Das competições para os treinamentos juvenis: Cisiane Dutra assume a coordenação do programa Recife Esportes de Rendimento

Das competições para os treinamentos juvenis: Cisiane Dutra assume a coordenação do programa Recife Esportes de Rendimento

O que começou como uma brincadeira e curiosidade, em meio ao campo de futebol da Faculdade de Odontologia de Aldeia, tornou-se a realização de um grande sonho olímpico. Cisiane Dutra, pernambucana, atleta da marcha atlética, com participação em três Jogos Panamericanos, quatro Copas do Mundo de marcha atlética, um Campeonato Mundial de Atletismo. Cinco vezes campeã do Troféu Brasil de Atletismo e campeã da Copa Brasil de Marcha Atlética. Terceira colocada no Ibero Americano, campeã sul-americana e participante dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Esses são alguns dos títulos colecionados pela recifense que conquistou o mundo através do esporte.

Cisiane Dultra é atleta da Seleção Brasileira desde o ano de 1998, totalizando 36 seleções em seu currículo – Crédito: Divulgação

Aos 11 anos, despretensiosamente, conheceu a modalidade que viria a transformar sua vida. Foi nas aulas de educação física, na Escola Professor Nelson Chaves, que ela conheceu o atletismo. Sua professora, Elisabete Medeiros, desenvolvia treinamentos para aqueles que tivessem interesse em praticar o esporte e, a partir daí, recebeu o convite sugerindo sua participação nos treinos, ao lado de seus irmãos. Sem apoio financeiro, Cisiane e sua irmã, Priscila Dutra,  conseguiram se destacar após ganharem uma bolsa de estudos no antigo Colégio CPI. Mesmo com o benefício estudantil, seus pais,  Pedro Lima Lopes e Maria Edna Dultra Lopes, não tinham condições de arcar com as despesas de fardamentos e materiais solicitados pela escola particular. Foi graças à colaboração financeira de sua professora e primeira treinadora que ela conseguiu permanecer e ganhar espaço entre os competidores.

“No início eu ia para as competições no Santos Dumont de van ou ônibus ou até mesmo na caçamba do caminhão. Nossas premiações não eram troféus e medalhas, mas sim pirulitos e pipocas”, declarou a campeã nacional, ao relembrar sua infância.

Pentacampeã do Troféu Brasil de Atletismo nos anos de 2003, 2006, 2007, 2008 e 2010 – Credito: Ana Paula Santos/DP

Atualmente, após totalizar 36 seleções em seu currículo, a atleta dedica-se a novos projetos, entre eles a coordenação do programa Recife Esportes de Rendimento, onde disponibiliza seu tempo para treinar jovens estimulando a prática dos esportes e a descoberta de novos potenciais atletas da cidade.

Em entrevista ao Blog João Alberto, Cisiane contou os detalhes sobre o convite realizado pela secretária executiva de esportes do Recife, Yane Marques, e ainda explicou a motivação gerada pela vontade de mudar a vida de jovens e crianças por meio da prática esportiva. Confira:

Cisiane Dutra atuando no programa Recife Esportes de Rendimento – Crédito: Inaldo Lins/PCR

Como você encara a nova missão à frente da coordenação do programa Recife Esportes de Rendimento?

Eu encaro como um mais um desafio em minha vida, mas estou preparada. Minhas expectativas é realmente de estar transformando a vida dessas crianças, formando novos campeões. Espero um dia poder vê-los como campeões nacionais e até internacionais. Para mim está sendo maravilhoso, apesar de ser algo novo. Até então, eu só tinha experiência como atleta, já vivi um pouquinho como treinadora, trabalhando em outro projeto, mas tudo para mim agora é novo. Estou adorando. 

Como as crianças estão reagindo ao novo projeto? E os treinos?

De início, nós estamos realizando visitas nas escolas para chamar as crianças e o que conseguimos perceber é que elas não tinham muito entendimento do que era a palavra atletismo. Quando se chegava lá e colocava o cartaz escrito, convidando-os para realizar o atletismo, eles não sabiam o que iriam fazer no treino. Começamos a apresentar demonstrações, com aulinhas práticas e eles ficaram encantados. O projeto começou oficialmente no dia 7 deste mês e o que já consigo perceber é que elas estão surpresas e gostando muito. 

Esse projeto acontece toda terça e quinta, no Parque da Macaxeira, durante as manhãs e tardes. Começa a partir das 7h30 até às 10h e das 14h30 até as 17h. Começamos com alongamentos, conversas, brincadeiras. Em seguida, partimos para a parte de coordenação, realizando a parte principal do treino. 

Atualmente o projeto funciona com duas vertentes: o vôlei de praia e a escolinha de Atletismo – Crédito: Inaldo Lins/PCR

Qual o objetivo principal do Programa Recife Esportes de Rendimento?

Formar novos atletas e futuros campeões estaduais, regionais, nacionais e internacionais.

Qual é o principal desafio de assumir um cargo de liderança fora das competições?

Adaptar a nova rotina e também de mostrar que tenho outras habilidades e competências além das pistas.

Como surgiu o convite para assumir o cargo na prefeitura? 

O convite surgiu após uma bate-papo com Yane Marques. Eu já havia comentado com ela sobre a minha vontade de fazer a transição de atleta. Depois, surgiu a oportunidade e ela me convidou. 

Os treinos de Atletismo acontecem nas terças e sexta-feiras, nos parques de Caiara e da Macaxeira- Crédito: Inaldo Lins/PCR

 A que atribui seu bom desempenho no esporte?

À toda minha dedicação nos treinamentos e perseverança de não desistir mesmo quando tudo parecia perdido, em saber lidar com as situações difíceis. Tive todo apoio dos meus treinadores, fisioterapeutas e toda equipe que está por trás (nos bastidores). E claro, minha família por todo suporte e compreensão.

Como é a preparação física para se tornar um bom atleta na marcha atlética?

 Como qualquer prova de resistência, treinar a marcha atlética não é algo muito fácil. Temos muitos treinos de rodagem (vários km) e também treinos intervalados, tentamos variar ao máximo os estímulos e os locais de treinamento para não cair na rotina e não ficar tão monótono os treinos. 

Recordista brasileira nos 20.000m Marcha pista – Crédito: Divulgação

Com o novo cargo na Prefeitura do Recife, como será a sua rotina?

 Confesso que ainda estou adaptando minha rotina. Antes, eu deixava meu filho na escola, treinava, buscava ele na aula, voltava para casa, almoçava e dormia para treinar durante a tarde. Atualmente, tenho que levar o filho na escola, treinar as crianças do projeto, elaborar meus treinos, trabalhar, cuidar da casa…

Qual a maior dificuldade que enfrentou nos anos de competição?

 Minhas maiores dificuldades foram no início de minha carreira, quando ainda não tinha nenhum apoio. Minha professora chegava a me dar os vales para que eu pudesse ir aos treinamentos e quando fui campeã brasileira, pela primeira vez consegui um apoio de R$ 75  e uma cesta básica. No início, foi muito difícil me manter no esporte, mas graças a Deus as coisas foram melhorando e com o passar dos tempos os apoios foram aparecendo, hoje não tenho o que reclamar e faria tudo de novo. Espero que os jovens de hoje aproveitem todas as oportunidades que estão sendo dada a eles.

Você tem algum acompanhamento físico para a prática da marcha atlética?

 Tenho sim. Conto com a ajuda do meu treinador e de dois profissionais que cuidam do meu treino de força, inclusive um deles está me auxiliando neste projeto.

Hexa Campeã da Copa Brasil de Marcha Atlética nos anos de 2006, 2011, 2013, 2014, 2015 e 2016 – Crédito: Divulgação

Como você avalia a prática da marcha atlética no estado? E a estrutura?

O estado está formando grandes marchadores. A nossa estrutura para treinamento não deixa a desejar: temos o Santos Dumont e o Parque do Caiara como opções para fazer os treinos em pista sintética e os Parques da Jaqueira e da Macaxeira para fazer os treinos contínuos, além das de outros locais.

Como funciona os bastidores de grandes competições? 

Os bastidores são a melhor parte que existe. É neste momento que fazemos amizades e trocamos experiências. 

Além do Programa Recife Esportes de Rendimento, teria algum outro projeto que queira desenvolver?

Gosto muito de trabalhar com crianças e meu sonho sempre foi poder devolver um pouco daquilo que o esporte me deu. Com esse projeto, eu posso fazer isso e me sinto realizada, mas gostaria que ele acontecesse também em outras prefeituras, em especial a de Camaragibe, onde eu treinava quando era criança. Queria poder transformar a vida dos jovens do bairro onde fui criada e que meus pais moram até hoje.

 

Author: Eduarda Andrade

Compartilhe este post