Programa Mãe Coruja Recife: “Posso ver como meu trabalho muda a realidade de uma família”, diz Cláudia Soares

Programa Mãe Coruja Recife: “Posso ver como meu trabalho muda a realidade de uma família”, diz Cláudia Soares

Claúdia Soares, coordenadora do projeto Mãe Coruja – Crédito: Shilton Araujo/Esp.DP

Uma mulher de pulso firme e coração enorme. Essa é Cláudia Soares, 38 anos, enfermeira, mãe de Beatriz (10) e Caio (2). Há um ano coordenando uma das ações sociais de maior alcance no Recife, ela é uma das responsáveis pelo funcionamento do projeto Mãe Coruja, um programa de assistência à mulher gestante e seus filhos, do pré- natal até os 5 anos de vida, que tem como objetivo resgatá-los da vulnerabilidade social através da educação, assistência médica e psicológica.

No dia a dia, Cláudia divide seu tempo entre o acompanhamento dos 10 espaços oferecidos pelo projeto, através de visitas e atividades, além de administrar burocraticamente uma parceria com cinco secretarias locais.

O critério de escolha dos bairros acolhidos pelo projeto diz respeito àqueles em condições precárias. Na maioria das vezes, são mulheres que se dividem entre cuidar dos filhos e da casa, mantendo um trabalho informal que lhe oferece um valor mínimo, porém imediato. Mães que não desejaram, nem muito menos planejaram a maternidade, violentadas de forma física e psicológica.

Mulheres atendidas pelo Mãe Coruja na 1ª oficina do Projeto Geração Afeto – Crédito: Inaldo Lins/PCR

Nem mesmo as tamanhas dificuldades e a dura realidade tira o brilho no olhar da Cláudia. Ela admite: uma de suas maiores felicidades é poder ver essas vidas sendo transformadas e por isso dedica-se tanto a ensiná-las sobre o vínculo afetivo ocasionado por uma gestação. Através de palestras e dinâmicas, o projeto ensina mulheres sobre os assuntos mais diversos, desde a formação do feto até a necessidade do empoderamento feminino e familiar para que assim encontrem, na dor e no amor, uma forma linda de lutar.

“Tenho certeza que é encantador, temos muitas histórias lindas de mudanças de vida. Amo o Mãe Coruja, pois posso ver como meu trabalho muda a realidade de uma família, proporcionando cursos, educação, saúde… Escutar uma mulher que mudou a vida através de nós, me engrandece muito como pessoa, saber que ajudei essa família a sair da situação de vulnerabilidade. Como mãe, me sinto encantada, falar sobre formação de vínculo materno é algo que me transborda, uma troca de experiências muito grande, daquilo que desejamos de mulher para mulher”, confessou a coordenadora do Mãe Coruja.

Lucas César foi o primeiro bebê acompanhado pelo Mãe Coruja – Crédito: Inaldo Menezes/PCR

O amor pelo que faz não nega a dificuldade ao tentar não se envolver emocionalmente. Ao contar uma das inúmeras histórias marcantes, sobre uma mãe, moradora do bairro de Torrões, que precisou desligar seus sentimentos mediante o sofrimento já passado, Cláudia se emociona.

“Ela tinha cinco filhos, o primeiro era um adolescente, o do meio era altista e os trigêmeos nasceram com deficiência auditiva e visual. Ela era desligada do mundo para poder aguentar a dura realidade. Hoje, seus filhos têm creche garantida, nós os acompanhamos. Até o pai fez parte do processo e agora os traz, na carroça de sua bicicleta, em busca de uma vida melhor”, contou Cláudia.

Não só o Mãe Coruja que lhe aflora a maternidade. Beatriz, sua filha mais velha, apresentou-lhe a primeira experiência de um amor incondicional. Aos 28 anos, ela e o marido Bruno acreditaram que estava na hora de aumentar a família. Apesar de sua gestação complicada, Beatriz chegou ao mundo com 36 semanas transbordando saúde.

Cláudia e seus dois filhos, Beatriz e Caio – Crédito: Arquivo Pessoal

Dona de uma personalidade forte, tornou-se melhor amiga da mãe. Cláudia afirma: é uma líder nata. Na escola, chama atenção dos coleguinhas e professoras por sempre ter um ponto de vista cheio de opiniões. Juntas, passeiam no shopping, assistem novelas infantis, trocam experiências sobre maquiagem, cabelo e todo o universo feminino.

Já Caio, o caçula, chegou oito anos depois. Devido às dificuldades no parto da primogênita, Cláudia acreditou que não teria outro filho, mas com o passar dos anos viu que não queria deixá-la sozinha e brinca que a maternidade deveria começar pelo segundo bebê, porque as “noias” não existem mais. Assim como a irmã, também possui uma personalidade forte e extremamente trelosa.

A maternidade mudou a vida de Claudia e como forma de agradecimento a tantas bênçãos, ela faz questão de transformar a vida daquelas mulheres no Programa Mãe Coruja Recife. No trabalho e em casa, sua personalidade transparece inspiração e não nega que apesar de amar o que faz, o melhor momento de seu dia é quando está ao lado dos seus filhos, marido e pais. “É muito difícil criar e educar, ensinar e aprender com os filhos, mas, sem dúvidas, foi meu maior presente”. 

Author: Eduarda Andrade

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