Arte na pele: Conheça estilos de tatuagens e alguns dos artistas mais procurados no Recife

Arte na pele: Conheça estilos de tatuagens e alguns dos artistas mais procurados no Recife

Imagem ilustrativa – Crédito: Peu Ricardo/DP

No Brasil, a tatuagem feita com máquina elétrica só surgiu nos anos 1960, na cidade de Santos, em São Paulo. Apesar disso, o ato de marcar a pele com tinta remonta séculos passados, onde vários povos de todo o mundo faziam as tatuagens, seja para rituais religiosos ou para marcar prisioneiros. Nos últimos anos, as tatuagens têm demonstrado novos contornos e estilos, incentivado por artistas de outras áreas, como ilustração e design, que enveredaram para o ramo das tattoos.

No Recife, não foi diferente. Muitos nomes surgiram apostando em desenhos autorais, utilizando as mais diversas técnicas. Entre eles, Paulo Victor Skaz, Hannah Storm, Bruno Sans, Henrique Brandão, Isabella Galvão e Nando Zevê. A maioria começou aprendendo o ofício com outros tatuadores e treinando a técnica com ajuda de  amigos. São nomes muito procurados, algumas vezes com meses de agenda disputada.

Entre os estilos, aparece o Old School, que remonta as primeiras tatuagens feitas por marinheiros e “foras da lei”. Nele, os desenhos são simples e com contornos fortes e cores como azul, vermelho e verde em evidência. Outro estilo que ganhou muita popularidade nos últimos anos é a aquarela, quando o tatuador imprime na pele o efeito que a tinta teria em uma pintura. O pontilhismo, que vai formando o desenho e as sombras com a junção de vários pontos, também ganhou força. 

Mas, existe uma infinidade. O blackwork – que trabalha apenas com tinta preta -, realismo, fineline, explorando linhas muito finas, e vários outros. Uma técnica que caiu no gosto dos adeptos às tatuagens é o handpoke, feito sem energia elétrica, quando o tatuador vai aplicando a tinta apenas com a agulha. Conversamos com alguns tatuadores da cidade sobre o estilo, desenhos, inspirações… Confira:

Isabella Galvão – Bella Tatua, como é conhecida, entrou no ramo há quase dois anos. Publicitária por formação, começou desenhando tatuagens para amigos, até que resolveu ela mesma tatuar. Baseada no estilo fineline, com agulha fina, ela prioriza as linhas e contornos dos desenhos. Também trabalha com pontilhismo, para fazer o preenchimento das formas, dando sensação de degradê na cor.  “Como referência pessoal, meus desenhos têm muitas flores, muitas figuras que exalam o feminino, além da parte lúdica de imaginário infantil, sereias,  seres mágicos, surrealismo”, explica a jovem. Várias opções de desenhos já estão disponíveis em seu estúdio, mas ela também trabalha com encomendas. Uma das tatuagens que mais gostou de criar é a de uma mulher segurando um coração, foi tatuada por uma cliente.

Bella Galvão – Crédito: Divulgação/Bellatatua

Crédito: Bella Tatua/Cortesia

Crédito: Bella Tatua/Cortesia

Bruno Sans – Aos 29 anos, começou a tatuar por influência do irmão, Philipe, com quem divide estúdio. Designer, ainda usa as ferramentas do antigo trabalho para construir os desenhos, como Photoshop e Illustrator. Muitas vezes, quando o trabalho é mais realista, faz a montagem no computador, como estátuas, imagens ou animais. O estilo é baseado em blackwork e fineline, com desenho mais preciso e fino, com sombras para dar profundidade. Ele é muito procurado para homenagens e já fez várias lembrando os animais de estimação dos clientes. “Teve um cliente que o cachorro dele é cego de um olho, e ele quis fazer o desenho com um ‘x’ no olho. Eu acho legal isso. Mas também gosto muito das tatuagens maiores, com referências barrocas, gregas”, conta. Uma das mais especiais – que ainda está fazendo – é uma no próprio irmão. “A arte foi criada por ele e eu estou fazendo. É a maior que eu já fiz e uma das mais importantes”.

Bruno Sans – Crédito: Reprodução/Instagram

Bruno está tatuando o irmão, Philipe – Crédito: Reprodução/Instagram

Crédito: Reprodução/Instagram/brunosanss

Bruno Sans – Crédito: Reprodução/Instagram/brunosanss

Paulo Victor Skaz – Tatuador há 10 anos, Skaz ficou muito conhecido por seu trabalho com aquarela. Vindo do grafite, ele coloca em seus desenhos elementos de street art, como respingos de tinta, stencil, pincelados, linhas e efeitos diferentes. “Quando eu abro a agenda para receber os clientes, eu procuro escutar a história e tento fazer um trabalho mais criativo em cima da ideia. Discutimos as ideias e também deixo bem aberto para alterações, mas tento conversar para desenvolver outras coisas, pensar de uma maneira diferente”, explica. No estúdio, há também desenhos criados por ele inspirados em coisas que viu nas ruas, músicas e outros elementos. Ele conta que também já recebeu algumas propostas estranhas de tatuagens, como um abacate. Depois, descobriu que era o apelido de um amigo do cliente que havia falecido. “Mas nem tudo precisa ter uma história, às vezes é só por estética”, completa.

Paulo Victor Skaz – Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia

Crédito: Paulo Victor Skaz/Cortesia

Crédito: Paulo Victor Skaz/Cortesia

Crédito: Paulo Victor Skaz/Cortesia

Henrique Brandão – Henrique começou a tatuar em 2006, quando ainda tinha uma loja de discos. Após aprender sobre biossegurança e entender que era possível fazer tatuagens de forma segura, comprou os equipamentos e começou a tatuar. Henrique diz que gosta de todos os estilos de tatuagens, mas se identifica mais com o Old School, que remete aos desenhos feitos pelos marinheiros, com cores fortes e traços simples. Também gosta de retratar temas do Nordeste e do Brasil. Henrique recebe o cliente no estúdio para discutir as ideias e apresentar o desenho, o que demora entre 5 e 15 dias. “Geralmente emociona ouvir a história do motivo da tatuagem. Quando são pais e filhos fazendo juntos, é muito legal. É uma quebra na barreira do preconceito, os filhos conseguem convencer e mostrar que tatuagem não muda caráter. É algo ímpar, que cada um carrega uma história no corpo em forma de arte pro resto da vida”, fala.

Henrique Brandão – Crédito: Marlon Diego Fotografia/Divulgação

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Henrique Brandão

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Henrique Brandão

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Henrique Brandão

Nando Zevê – Aos 34 anos, iniciou no mundo das tatuagens em 2006, quando era aluno do curso de Artes Plásticas na UFPE. Nesses anos, desenvolveu técnica própria de tatuagem, como a de recriar pinturas com tinta óleo. “Eu faço uma pintura e a partir daí faço a tatuagem realista. Tento captar os volumes, como se fosse uma camada grossa de tinta, mas é só ilusão de ótica”, explica. Esta técnica é feita geralmente com artes já disponíveis no estúdio. Também trabalha com a tinta preta, misturando pontos, linhas, sombreados e preenchimentos mais sólidos. Ele garante que não repete nenhum desenho, cada um é único. Nando está trabalhando em uma série chamada Anima, baseada na psicologia de Carl Jung, que fala que todo homem tem um lado feminino e vice e versa. “Eu sempre gostei de desenhar figuras femininas e não entendia o porquê. E eu comecei a receber um público feminino interessado nesses desenhos. Acaba sendo um processo terapêutico: algumas acabaram de se separar, ou sofreram algum trauma. Uma cliente tinha passado por uma tentativa de estupro e viu na imagem uma figura de força, como um amuleto. Tem sido muito forte”, explica.

Nando Zevê – Crédito: Maria Eduarda Bione/Esp.DP

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Nando Zevê

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Nando Zevê

Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Nando Zevê

Hannah Storm – Hannah tem 21 anos e tatua há 1 ano e meio. Sempre gostou de desenhar e começou a cursar Artes Visuais e trabalhar com ilustração. Logo depois, migrou para o universo das tatuagens. Ela utiliza a técnica do Handpoke, sem energia elétrica, apenas com a agulha. A máquina fura de 100 a 200 vezes por segundo e ela vai fazendo cada ponto na mão. Hannah garante que a técnica é menos invasiva, dói menos e a recuperação é mais rápida. O Handpoke também não é limitado, pode ser usado em vários estilos. Hannah trabalha com o blackwork, pontilhismo e, no futuro, pretende expandir para as tintas coloridas. Em seus desenhos, aposta muito apenas no contorno, chamado outline, artes mais simples e também mandalas. “Eu tenho portfólio de desenhos e também recebo encomendas, na maioria das vezes com várias imagens de referência. Gosto de finalizar o desenho pessoalmente, na frente do cliente”, explica.

Hannah Storm – Crédito: Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Hannah Storm

Crédito: Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Hannah Storm

Crédito: Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Hannah Storm

Crédito: Crédito: Arquivo pessoal/Cortesia/Hannah Storm

OS AMANTES DA TATUAGEM 

Allana Marques, produtora de eventos

Allana Marques – Crédito: Celo Silva

A produtora Allana Marques fez sua primeira tatuagem aos 17 anos, com um formato bem pequeno, já que seu pai não aprovava os riscos na pele. Hoje, já perdeu as contas de quantas têm pelo corpo. Para ela, as tatuagens são, principalmente, uma forma de expressar a personalidade e para marcar uma arte em seu corpo. “O mundo da tatuagem cresceu bastante nos últimos anos. Antes, eu penava para encontrar algum tatuador diferente. Hoje já temos vários nomes novos e tem gente que vem para Recife só para tatuar com eles”, conta ela.

Gustavo Dubeux, engenheiro

Crédito: Reprodução do Instagram

Em fevereiro deste ano, Gustavo Dubeux resolver fazer uma homenagem ao seu cachorro, que foi seu companheiro durante 10 anos. A primeira tatuagem mostra a união da pata de um cachorro com a mão de um humano. “Fiz em homenagem a todos os meus cachorros, os que já tive e os que vivem comigo agora, representando nossa amizade, fidelidade e companheirismo”, disse Gustavo. Além disso, decidiu tatuar as coordenadas de sua casa em Serrambi, onde cresceu e passou vários momentos marcantes de sua vida.

Nicola Sultanum, empresário 

Credito: João Velozo/ Esp. DP

Nicola Sultanum tem cerca de 44 tatuagens pelo corpo. Um dos temas frequentes de seus desenhos é a música, com homenagens a Bob Dylan e Beatles. Também tatuou o nome das filhas, Anita e Olivia. “São coisas que me representam, tenho uma tatuagem maior no braço esquerdo, que eu sempre gostei. A música eu amo. Tatuagens são pra sempre e música, para mim, é para sempre”, diz ele.

Vitor Melcop, jornalista

Crédito: Reprodução do Instagram

O jornalista Vitor Melcop fez uma homenagem ao pai, o famoso fotógrafo pernambucano Antônio Melcop, tatuando a primeira câmera profissional da carreira dele. “No começo ele não entendeu o que era. Depois, me deu um abraço e agradeceu”, relembra o jornalista. Melcop tem mais dois desenhos tatuados na pele: uma mistura de desenhos indígenas e maori e uma rosa dos ventos.

Gabriela Arruda, turismóloga

Crédito: Reprodução do Instagram/Renata Seabra Fotografia

A turismóloga Gabriela Arruda soma entre 25 e 35 tatuagens espalhadas pelo corpo, atrás da orelha, na perna, braços, costela e costas. Para ela, é uma forma de demonstrar a personalidade e coisas que gosta. Desde desenhos que lembram praia, até o mapa de Fernando de Noronha (seu lugar preferido), palavras, símbolos, e trechos de músicas. “Eu gosto muito de tatuagens, acho que é muito meu estilo. Eu só posso dizer que ainda farei muitas”, confessou.

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