Literatura da nova era: conheça os autores de textos e poesias digitais

Literatura da nova era: conheça os autores de textos e poesias digitais

Crédito: Reprodução / Árvore de Livros

Entre as artes mais bonitas, a poesia. Desde os séculos passados, as pessoas buscam transmitir os pensamentos e sentimentos pela escrita. Com rima ou não, e diversas estruturas, o que importa é abrir o coração para quem quer que seja. A verdade nos versos e estrofes é a essência de tudo.

Porque poesia é isto: sentir. Sentir o outro, a si mesmo. Se descobrir naquela ferida que você achava que tinha sarado. Ou naquela motivação que você nem sabia que precisava. A palavra é uma arma poderosa e, nas mãos corretas, é um instrumento transformador. Salvador, diríamos. Com isso, os livros sempre foram meios eficazes para que isso acontecesse.

Crédito: Reprodução

Afinal, nada como o cheiro de livro novo, a textura das folhas, viajar em uma história que passa a ser sua… Mas, nos últimos anos, isso mudou. Não que os livros físicos não sejam ainda os preferidos dos leitores. É que a internet passou a ser a casa de muitos escritores. Com a nova geração virtual, houve uma necessidade de adaptação.

Crédito: Reprodução / Openculture

Os consumidores daqueles textos não estão mais apenas nas livrarias. Estão aqui, lendo o que for escrito, através de uma tela. A urgência, a interação, o alcance. Todos esses são alguns dos aspectos que estimulam essa migração. Tudo sendo muito rápido; a capacidade de curtir, comentar e compartilhar; a possibilidade de chegar ao outro lado do mundo com poucos cliques – está aí o porquê do sucesso desse tipo de literatura.

Atualmente, alguns perfis de Instagram, páginas de Facebook e blogs vêm ganhando cada vez mais espaço. E fãs. Os autores utilizam a plataforma para disseminar o seu trabalho e o retorno é imediato. Uma característica inconfundível desse tipo de escrita é a alternativa de ser pequena, curta e simples.

Exemplos de poesias em um formato digital – Crédito: Reprodução / Instagram

Tal formato, pode-se dizer, que foi o que marcou a identidade das poesias digitais. Com microtextos e imagens, geralmente os seguidores são atingidos com mais facilidade. Há, ainda, como serem escritos textos maiores, das mais diversas vertentes – como crônicas, contos, e até desabafos. A intimidade do autor com o leitor se torna ainda mais intensa com todo esse leque de possibilidades.

O retorno financeiro é consequência. A partir do momento que alguém se torna um digital influencer, significa que tem poder de persuasão e inspira confiança em quem o acompanha. Dessa maneira, propostas de trabalhos para além das telas e publicidade passam a ser maneiras de uma rentabilidade.

Pensando nisso, selecionamos os autores digitais mais populares do momento e contamos um pouco da trajetória de cada um. Confira:

João Doederlein (@akapoeta)

João Pedro Doederlein comanda o perfil @akapoeta no Instagram – Crédito: Reprodução / Facebook

Desde os 11 anos, João Pedro Doederlein começou a tomar gosto pela escrita. Aos 14, criou um blog. “A partir daí, eu fui aumentando cada vez mais a vontade de trabalhar com isso, de escrever e ter reconhecimento na internet”, conta. João já passou pelo WordPress e Facebook, disseminando várias ideias. Até chegar à página Contos Mal Contados, aos 16 anos, onde escrevia contos, crônicas e textos. Testou diversos gêneros literários e foi ganhando espaço no mundo virtual. Entretanto, até os 19, não tinha mais de 10 mil curtidas em suas páginas. Foi quando decidiu profissionalizar o seu perfil de Instagram, @akapoeta.

Crédito: Reprodução / Instagram

Foi em 2016, no mês de janeiro, que sua página estourou e teve um crescimento muito grande. De 12 mil curtidas, em pouco mais de um ano e meio, ele passou a ter mais de 550 mil. Hoje, o seu perfil do Instagram conta com 576 mil seguidores. Ele foi testando formatos e se familiarizou com os microtextos, apesar de escrever de tudo um pouco. Em abril deste ano, lançou seu livro Ressignificados. Nele, na abertura de cada capítulo, seus textos maiores estão disponíveis para aí, em seguida, os curtos ressignificados tomarem conta das páginas. “A transição para o livro físico foi um processo extremamente natural. Eu comecei querendo isso, eu nem fazia ideia de como funcionava a internet”, explica o jovem brasiliense. João caiu no gosto de muitos famosos, recentemente Bruna Marquezine ganhou um livro seu de presente, divulgou em suas redes sociais e o alcance foi imenso. O jogador Neymar também, não só leu, como fez questão de divulgar o trabalho do poeta digital.

Matheus Rocha (@neologismos)

Matheus Rocha é o responsável pelo perfil de Instagram @neologismos – Crédito: Reprodução / Facebook

Baiano, Matheus Rocha é quem comanda o perfil @neologismos, que tem 297 mil seguidores no Instagram. Tudo começou como uma espécie de desabafo. “Estava passando pelas angústias de um adolescente recém-saído do ensino médio que não tinha destino certo quanto ao seu futuro”, compartilha. Também passou por outras plataformas, como o Tumblr e, há sete anos, foi o início de uma história. Ele conta, ainda, que tudo aconteceu sem planejamento. “Acho que a literatura me escolheu e me ofereceu a internet como meio disso tudo acontecer”.  

Crédito: Reprodução / Instagram

Em 2016, Matheus lançou dois livros: No meio do caminho tinha um amor e, em parceria com outros três escritores, Muito amor, por favor. “A transição da internet para um produto físico foi suave e, na verdade, os livros vieram para eternizar os meus sentimentos em papel”, confessou. No perfil do Instagram, aos 25 anos, ele faz postagens de microtextos e de alguns mais extensos.

Pedro (@umcartao)

Pedro Henrique é o dono do perfil @umcartao, no Instagram – Crédito: Divulgação

Um cartão pode ser o item perfeito pra se abrir pra alguém. É nessa perspectiva que Pedro Henrique, sob a batuta do perfil @umcartao, trabalha. “Sempre fui um cara que se permite muito às emoções da vida e as palavras sempre
foram as minhas grandes companheiras”, admite. Após o período de estudar pra concurso, seu tempo encurtou. Então, como saída, em maio de 2014 ele criou os cartões – de um desejo incontrolável por dividir o que sentia com as
pessoas. Ele conta com mais de um milhão e meio de seguidores no Instagram.

Crédito: Reprodução / Instagram

Todos os produtos são pensados com todo o amor. “Eu desenho mil vezes antes de transformar alguma coisa em produto. Eu penso, repenso, faço e refaço um monte de coisa antes de aprovar. Eu prezo os detalhes e me esforço bastante pra que todo mundo consiga sentir isso”, explica. Já são dois livros impressos e um livro digital: Um Cartão – Sentimentos Cotidianos (Rocco), Um Cartão – O resgate da Simplicidade (Enkla) e As três dicas infalíveis pra você nunca mais precisar de dicas infalíveis (Kindle).

Lucas Brandão (@blogdolucao)

Lucas Brandão atende por Lucão, no seu perfil @blogdolucao – Crédito: Reprodução / Midiacult

 
Lucas Brandão começou sua trajetória na escrita aos 12 anos. Por ler bastante, surgiu a vontade de escrever, junto com os primeiros rabiscos. Eram crônicas e contos, que o goiano postava em seu site Abra o Bico. “O nome era como uma forma de me convocar sempre a abrir o meu bico, a falar, escrever, a ter voz. E virou um vício”, conta. “Tempos depois, encontrei a poesia e fiz minha morada nela, onde estou até hoje. Apesar de escrever crônicas também e agora escrever meu primeiro romance”, conclui Lucão. Hoje, ele é dono do perfil @blogdolucao, que tem 440 mil seguidores, onde inspira pessoas diariamente. 

Crédito: Reprodução / Instagram

Lucão, aos 33 anos, já publicou dois livros físicos: É cada coisa que escrevo só pra dizer que te amo, que foi o primeiro, e Telegramas, lançado este ano. “Foi expondo meus textos na internet que surgiu a oportunidade de escrever livros. É minha vitrine para a poesia, para a minha vida literária”, afirma. Em 2018, novos projetos chegam às prateleiras. “Estou escrevendo o meu terceiro livro, que será meu primeiro romance. É baseado numa história real que vivi na Espanha, quando fiz o Caminho de Santiago de Compostela pela primeira vez”, adianta. 

Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente (@textoscrueisdemais)

Atual equipe da TCD: Igor Pires, Gabriela Barreira, Maria Luiza, Bruno Fernandes e Letícia Loureiro – Crédito: Divulgação / TCD

Fins podem ser cruéis, mas os recomeços podem ser revigorantes. Foi isso o que aconteceu com a página Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente. Por conta de um término de relacionamento, o idealizador do grupo Igor Pires resolveu começar a escrever. Atualmente, a equipe que se renova com frequência, conta com cinco participantes: Igor, idealizador do projeto; Gabriela, designer; Letícia, escritora; Maria Luiza, escritora; Bruno, ilustrador. Em tempo, eles já lançaram o primeiro material físico, o Zine da TCD. Agora, em parceria com a Globo Livros, o primeiro livro será lançado, em meados de novembro. “A transição – porque estamos no meio do processo ainda – tem sido bastante divertida e surpreendente”, conta o idealizador.

Crédito: Reprodução / Instagram

“Nossos textos no Facebook atingem muitas pessoas e é muito interessante observar as marcações: casais falando um com o outro, amigos se dando força, trechos dos textos sendo citados. Pessoas que se emocionam e se identificam com as nossas experiências pessoais. No twitter, o contato com o público é ainda mais direto: estamos sempre interagindo com os seguidores e as respostas vêm muito rapidamente”, explica. “É por isto que escolhi a internet para a divulgar minha arte: ela é rápida, efetiva e tem um poder de comunicação inimaginável”, conclui Igor. Em tempo, o perfil @textoscrueisdemais conta com 121 mil seguidores no Instagram.

Hugo Novaes (@1tema1minuto1poema)

Hugo Novaes faz poemas com duração de 1 minuto e recita, por vídeo, no perfil do Instagram – Crédito: Caio Augênio

Um belo dia, no início da sua adolescência, o alagoano Hugo Novaes ajudou seu pai e seu irmão a completar uma letra de música. “Fui desenvolvendo essa paixão pelas palavras e o poder de transformação que elas possuem seja em música ou poemas”, relata. No ano passado, ele resolveu fazer um poema sobre vaquejada e teve muitos compartilhamentos no WhatsApp. Mas, havia um problema: não conseguia postar completo no Instagram porque era “longo demais”. Precisava ter 1 minuto. “Já me veio a ideia de criar um perfil chamado “@1tema1minuto1poema” e fazer poemas sobre um tema que meus seguidores escolhem”, explica Hugo, que pretende fazer isso pelo resto da vida. Atualmente, seu perfil conta com mais de 42 mil seguidores.

 

RECOMEÇO Braulio Bessa certa vez falou O meu ou seu caminho não são muito diferentes Tem espinho, pedra, buraco pra mode atrasar a gente Não desanime por nada, Pois até um topada coloca você pra frente Mas quando é maior a pancada E você cai nesse tal tropeço Respire fundo e repense Que é hora do recomeço Enquanto vida houver Não haverá ponto final Rescreva como quiser Se quiser faça até igual Só não repita o que errou Pois aí já não é normal Troque o “era uma vez” Pelo “é dessa vez” Nunca é tarde pra recomeçar Pior que errar é não querer mudar Se redescubra, se reinvente E só engate a ré Se for pra pegar impulso pra ir mais pra frente Só consegue quem tenta Sofrer e errar são as consequências as quais a gente se submete Mas não deixo de amar, de tentar, de recomeçar nem que chova canivete A gente pode chorar, espernear e pintar o sete Mas nunca desistir Pois depois do “game over” ainda existe o reset! #recomeco #surraderima #1t1m1p #brauliobessa

Uma publicação compartilhada por Hugo Novaes (@1tema1minuto1poema) em

O jovem ainda adianta seu próximo projeto: um livro. “Esse sonho está sendo produzido e deverá ser lançado no fim deste ano, no máximo no começo do próximo, a depender de revisões e impressões. Será um livro que irá brincar com meu dia a dia no perfil do Instagram. Por isso, será interativo”, relata. “Além dos poemas postados e inéditos, ainda haverá alguns poemas inacabados para que as pessoas possam completar, dentre outras surpresas. É um sonho que virá para adultos e crianças com todo amor que tenho pelos seguidores e pela poesia”, conclui.

Renata Catel (@versiprosa)

Renata Catel – Crédito: Reprodução / Instagram

Recifense, Renata Catel está dando os primeiros passos para a sua história como escritora digital. Também começou pelo Tumblr ou Facebook, onde seus amigos compartilhavam e a incentivavam a produzir cada vez mais. Renata cuida do perfil do Instagram @versiprosa, onde posta suas poesias. “No início de 2017, participei de uma Oficina Criativa no Belas Artes, em São Paulo. Durante o curso, o professor fez com que encontrasse o meu perfil, identificando meu público e me ajudando a perceber que o melhor jeito de chegar até eles é pela internet”, explica.

Crédito: Reprodução / Instagram

Aos 24 anos, ela mora em Londres e tem boas expectativas para o projeto do seu perfil nas redes. “Minha expectativa é criar uma ligação íntima com os meus leitores, meu objetivo é que eles se identifiquem com meus poemas e contos. Espero que o meu perfil me ajude a abrir portas, facilitando minha comunicação com as pessoas”, confessa a jovem.

Pedro Gabriel (@eumechamoantonio)

Pedro Gabriel usa o pseudônimo Antônio – Crédito: Divulgação

A paixão pelas palavras para Pedro Gabriel, dono do perfil @eumechamoantonio, que conta com 654 mil seguidores, começou cedo. “Desde pequeno, eu tinha um apego pela palavra. Eu sempre encarei a palavra como um desenho. Mesmo quando ainda não sabia ler, aquela junção de letrinhas era uma espécie de segredo que eu precisava desvendar”, conta. O grande diferencial de Pedro – ou Antônio – é a maneira que ele expõe o que cria: em guardanapos. No fim de 2012, ele estava em um café, quando tudo aconteceu. “Eu tinha esquecido meu caderno de bolso naquele dia. O único material que eu tinha para escrever era a pilha de guardanapos que estava no balcão do bar. Anotei algumas coisas. Esbocei algumas palavras. Gostei do resultado. Fotografei. Joguei na internet e, em pouco tempo, muitas pessoas começaram a me acompanhar, a comentar, a compartilhar e a curtir minhas poesias”, afirma o escritor.

Crédito: Divulgação

“A ideia de criar o Eu me chamo Antônio também nasceu sem pretensão, de forma muito sincera e natural. Eu não forcei nada. Não foi uma cesariana (risos). Antônio veio ao mundo de parto normal”, brinca. Para ele, cada guardanapo é especial. “Cada um deles tem incontáveis interpretações. Cada guardanapo é um pouco infinito. Talvez esse seja um dos motivos das pessoas se identificarem tanto com o que escrevo”, explana Pedro. Em 2013, ele lançou seu primeiro livro, o Eu me chamo Antônio. Em 2014, ele publicou o seu segundo, o Segundo – Eu me chamo Antônio. O mais recente é o Ilustre Poesia, publicado em 2016. Os três foram da editora Intrínseca. 

Zack Magiezi (@zackmagiezi)

Zack Magiezi – Crédito: Reprodução / Instagram

Em 2014, Zack Magiezi começou a escrever pequenos textos confessionais sobre as coisas que estavam dentro dele. “Foi um ato de amor-próprio, pois eu precisava ver o rosto das minhas angústias. Nunca pensei em me tornar um escritor (se é que alguém consegue se tornar um), mas basicamente foi isso, uma jornada pelo lado de dentro”, explica o paulista. “Eu percebi que tinha escritos em um caderno, outros nos livros, outros nas paredes do meu quarto. Por isso criei uma página no  Facebook chamada Estranherismo – a intenção era concentrar tudo em um mesmo lugar”, conclui. Além da página, ele também é dono do perfil de Instagram @zackmagizi, onde posta suas criações, que tem 924 mil seguidores.

Crédito: Reprodução / Instagram

Ele conseguiu trazer para a “vida real” duas obras. “Tenho dois livros publicados. Estranherismo e Notas sobre ela. O primeiro foi uma coletânea de textos publicados na rede e o segundo é totalmente inédito com textos maiores e temas mais complexos”, relata. Ele explana que existe, sim, uma diferença entre o público e a metodologia do consumo da sua escrita, mas que isso não é algo ruim: “É uma questão de plataforma, mas a essência está em ambos”.

Felipe Guga (@ofelipeguga)

Felipe Guga – Crédito: Miguel Sá / Divulgação

Nascido em 1979, o carioca Felipe Guga reúne mais de 330 mil seguidores apenas na plataforma do Instagram. Pelo perfil @ofelipeguga, ele usa seus dotes de designer e de escritor, para criar mensagens para seus seguidores. “Sou apenas uma pessoa que reflete sobre a realidade a volta, e coloca isso em palavras e arte de forma leve e fácil de entender”, diz. “A adesão do público foi muito bacana, mas nada programado ou pensado”, admite Felipe, que reconhece que o sucesso do seu trabalho não foi algo premeditado. 

Crédito: Reprodução / Instagram

No fim de 2015, Felipe Guga lançou um livro chamado Sorria, você está sendo iluminado!. “A obra é um apanhado dos posts no Instagram com minhas artes e reflexões”, explica. “Ter um livro físico é muito mais bacana, uma vez que o leitor consegue apreciar melhor minha arte e ter o livro ali na cabeceira pra consultar a hora que quiser”, conclui.

Author: Júlia Molinari

Compartilhe este post