O árbitro da Fifa que mais atuou em 2017 é mulher e recifense: conheça Deborah Cecília

O árbitro da Fifa que mais atuou em 2017 é mulher e recifense: conheça Deborah Cecília

O árbitro da Fifa que mais atuou no ano de 2017  (até o momento) é mulher e recifense. Déborah Cecília trabalha na Federação Pernambucana de Futebol e entrou na mira da Fifa. Déborah ingressou na carreira e conquistou os campos brasileiros de futebol e principalmente em jogos masculinos.

Déborah Cecília, no começo, não tinha vontade de trabalhar com arbitragem -Crédito: ANAF / Divulgação

Entrou no universo das chuteiras como jogadora de futebol, bolsista na faculdade e estagiária no Geraldão, ministrando aulas de futsal. Até que foi convencida a dar uma chance para o mundo da arbitragem. Ainda tentou ser assistente de bandeirinha, mas não deu. A insistência de árbitros profissionais, que enxergavam um futuro naquela estudante de educação física, foi grande. Déborah cedeu.

Déborah Cecília – Crédito: Ricardo Fernandes / DP

Acabou se apaixonando pelo trabalho de ser árbitra. “Nos primeiros dias, eu era muito ruim. Ninguém me queria. Comecei a me desesperar”, conta. Mas, com o passar do tempo, as coisas mudaram. “Comecei a tomar gosto, a aprender, a aprimorar. Dominei as regras. Gleidson Leite, da CBF, que considero meu padrinho na arbitragem, começou a me moldar aos poucos”, explica a pernambucana.

Déborah Cecília – Crédito: Reprodução/Sr Goool

No início deste ano, Déborah Cecília passou a integrar o quadro de árbitros da Fifa, após sete anos de formação. “Ingressar na Fifa significa que você atingiu a nata da arbitragem”, comemora. Atualmente, ela é considerada a árbitra que mais atuou em campo neste ano.”É um sonho que eu nem esperava que ia realizar. Eu sei que, com essa representatividade, abro as portas para todas as mulheres”, conclui.

Déborah Cecília mostrando o cartão amarelo para jogador – Crédito: Reprodução/ Wa Repórter

Déborah, no entanto, já passou por muitos momentos desagradáveis em campo. “Ah, é uma mulher que está me expulsando”, “Lugar de mulher não é aí não, é no fogão”, “Como é que botam uma mulher pra apitar?”. Essas foram algumas das frases que a profissional já teve que escutar, depois de expulsões de jogadores de campo.

Déborah Cecília apartando confusão em clássico entre Sport e Santa – Crédito: Divulgação

Persistir foi fundamental para que ela passasse por cima de tudo isso e focasse nos seus objetivos. Déborah é conhecida por ser “linha-dura” com os jogadores. Não poderia ser diferente. No currículo, ela coleciona muitos campeonatos – tendo como partida mais marcante da carreira um clássico entre os times do Sport e do Santa Cruz. No último dia 3 de outubro, Déborah Cecília participou de teste do quadro de árbitros da CBF, e enfim, está apta para apitar jogos da série A do Brasileirão. Em bate-papo exclusivo com a equipe do Blog João Alberto, a árbitra pernambucana contou tudo sobre a sua trajetória. Leia na íntegra:

Como iniciou a carreira no mundo do futebol?
Eu era jogadora de futebol. Jogava pela faculdade, era bolsista, e como era estudante de educação física, fiz estágio no Geraldão. Eu dava aula de futsal e tinham outros árbitros que eu não conhecia. Com o tempo, eles começaram a insistir para que eu fizesse o curso de arbitragem. Eu dizia: ‘não tenho nada a ver com arbitragem. Não é pra mim não’. Até que fui convencida para fazer o curso da Federação, que durou um ano. Nos primeiros dias, eu era muito ruim. Ninguém me queria. Comecei a me desesperar. Mas aí me deram a chance de começar como assistente, na bandeira. Eu fui levando, mas sem gostar daquilo. Até que me questionaram por que eu não apitava. Meus pensamentos eram: ‘não vou ficar discutindo com homem não. Correndo pra lá e pra cá. Tenho minha faculdade, minha bolsa’. Só que comecei a tomar gosto, a aprender, a aprimorar. Dominei as regras. Gleidson Leite, da CBF, que considero meu padrinho na arbitragem, começou a me moldar aos poucos. A partir daí, participei de diversos campeonatos pequenos. Depois, eu fui crescendo na área, e no começo do ano, entrei para o quadro de árbitros da Fifa. Também devo isso a Salmo Valentim, o presidente da Comissão de Arbitragem de Pernambuco da época, por sempre ter acreditado e me incentivado. Agora, quem ocupa o cargo é Emerson Sobral.

Como é o processo para se tornar um árbitro?
É como se fossem patentes. O que te habilita é a indicação da Federação para CBF. Lá, existem provas teóricas e práticas, além dos testes físicos. Fui a única mulher pernambucana a passar no teste físico masculino. 

O árbitro da Fifa que mais atuou em 2017 é mulher e recifense. O que isso significa pra você?
Um sonho que eu nem esperava que ia realizar. Nada vem em vão, tem que fazer por onde. Treino todos os dias. Abdico de algumas coisas para fazer o que eu escolhi. Ser reconhecida nas ruas é muito massa. Não só para mim, mas como mulher. Eu sei que, com essa representatividade, abro portas para todas.

Como é atuar neste universo predominantemente masculino?
Ah, é difícil. Primeiro porque a gente lida com preconceito. E não vai acabar agora. Qualquer mulher que ocupe um cargo que seja visto como masculino passa por situações desagradáveis. Com o meu crescimento na profissão, o machismo diminuiu um pouco. Mas temos que passar por isso pra conquistar o espaço. Eu gosto de fazer parte da história. Assim, deixo o caminho livre pra que mais mulheres tentem a arbitragem.

Você já sofreu algum preconceito?
Várias vezes. Principalmente quando expulso um jogador. Já ouvi tanta coisa… “Ah, é uma mulher que está me expulsando”, “Lugar de mulher não é aí não, é no fogão”, “Como é que botam uma mulher pra apitar?”. Hoje em dia, me chamam pelo nome, sabem que sou do quadro da Fifa. É diferente o tratamento atualmente.

Qual a parte mais difícil e a mais prazerosa de ser árbitra?
A parte mais difícil é lidar com o preconceito. E quando eu falo de preconceito é preconceito de dirigente de clube, de jogador e de imprensa. Já a parte mais prazerosa é lidar com as emoções. Eu mexo com o coração das pessoas. É a decisão. Tudo ali gera sentimento de quem está jogando ou acompanhando. Eu controlo emoções. Eu gosto disso.

Qual jogo marcou a sua trajetória profissional?
O clássico Sport e Santa, transmitido pela Globo, no dia 25 de março deste ano.

Como é a sua rotina?
Além de árbitra, eu trabalho como personal trainer. 

Como é a opinião da sua família e amigos sobre a sua profissão?
Todo mundo apoia, mas eu não deixo ninguém ir para o campo, para não ficarem preocupados. Hoje em dia, minha mãe ouve na rádio e minha irmã também.

Author: Júlia Molinari

Compartilhe este post