“Iniciativas solidárias podem ser um forte caminho para a cidadania”, afirma Fábio Silva, da ONG Novo Jeito

Fábio Silva - Crédito: Isly Viana/Divulgação

Fábio Silva – Crédito: Isly Viana/Divulgação

Fábio Silva se tornou uma referência em termos de voluntariado e ações sociais no Recife e no Brasil. O empreendedor é o responsável pela ONG Novo Jeito, pela plataforma Transforma Recife e pelo Porto Social.

Tudo isso começou em 2010, quando as cidades da Mata Sul de Pernambuco foram atingidas por uma grande cheia. Tocado pela tragédia, Fábio mobilizou amigos para arrecadar colchões para a população atingida e, a partir daí, a Novo Jeito nasceu. Hoje, a ONG trabalha com diversas ações em hospitais, abrigos, áreas de risco do sertão nordestino, creches e vários outros espaços. A Novo Jeito também é a responsável pela ação MaisAmor que acontece no último dia de cada ano, distribuindo flores e abraços pelas ruas do Recife e em mais 20 cidades do país.

Voluntários trabalham todos os dias no galpão onde estão sendo arrecadadas as doações - Crédito: Reprodução/Instagram

Voluntários trabalham todos os dias no galpão onde estão sendo arrecadadas as doações – Crédito: Reprodução/Instagram

A partir daí, Fábio começou a se engajar ainda mais nos movimentos sociais. O Porto Social surgiu “para ajudar quem ajuda os outros”, como uma incubadora de projetos sociais. No Porto, os empreendedores sociais podem criar um plano de gestão e desenvolver melhor seus projetos, através de mentorias, cursos, coworking e dias de imersão. Já o Transforma Recife une instituições e voluntários, somando mais de 715 mil horas de trabalhos voluntários.

Sete anos depois da primeira ação da Novo Jeito, as cidades da Mata Sul de Pernambuco foram novamente atingidas por fortes chuvas. E, mais uma vez, a ONG se mobilizou para arrecadar doações para as famílias desabrigadas. Este ano, em 10 dias, já foram recebidas mais de 200 toneladas de donativos, entre roupas, alimentos e água. Mais de 2 mil voluntários se engajaram na ação.

Em entrevista para o Blog João Alberto, Fábio Silva contou sobre as ações para ajudar os atingidos pelas chuvas, o trabalho do Porto Social e a importância do voluntariado na sociedade. Confira:

Como foi a ação de ajuda aos atingidos pelas últimas chuvas através do Porto e da Novo Jeito?

Começamos a mobilizar nossos voluntários ainda no domingo, dia 28, pela manhã, quando começaram a chegar as informações sobre os estragos provocados pelas chuvas. Esse assunto nos mobilizou rapidamente porque foi exatamente numa situação parecida que a ONG Novo Jeito nasceu. Em Junho de 2010, durante a última cheia que atingiu as cidades da Mata Sul, um grupo de amigos se mobilizou para arrecadar colchões, água e alimentos. Desta vez, a mobilização foi mais rápida e, no mesmo dia, anunciamos nossos postos de coleta e centenas de voluntários se dispuseram a ajudar.

Qual é o papel do Porto Social e da Novo Jeito na sociedade?

Gerar gentileza e solidariedade. Não foi o povo da Mata Sul que foi atingido pelas cheias. Foi o nosso povo. Poderia ter acontecido com qualquer um de nós, independente de classe social, raça ou endereço. Nosso papel é viabilizar aquilo que já está no coração de muita gente: a disposição para ajudar. A questão é que nem todo mundo sabe onde há pessoas precisando de ajuda e nem onde elas podem ser úteis. Com uma mobilização como essa, todos ficam sabendo quais as necessidades e onde elas devem estar para serem úteis. O que fizemos foi como construir uma ponte, ligando as pessoas solidárias àquelas que precisam de ajuda.

Fábio também foi até as cidades atingidas - Crédito: Natalia Avani/Reprodução/Instagram

Fábio também foi até as cidades atingidas – Crédito: Natalia Avani/Reprodução/Instagram

Como está a mobilização dos voluntários e de doações?

Em apenas dez dias, já arrecadamos quase 200 toneladas de donativos, enviamos para 18 cidades e reunimos quase 2 mil voluntários. Trabalhamos todos os dias das 9h às 22h, tanto no galpão do Porto Social, onde é feita a triagem dos donativos e carregamento dos caminhões, como nas cidades atingidas, acompanhando a entrega dos donativos e levando serviços de limpeza e recuperação de imóveis. É impressionante a disposição dos voluntários para ajudar. A distribuição é feita através de caminhões e ônibus cedidos por empresas, voluntários e prefeituras. Todos os dias são enviados pelo menos 5 caminhões pra várias cidades. As cargas variam entre 5 e 16 toneladas. Enviamos sempre roupas, alimentos, água, produtos de limpeza e colchões.

Você também foi ajudar em algumas cidades. Como está a situação dessas pessoas e dos locais?

A situação é calamitosa. Há famílias que ainda nem tinham se recuperado da última cheia e tiveram que enfrentar a mesma situação novamente. Há crianças sem brinquedos, sem material escolar… Há famílias que perderam tudo o que construíram ao longo da vida, e agora não tem mais nada. A destruição pelas ruas remete a um cenário de guerra. É impossível ver tudo isso e não se sensibilizar para ajudar.

Os voluntários também limparam escolas atingidas pela enchente - Crédito: Natalia Avani/Reprodução/Instagram

Os voluntários também limparam escolas atingidas pela enchente – Crédito: Natalia Avani/Reprodução/Instagram

Como surgiu a ideia do Porto Social?

O Porto Social surgiu para ajudar quem ajuda os outros. É uma incubadora de projetos sociais, que permite que voluntários sejam qualificados para administrar os projetos como se fossem empresas. Assim, eles podem montar um planejamento, relatório de atividades, definir metas, acompanhar resultados.. tudo para que o impacto social que eles já provocam possa ser ampliado. Assim, empresas podem se sentir mais seguras para apoiar os projetos e mais voluntários podem se engajar.

Como é a escolha das empresas e instituições que farão parte do Porto Social?

A cada ano lançamos um edital para selecionar os projetos sociais que serão incubados. No ano passado foram 50, que estão finalizando a incubação agora em junho. Os novos projetos serão anunciados nos próximos dias.

Quais as ações que o Porto Social promove para as empresas?

Ao longo de um ano, os projetos sociais e negócios de impacto social recebem mentorias de gestão, contabilidade, jurídica, comunicação e captação de recursos. Assim, eles conseguem avançar na organização do projeto e ampliar o impacto social que causam nas comunidades. Hoje, os projetos que fazem parte do Porto Social atingem, juntos, cerca de 300 mil pessoas.

Você foi até o Vaticano apresentar ao papa a plataforma Transforma Recife. Como foi o contato? O que você levou para apresentar ao papa?

Apresentamos as iniciativas sociais criadas no Recife: o Novo Jeito, Transforma Recife e Porto Social. Mostramos a ele como o voluntariado é capaz de transformar vidas e contribuir com as políticas públicas das cidades, estados e até dos países. Sugerimos a ele, a criação de uma plataforma global de voluntariado, para que as pessoas do mundo inteiro possam saber onde há necessidade de voluntários pelo mundo. Ele gostou da ideia e prometeu analisá-la com carinho.

Fábio Silva e o prefeito Geraldo Julio apresentaram o Transforma Recife para o Papa Francisco - Crédito: Divulgação

Fábio Silva e o prefeito Geraldo Julio apresentaram o Transforma Recife para o Papa Francisco – Crédito: Divulgação

Quais os novos projetos do Porto Social?

Ainda não finalizamos a seleção. Os novos projetos serão anunciados na segunda quinzena de junho

Como você avalia o sistema de voluntariado no Brasil?

Nos Estados Unidos, 8 em cada 10 pessoas são voluntárias em algum projeto social. No Brasil, acontece exatamente o inverso: apenas 2 em cada 10 pessoas são voluntárias. Com as iniciativas criadas no Recife, pretendemos mudar essa realidade e mostrar para pessoas, empresas e governantes que iniciativas solidárias podem ser um forte caminho para a cidadania e para a felicidade. É o que nos move a continuar tendo esperança num mundo melhor.

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