Globo, em 2010. Foi um produto transmídia, tanto na TV,  cinema, quanto na internet,  o Vozes do Araguaia. Eu dirigi e eles contrataram minha produtora para produzir. Fomos indicadas ao Emmy 2011. A parte mais difícil de ser cineasta, com certeza, é a captação de recursos. Demora muito. Foram quase 10 anos pro Danado de bom sair. Isso é muito difícil. Mas, ver o filme pronto, sem dúvidas, é a melhor parte do ofício. Você esquece de tudo. Não gosto muito de ir pra lançamento. Não gosto muito de aparecer, gosto de ficar atrás das câmeras. Eu sou um bicho do mato (risos).

Você sempre contou com o apoio de familiares e amigos na carreira?

No começo, mais ou menos. Porque era muito distante da nossa realidade. Uma mulher nordestina fazendo cinema. Mas sempre tive o apoio dos meus pais. Principalmente de vovô. Quando fiz o filme de vovó, assim que lançou, foi incrível. No filme dele, ajudei Mariana, neta de Cornélio. Fiz assistência e direção para ela. Também ajudei no roteiro e na pesquisa. Eu acho que a maioria das minhas produções são bem femininas. Não é nem a feminilidade, é a delicadeza. Quando você assiste a qualquer filme meu, pode ver, está ela lá. A simplicidade.

Quais os festivais de cinema que já participou?

São muitos e cada um tem sua vida. Um que é muito especial para mim é o Femina, no Rio de Janeiro. Sempre recebeu todos os meus filmes. É um festival muito legal. 

Qual produção mais te marcou?

O filme de vovó (Débora Brennand), porque foi superdifícil. Era uma pessoa muito próxima, que eu amava. E foi muito especial porque eu desenvolvi uma relação mais profunda com ela do que eu já tinha. De artista pra artista, de mulher mesmo. Sinceramente, todos são marcantes. Eu gosto muito de lidar com gente, apesar de não gostar de aparecer. Gente de verdade, gente simples. 

O cinema pernambucano se consolidou em torno de filmes autorais feitos com olhar sensível, que exploram questões nacionais e universais, conquistando holofotes mundo afora.Enquanto cineasta pernambucana, como você enxerga este momento? E como você avalia o futuro do cinema pernambucano?

João Vieira Jr, produtor pernambucano disse que “o cinema de Pernambuco é, acima de tudo, um cinema brasileiro que quer dialogar não só com o estado, mas com o país e com o mundo, sem perder o DNA nordestino”. Eu vejo e sinto exatamente assim. Durante muito tempo pelas dificuldades de patrocínio que sempre foi mais concentrado na região sul e sudeste, nós tivemos que nos reinventar, fazer produções com o mínimo de recursos e com muita criatividade pra suprir isso. Essa é uma escola que, apesar de ser mais difícil o caminho, enriquece muito o aprendizado. Ter que fazer funções diferentes em situações inusitadas, estimula muito a criatividade e o conhecimento. Hoje estamos vivendo um bom momento. A participação do Estado incentivando o audiovisual, colabora muito pra que as produções sejam realizadas. E temos boas produções a caminho.

No momento, como está a produção do documentário sobre Frei Damião? 

A gente está naquela fase de captação. Eu estou aguardando. Mas o conteúdo em si é surpresa. Não é um documentário autoral, eu fui contratada. O roteiro é de Nadja Bezerra e estamos criando juntas. Tem uns limites, por conta de orçamento, mas o pessoal da produtora está me dando toda liberdade criativa. Na verdade, iremos focar no homem Frei Damião. A história dele como pessoa, não só no mito. Queremos que as pessoas conheçam o lado humano dele e de onde veio. 

Quais são os seus próximos projetos?

Estou desenvolvendo um outro lado em mim. Eu esto trabalhando com design virtual, produção 3D, por enquanto. Hoje em dia, na publicidade, nos games, em tudo, essas coisas que a gente vê na TV, são feitas em 3D. Cinema vai ser uma coisa que sempre vou fazer, pontualmente. E isso tem a ver com cinema também, faço cinema desse jeito. Só não vai para o telão, vai para game,arquiteto, para publicidade. Gosto muito dessa área de decoração também.

Tem algum sonho como cineasta que você ainda pretende realizar?

Tem. Eu tenho um filme que eu escrevi, uma ficção. É sobre a história do meu avô e da minha avó. Eu quero fazer esse filme no futuro. Nem comecei a pensar ainda, quero estar mais madura. É uma história muito massa. Tem um diário que ele escreveu e deu pra mim e está guardado a sete chaves. Digamos que eu tenho um meio caminho andado dessa história, já comecei. Penso em fazer e vai ser o filme mais importante de todos. Mas é aquela coisa: coisas surgem, são muito dinâmicas. Não esperava. É um exercício. Elas vão acontecendo e não sabemos qual vai ser o filme da sua vida. De repente, vai que acordo com uma história pronta.

 

Author: Júlia Molinari

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