Pernambucana ressalta importância da inclusão na literatura

Pernambucana ressalta importância da inclusão na literatura

Priscilla Pontes – Créditos: Carolina Soares/Divulgação

A pernambucana Priscilla Pontes notou uma mudança em sua vida quando descobriu que a literatura poderia fazer parte de uma forma diferente na sua trajetória profissional. Acostumada a contar histórias, Priscilla alcançou um dos seus objetivos ao lançar o livro infantil A Pequena Bailarina em outubro de 2019, na Bienal de Pernambuco. A obra conta a história de uma dançarina que tem Síndrome de Down e tem como objetivo mostrar que todos somos capazes de realizar sonhos, independentemente das nossas diferenças e trazer uma reflexão sobre a importância da inclusão e da acessibilidade.

Com um cenário difícil na literatura, principalmente em tempos de pandemia, Priscilla descobriu que o meio digital é um dos melhores veículos para atrair bons resultados, assim como acredita que “é a melhor forma de saber o que o leitor pensa, o que gostaria de ler, e como se comporta em relação aos temas abordados. É o futuro.” Em entrevista ao Blog João Alberto, a autora contou o que a motivou e as mudanças que ocorreram após a publicação da obra.

O que te motivou a escrever a história de uma personagem com síndrome de down?
A motivação é justamente promover a acessibilidade e perceber que a Síndrome de Down não define as pessoas. Elas são totalmente capazes de construir seus futuros da forma que desejarem.

Amanda (Única bailarina com Síndrome de Down do Norte e Nordeste a dançar com ponta) e Priscilla Pontes – Créditos: Divulgação

Algum autor influenciou você a escrever sobre o tema ou você conheceu alguma história que te levou a criar a obra?
Vários autores me influenciaram e continuam a me influenciar na escrita, mas tem uma garota maravilhosa e incrível, no início não a conhecia, só a vi dançar, e daí surgiu a história. Hoje em dia, tenho o prazer de chamá-la de amiga, Amanda Lima, que é a primeira bailarina com síndrome de down a dançar com sapatilha de ponta do Norte/Nordeste do Brasil. Uma menina incrível, maravilhosa. Ela é minha Marina (nome da personagem principal do livro A Pequena Bailarina) da vida real.

A autora Priscilla Pontes autografando a sua primeira obra, A Pequena Bailarina – Créditos: Thiago Barros/Divulgação

Você teve o reconhecimento do público com Síndrome de Down? Se sim, como foi conhecer cada um e quais mensagens recebidas te fizeram ter a certeza de continuar?
Tive sim. Foi maravilhoso, conheci fotógrafos, cozinheiros, dançarinos, pintores e outros. Muitos se tornaram meus amigos e me incentivaram a continuar, principalmente as mães, que são as grandes incentivadoras dos seus filhos.

Qual a mensagem mais impactante que você recebeu de um leitor?
Um pai me mandou um vídeo, em que a sua filha estava lendo o meu livro para os seus colegas de sala. No final, ela, como se fosse uma adulta, falava: “O que a autora quer passar é que precisamos respeitar os nossos coleguinhas, porque todos somos capazes”. Na mesma mensagem, ele me contou que ela queria ler os livros todos os dias na escola. Outra mensagem foi de uma bailarina com síndrome de Down. Ela se apresentou para mim com uma dança, e falou que o livro é a história da vida dela, depois me deu um baita de um abraço.

Com todo esse reconhecimento, você imagina um leitor ideal para os seus livros ou espera um público em geral?
Não existe leitor ideal. O livro é um meio de fazer com que qualquer pessoa, independente da sua idade, reflita sobre acreditarmos em nós mesmos, para conseguir realizar determinada conquista. Queremos ajudar pessoas de todas as idades a compreender as suas necessidades, a ter empatia, aceitar o outro e a refletir sobre a inclusão e acessibilidade.

A escrita às vezes pode ser um processo doloroso. Tanto com o tema que queremos abordar ou o que pretendemos alcançar com ela. Como foi para você criar esta história? Superou suas expectativas?
Criar a história foi fascinante, eu costumo contar histórias e criar para as crianças. O enredo surgiu em meio a uma contação dessas. O livro superou todas as minhas expectativas e foi muito além do que eu imaginava. No início, era só para minha família e amigos, mas quando recebi o convite de lançar na Bienal de Pernambuco e Maceió, foi… Uauuuuuuuu! (Risos). Hoje, já tem tanta gente, pessoas de Curitiba, Fortaleza, João Pessoa, amigos de Portugal, Austrália. Teve Ong’s de São Paulo e Rio que compraram para abordar a temática com as crianças de lá. O que me deixou muito feliz. Um plano que era só para a família, foi muito além das minhas expectativas. O meu segundo livro ‘ A Fada Roqueira’, irei lançar na Bienal de São Paulo, está sendo incrível.

Como você descobriu que poderia alcançar pessoas através da escrita?
Acredito que posso alcançar as pessoas pela escrita porque a leitura muda a vida das pessoas e mudou a minha. Eu tenho dislexia e TDAH, sempre foi muito difícil ler e me concentrar em leituras grandes. Meu irmão, Micael, me ajudou bastante nisso quando era pequena, ele fez eu me apaixonar pela leitura. Ler, muda pessoas, forma de pensar e ver o mundo. Já falou Mario Quintana “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.

Por que você acha que o leitor deve se importar com o seu livro e a sua abordagem?
Com o livro A Pequena Bailarina, eu pretendi abordar o assunto da deficiência, sob o aspecto de que a pessoa com deficiência pode alcançar seus sonhos, e superar o preconceito da sociedade. A abordagem deve se tornar importante pois é o desejo de que a sociedade reflita que por mais que você tenha alguma limitação, pode superar isto e conseguir os seus objetivos. Principalmente as crianças com deficiência e os pais dessas crianças, para que eles sejam bons condutores e auxiliadores nesse processo de realização.

Qual impacto você acha que seu livro terá no futuro?
Eu espero que através desta história e muitas outras que dão visibilidade a inclusão, eu possa ver muitas bailarinas lindas realizando seus sonhos, como já vi a Marina, mas também, muitos outros artistas, atletas e profissionais. Acredito que a arte é uma ferramenta poderosa para mudar vidas.

Qual o objetivo principal que você tem como escritora?
Ser escritora sempre foi um sonho. Eu quero levar uma mensagem de aceitação e empoderamento a todas as pessoas, sejam elas deficientes ou não. Fazer com que acreditem em seus sonhos assim como eu acredito nos meus.

A autora Priscilla Pontes autografando a sua primeira obra, A Pequena Bailarina – Créditos: Thiago Barros/Divulgação

Como fazer a obra chegar nas mãos de mais leitores e torná-la ainda mais conhecida?
Acredito que as escolas são uma peça-chave na introdução das crianças ao mundo da literatura. Mas não só as escolas, pais e responsáveis têm um papel fundamental no incentivo e promoção à leitura em casa. Casa e escola unidas, podem fazer dessa, uma nação de leitores.

Com este cenário difícil da literatura, o que te inspira a não parar de escrever histórias como esta?
É realmente um cenário difícil, ainda mais nas condições atuais da pandemia, creio que houve grande impacto num setor que já vinha sofrendo perdas, mas por outro lado, o mundo digital está em alta. Acredito que estamos passando por um momento de grandes transformações na forma como as pessoas leem. O que me inspira a não parar é ver a carinhas das crianças lendo meu livro, é uma sensação maravilhosa. Eu fico realizada com isso. É a realização de um sonho e tenho certeza que não vai parar só nesse.

Author: Lívia Rosa

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