“Parecia que eu tinha sido picada pelo mosquito do circo”, brinca Dani Hoover, produtora do Festival de Circo do Brasil

“Parecia que eu tinha sido picada pelo mosquito do circo”, brinca Dani Hoover, produtora do Festival de Circo do Brasil

Todo e qualquer evento que acontece é produzido por alguém. Um produto musical também. Sejam shows, músicas, festivais circenses, exposições artísticas… Tudo isso passa pelas mãos de um produtor. Função que Danielle Hoover exerce profissionalmente há 32 anos. Aqui em Pernambuco, passou muito tempo trabalhando na produção dos shows do Baile Perfumado, além de ter sua agência publicitária e cultural. Hoje, ela é a grande responsável pelo Festival de Circo do Brasil, que movimenta a capital pernambucana até este domingo, com apresentações nos teatros Santa Isabela, Apolo e Hermilo. 

Dani Hoover trabalha com produção há 32 anos – Crédito: Tito Borba / Divulgação

 Aos 51 anos, ela dá o seu melhor para trazer à sua terra natal atrações incríveis de circo, do mundo inteiro. Desde que se encantou com a arte circense, ela viaja para vários países com o intuito de estudar e fazer a curadoria do projeto que é consumido pelos seus conterrâneos. “Todas as minhas viagens que eu fazia na vida eram pra ver circo. Parecia que eu tinha sido picada pelo mosquito do circo”, brinca. Este ano, virão artistas do Brasil, da Argentina, Bélgica e Dinamarca.

O processo de produção de algo grande como um festival desses é trabalhoso, segundo Danielle. “Conseguir criar um projeto que consiga despertar o interesse do patrocinador e do público é o maior desafio. Porque não adianta agradar só um ou outro, tem que ser os dois”, explica. “Mas o que eu mais gosto mesmo é o público. É impagável você ver uma construção que você fez acontecendo e as pessoas gostando”, conclui a produtora, satisfeita com o que faz.

Dani Hoover está produzindo o Festival de Circo do Brasil – Crédito: Nando Chiappetta/DP/D.A. Press

Além de produtora, Dani Hoover também é diretora e atualmente está com todos os olhares voltados para O Coração do Mundo, sobre a imigração em Pernambuco e a contribuição desses povos para o estado. “Japoneses, israelenses, ingleses, italianos… Vai ter gente do mundo todo. E o legal é que vai ter uma apresentadora para situar e guiar o público que for assistir ao filme”, adianta. O intuito do filme é mostrar não só a comunidade, como também a história pessoal dos personagens.

Em bate-papo  exclusivo com a equipe do Blog João Alberto, Dani contou sobre o início da carreira, revelou bastidores sobre o universo do circo e os novos projetos. Confira:

Como foi o início da sua trajetória como produtora?

Minha trajetória como produtora começou há 32 anos. Sou formada em Educação Artística. Na época, eu estava terminando o curso e conheci um diretor. Falei pra ele que eu tinha interesse em trabalhar com artes cênicas, mas por trás das câmeras, na produção. Aí aconteceu o convite para o estágio. Fui trabalhando e aprendendo com ele, até que conheci um outro diretor. Dentro de publicidade. Recebi o convite pra trabalhar na produção de um programa chamado TV Mulher. Depois disso, fui chamada pra trabalhar com edição. Nunca tinha entrado em uma ilha de edição. Fui trabalhar na TV Gazeta, em Maceió. Isso tudo aconteceu em apenas seis meses, foi tipo um intensivão. Quando voltei, trabalhei muito tempo em agências publicitárias. Naquela época, o mercado estava em formação. Fiquei bem posicionada porque não havia muitas agências. Fiz estágio em São Paulo também e, quando voltei, resolvi montar a minha própria produtora, a Luni, com meu sócio. O nome é uma junção de Lula e Dani. A gente fazia o mercado no ano de 1988.

Qual o maior desafio de trabalhar com produção?

A parte mais difícil de trabalhar com produção é o patrocínio. O nosso gen é muito mais cultural do que publicitário. Com o passar do tempo, viemos sentindo essa parte de projetos culturais. Produção de show, de teatro, de música, de CDs. Conseguir criar um projeto que consiga despertar o interesse do patrocinador e do público é o maior desafio. Porque não adianta agradar só um ou outro, tem que ser os dois.

E a mais prazerosa?

O que a gente mais gosta é de ver acontecer. O que eu mais gosto mesmo é o público. Quando chega muita gente pra ver, eu adoro. É impagável você ver uma construção que você fez acontecendo e as pessoas gostando. É o maior retorno para um produtor e qualquer artista.

Como surgiu a ideia de criar o Festival de Circo do Brasil?

O circo chegou pra mim de uma forma muito casual. Assisti um grupo de rua de Minas e achei aquilo incrível. Não sei se eu estava num dia mais romântico… Talvez até mais do que ele seja, mas foi muito forte pra mim, na época. Fiquei tão apaixonada que hospedei uma parte da equipe na minha casa. Eles tinham uma estrutura muito simples. Eu fiquei muito encantada, era uma trupe jovem. Era muito interessante porque eles misturavam aquela coisa do circo com o teatro. E aí a partir de uma das meninas do grupo, que ficou na minha casa, ela me falou de um festival de circo que tinha em Belo Horizonte. Fui lá pra conhecer e fiquei com a sensação de ‘eu queria fazer isso na minha terra. Quero levar isso tudinho pra lá’. A partir disso, comecei a pesquisar. Todas as minhas viagens que eu fazia na vida eram pra ver circo. Parecia que eu tinha sido picada pelo mosquito do circo. Depois comecei a ver que a arte do circo, diferente das outras, é algo mais colaborativo. Tem uma coisa de família. Mesmo tendo a itinerância, eles são pessoas extremamente solidárias, com menos ego. É uma trupe, um grupo de amigos. Isso me interessou muito. Fiz grandes amigos durante os festivais. Tem uma certa irmandade no circo que eu não enxergo tanto nas outras. O núcleo tem uma interdependência muito forte. Tudo é feito por todo mundo. Esse universo me encantou muito. Hoje em dia, eu vejo o circo como um leque muito variado de opções, de sutilezas, de comunicações. Tem integração com outras artes, com tecnologia. É uma arte aberta. Não precisa de nada, mas pode ter tudo. Isso me encanta.

Quais foram os festivais internacionais que mais te marcaram?

O festival de Moscou achei muito importante. É engraçado porque lá você tem o Old Circo,  o circo mais tradicional que existe. Inclusive, com animais. É um festival que tem várias artes, onde tem os melhores espetáculos. Como o neto de Charles Chaplin, James Thierry, foi um impacto. Já assisti a todos os espetáculos dele. Este ano, eu fui pra França assistir mais um. Mas em Moscou foi o primeiro. Ele é um que eu persigo. Um dia vou conseguir trazer ao festival. Acho que ele é o mais importante no cenário circense mundial. Comparo o circo tradicional de Moscou com o da China. Eles têm uma técnica absurda, é até meio cafona, mas está naquela estética russa. Teve o festival de Circo de Inverno, do Demain, na França feito por Napoleão, que também não acontece em lona. É um circo construído, tapete vermelho, com cristal. Pra mim, foi da França que veio o circo mais artístico, o novo circo francês. Foi a partir desse movimento, que o Ministério de Cultura começou a considerar o circo como arte, liderado por Vitoria Chaplin. Porque até então, era uma atividade equestre, pra adestramento, pertencente ao Ministério da Agronomia. Curiosidade interessante, né? Eles fizeram essa mudança no olhar do circo e inspirou as escolas de circo, com um olhar artístico, não só técnico.

Quais foram as inspirações para esta edição do Festival de Circo?

Essa edição tá com uma liberdade de correr por fora porque tivemos pouco tempo pra resolver tudo. Todo projeto cultural aqui no Brasil tem aquela dúvida se vai acontecer ou não. O ano passado eu fui pra cinco festivais, quatro fora do Brasil. Tem anos que você vai e as coisas estão muito parecidas. Esses festivais estavam em fase de pesquisa, transição, de coisas que vão estrear em 2018. Este ano é até um pouco hiato.  Como curador, a gente pensou em trazer coisas que a gente nunca trouxe, estão aí há anos, e que seria massa trazer. Não só o lançamento. Quisemos trazer coisas clássicas, que não se perderam com o tempo. São apresentadas até hoje, e são tidas como referências. A gente fez uma curadoria pensando nisso.

Qual foi a grande aposta nesta edição?

Esta edição é uma edição que ela não tem grande aposta. Todos os grupos são muito bons e equilibrados. A gente às vezes tinha isso, de trazer uma atração completamente maior, como foi a neta do Chaplin no ano que veio, o Felipe Mená. Sempre o festival tinha uma ponta de lança. Este ano, não foi a ideia. A ideia foi fazer um festival equilibrado, clássico e atemporal. Tivemos atrações da Dinamarca, Bélgica e Argentina, além de brasileiras. A programação ainda incluiu exposição, filmes e lançamento de livro. 

Como surgiu a ideia para produzir o documentário Coração do Mundo? 

Está sendo um processo de captação mais simples porque foi aprovado pelo Funcultura. A gente tem um núcleo de pensamentos e projetos, e a partir daí, surgiu a ideia sobre a composição da imigração em Pernambuco, a partir do século XIX e XX. Foi observado que, aqui no estado, tem muita influência de outros países. Começamos a estudar as contribuições de várias nações pra cá. Fomos estudando cada comunidade dessa. O documentário é sobre isso. Já gravamos a primeira das entrevistas  em Camocim de São Félix, Bonito e no Recife. A história de cada pessoa é importante. Queremos passar a emoção, não necessariamente só a parte jornalística. Japoneses, israelenses, ingleses, italianos… Vai ter gente do mundo todo. E o legal é que vai ter uma apresentadora, para situar e guiar o público que for assistir ao filme. Brenda Lígia é uma atriz paulista, que mora aqui. É negra, linda. Achamos que ela tinha a cara do filme. Eu já dirigi algumas outras coisas menores. Já dirigi um programa de culinária. Um programa de pessoas que não eram chefs e nem tinham nada a ver com cozinha, mas que sabiam fazer um prato salvador. Foi muito bacana. E produzi muitos shows pelo Baile Perfumado.

Quais seus próximos projetos?

Estamos pensando em alguns. Tem o Festival Portátil de Solos. Vi muita coisa de apresentação solo que tem um conteúdo muito pessoal. Fiquei com a intenção de fazer esse festival, já estamos estudando há um ano. Estamos justamente aguardando que saia o financiamento, para realizar ele ano que vem. A ideia é fazer em maio. Esse festival é amplo, queremos trabalhar a performance, não só o espetáculo. Tem música, dança, circo contemporâneo, artes plásticas, lançamento de livro. A gente pensa que vai ser um festival plural.

Author: Júlia Molinari

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