“Sempre tive que me afirmar e saber me colocar como mulher, nordestina e artista”, confessa Joana Lira

Artista gráfica pernambucana. Essa é Joana Lira, que há 19 anos mora em São Paulo. “Sempre tive que me afirmar como artista. Mais do que isso. Sempre tive que me afirmar e saber me colocar como mulher, nordestina e artista”. Durante muitos anos Joana assinou a decoração do Carnaval do Recife. Além deste projeto, alguns de seus trabalhos mais conhecidos, aplicados em produtos e materiais de comunicação, são ONU, L’Occitane, Folha de São Paulo, TOK&STOK, Governo do Estado de São Paulo e outros.

Em 1997, realizou, no Recife, sua primeira exposição individual, intitulada Bichos Aloprados. E ao lembrar dela, Joana diz ter muito orgulho. Além disso, a pernambucana já participou de exibições coletivas como Design Brasileiro Hoje: Fronteiras, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2010, Design para todos, na V Bienal Brasileira de Design, em Florianópolis, no ano de 2015, Aparelhamento, na FUNARTE, em 2016, em São Paulo.

No quesito premiações, Joana já recebeu o Pearl Awards, em Nova York, na categoria Best Use of Ilustration, com a ilustração da capa da revista Audi, já recebeu um troféu de destaque na 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico. Em grupo, a artista plástica e a equipe da L’Occitane au Brésil conquistou o primeiro lugar no Prêmio ABRE, da Associação Brasileira de Embalagem, com as linhas Olinda e Água de Coco. Ainda em 2016, a pernambucana foi convidada para participar da 5ª Bienal Iberoamericana de Diseño, em Madri, com a estampa Casario, criada para uma linha de produtos da Tok&Stok.

Crédito: Reprodução/Instagram

Como surgiu o convite para assinar a exposição Quando a Vida é uma Euforia, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo?

É um projeto de exposição sobre o carnaval pernambucano a partir do meu trabalho gráfico com o carnaval. Foi idealizado por mim e pela curadora Mamé Shimabukuro, desde 2012. E nossa ideia sempre foi viajar o Brasil. Procuramos o Instituto Tomie Ohtake, em 2015, para receber a mostra em São Paulo e iniciar todo este ciclo. Nosso próximo destino é Recife.

Exposição – Quando a vida é uma euforia. Crédito: Everton Ballardin

Como foi a repercussão dos visitantes da mostra? 

Foi surpreendente. Recebemos mais de 20 mil visitantes em 40 dias de exposição. Nosso maior objetivo era envolver o visitante a ser parte da exposição e não apenas um expectador. E conseguimos ver a força da mostra já na abertura com cerca de 600 pessoas totalmente imersas, emocionadas, dançando ciranda, como uma grande festa, como é o nosso carnaval. 

O que te levou a fazer trabalhos que resgatam as tradições do Carnaval?

O amor, o orgulho e a admiração que tenho por nossa festa, que pra mim é religião.

Decoração do carnaval de Recife de 2009 feita por Joana Lira. Crédito: Joana Lira/Divulgação

De onde vem a inspiração para inovar sempre e não ser repetitiva ao longo dos anos?

Inovar linguagem é um trabalho duro de aprofundamento, amadurecimento, busca de referências e estudos incessantes. É bem angustiante. Sempre acho que criar uma linguagem gráfica madura e forte é bem difícil, mas mais dureza ainda é se desvencilhar dela e criar algo realmente inovador. Este é meu drama como artista. 

Quais são as suas referências no mundo das artes?

Tenho muitas referências. Nem caberia dizer aqui, pois o mundo das artes é algo tão amplo e atualmente com as redes sociais tenho conhecido e seguido tanta gente nova que terminam também virando referência, assim como outros artistas mais clássicos.

O seu traço é bem definido. Como chegou a criar sua identidade pessoal e como define seu processo criativo?

Identidade é algo que vai sendo aprimorada com a prática ao longo do tempo com a trajetória artística. O que posso dizer é que sempre fui muito atenta a isso. E meu processo criativo sempre é iniciado com pesquisas, seguido de estudo, rabiscos, anotações e depois muita mão na massa pra amadurecer o bolo criativo.

Crédito: Reprodução/Instagram

Quando você entrou neste ramo sofreu preconceito?

De certa forma sim, porque o preconceito se mostra de forma muito sutil. Sempre tive que me afirmar como artista. Mais do que isso. Sempre tive que me afirmar e saber me colocar como mulher, nordestina e artista.

Filha de pai arquiteto renomado e colecionador de arte e mãe arquiteta e designer têxtil, sua família influencia de alguma forma no seu trabalho?

Sim. Sempre influenciou e sou muito grata a meus pais. Meu trabalho é totalmente fruto desta criação e da influência direta que tive deles.

No universo das artes gráficas, existe preconceito com as mulheres?

Existe preconceito com as mulheres em todas as áreas. Temos que nos mostrar guerreiras 24 horas por dia. Isso é muito cansativo.

Qual é a sensação ao lembrar de sua primeira exposição atualmente?

Orgulho. 

Como surgiu o convite para criar a primeira campanha para uma marca nacional?

O trabalho por 10 anos com a cenografia do carnaval do Recife e o fato de morar São Paulo desde 1999, me abriram muitas portas para trabalhar com grandes marcas.

Joana Lira desenvolveu a ilustração da linha Olinda de viver, da L’Occitane. Crédito: Reprodução/Instagram

Você já assinou diversas parcerias com marcas nacionais. Tem alguma em especial que mais curtiu fazer? Já tem algum lançamento previsto?

Tenho a sorte de ter uma ótima relação com todos. Em geral, me dão muita liberdade. Claro que tenho xodó sim por alguns parceiros. Principalmente os que estou há mais tempo, mas seria indelicado com os outros eu citar. 

Exposição – Quando a vida é uma euforia. Crédito: Everton Ballardin

Quais são seus novos projetos?

Provavelmente, no segundo semestre deste ano, lançarei novas coleções de produtos com a Tok&Stok. Estamos em fase de estudos. E estou bem dedicada a prospectar patrocínio para trazer a exposição Quando a vida é uma euforia para Recife em janeiro de 2019, no novo prédio dedicado a exposições temporárias do Museu Cais do Sertão. Um lugar lindíssimo! Deixo um recadinho: Empresas pernambucanas, me apoiem…

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