“Acho que a maravilha do projeto é esta: a diversidade”, disse o DJ 440 sobre a Terça do Vinil

O olindense Juniani Marzani é quem está por trás do DJ 440 – Crédito: Alex Ribeiro
Enaltecer a música brasileira é a marca registrada de Juniani Marziani, mais conhecido como DJ 440. Dono de mais de 3 mil vinis e cinco toca discos, ele é o nome à frente do projeto Terça do Vinil, que acontece há 10 anos no Recife, Olinda e outras cidades do Brasil ( Rio de Janeiro, São Paulo, Amazônia, Pará, Bahia, Natal, João Pessoa, Brasília, Goiás), tendo já sido eleita a melhor festa durante a semana pela Veja. Com influência da música desde cedo, Juniani se destaca no cenário musical pernambucano por não só tocar os clássicos que todos conhecem, como também o que ele mesmo chama de “o Brasil que o Brasil desconhece”.
A Terça do Vinil, que ocorre todas as semanas, surgiu por acaso há uma década e mudou a vida do DJ. Após ser demitido de um emprego formal, no dia seguinte, ele decidiu ir comemorar em um bar. Lá, assumiu o som do estabelecimento e atraiu clientes de maneira surpreendente. “O que foi uma cerveja para uma comemoração de brincadeira, acabou virando uma grande festa e, por conta do sucesso, resolvi fazer aquilo semanalmente”, conta.

O projeto Terça do Vinil reúne públicos de todos os gostos, atraídos pela música brasileira – Crédito: Alex Ribeiro
O olindense ainda explicou a essência do seu trabalho, que encanta um público diversificado em cada festa realizada. “Ser DJ não é só escolher alguma coisa pra tocar, botar um som. Isso qualquer pessoa com internet em mãos hoje em dia pode fazer. Ser DJ é entender que existe um lado técnico e um lado poético na profissão”, relata. “A Terça do Vinil mistura os tempos e isso também faz com que misture os públicos, não tendo muito isso de ser velho ou novo para gostar do que vai se ouvir no repertório”, conclui.
Além da Terça do Vinil, Juniani Marziani também atua em outros projetos – todos relacionados à música. São eles o site de downloads de música independente brasileira DNA – Discoteca Nacional, a festa Vinil em Brasa (uma versão mais agitada da Terça do Vinil), o evento A noite dos DJs Maliciosos (uma festa de salsa, cumbia e ritmos paraenses), e também a Reunião de Bacana (que toca samba com bandas e DJs convidados). “Tenho também um espaço chamado Tropicasa, na Boa Vista. Sempre quis ter um lugar para receber bandas e DJs e, semanalmente, temos uma programação diversa e de altíssima qualidade por lá”, explica o DJ.

DJ 440 – Crédito: Alex Ribeiro
Em entrevista exclusiva à equipe do Blog João Alberto, Juniani contou a história por trás do DJ 440, sua trajetória, inspirações e projetos que vão muito além da Terça do Vinil. Confira abaixo:
Como foi a escolha do nome DJ 440?
Eu tive um sonho, por volta dos 9 anos e, nesse sonho, algo me dizia o significado desse número, mas que eu não devia contar a ninguém. Quando cresci, já atuando como DJ, precisava de um nome artístico e achei que esse número deveria me acompanhar. E foi assim que surgiu o DJ440.
Desde quando você é DJ? Como surgiu o interesse em seguir essa profissão?
Eu sempre adorei música, desde pequeno. Passava o dia no aparelho de som esperando as músicas que eu gostava no rádio para gravar em fita cassete. Meu pai, também amante da música, tinha muitos discos e fitas que, por sinal, eu saía apagando depois de ouvir para gravar as músicas que eu gostava. Era uma briga! Mas isso só veio se tornar profissão por acaso. Em festas de amigos eu já ficava no som, trocando CDs, até que um dia um deles me perguntou por que eu não trabalhava para ser DJ. Eu nem sabia do que se tratava. Na época, não tinha Google e nem YouTube para a gente aprender as coisas.
Esse mesmo amigo me deu uns toques e comecei a procurar mais sobre o assunto, estudar, pesquisar e a curiosidade passou a me guiar pela música, passeando pelas histórias das canções, dos artistas, dos contextos de suas épocas. Ser DJ não é só escolher alguma coisa para tocar, botar um som. Isso qualquer pessoa com internet em mãos hoje em dia pode fazer. Ser DJ é entender que existe um lado técnico e um lado poético na profissão. O técnico permite lidar bem com as ferramentas, possibilita as sutilezas, as trocas, emendas, as mudanças de atmosferas.
Também é necessário conhecer muito para ter repertório, adicionar músicas não só pelos ritmos, mas pelo que transmitem. Já o lado poético, que passa também por uma questão de gosto pessoal, e isso acaba definindo uma linha de trabalho do DJ mas é, também, acima de tudo, sentir o público e propor a todo mundo uma experiência sonora para aquele momento. Não há um dia ou noite igual numa tocada. Tudo depende do momento.

O DJ 440 busca trazer os clássicos e as novidades em seu repertório – Crédito: Alex Ribeiro
Você toca exclusivamente músicas brasileiras. Qual é a importância de enaltecer a cultura local nos dias de hoje?
O Brasil tem uma riqueza cultural imensa e isso naturalmente reflete na nossa música, que tem muita coisa dançante. Gosto dessas possibilidades dos sons nacionais e, por isso, o meu trabalho, que intitulo de “arqueologia” musical, tem como base a música brasileira, mas não me restrinjo ou me limito a ela. Gosto muito também de música latina, como a salsa e a cumbia, além de músicas de outras partes do mundo. Curto Afrobeat, Funk, Soul e Jazz, e levo um pouco disso tudo para os meus sets também. Sou mais conhecido como um DJ de música brasileira porque tenho um trabalho de 10 anos em um projeto que é voltado para isso, que é a Terça do Vinil, onde faço o resgate do que temos como raridades nacionais, além de apresentar novos hits ao público. É uma grande brincadeira entre o passado e presente, não só pelo vinil e pelas músicas, mas por estarmos misturando os tempos. Acho que talvez essa coisa de ser conhecido pela música brasileira também se deve ao fato de que a maioria dos DJs acabam bebendo mais da cultura de fora para internacionalizar seus trabalhos. Já eu acredito que a música brasileira pode ser “imperecível” e universal.
Como surgiu o projeto Terça do Vinil?
Há dez anos, fui demitido de um trabalho formal, numa segunda-feira. No dia seguinte, resolvi me reunir com uns amigos para comemorar a demissão, pois era um trabalho que eu não gostava muito. O bar não tinha muito movimento nesse dia da semana, e como sou amigo do administrador, resolvi levar um toca discos e alguns LP’s para ouvir, beber uma cerveja e pensar na vida. Nesse dia, algumas pessoas que passavam começaram a curtir as músicas que estavam rolando e passaram a ficar no bar, que em instantes encheu de gente. O que foi uma cerveja para uma comemoração de brincadeira, acabou virando uma grande festa e por conta do sucesso, resolvi fazer aquilo semanalmente. E depois de percorrer vários lugares no Recife e em Olinda, além de outras cidades do Brasil, o projeto acontece incessante e ininterruptamente há uma década, se destacando nacional e internacionalmente, recebendo prêmios e integrando hoje o calendário cultural e turístico de Pernambuco.

DJ 440 faz sucesso com o projeto Terça do Vinil há 10 anos – Crédito: Alex Ribeiro
O que faz com que a Terça do Vinil tenha conquistado tantos adeptos?
A música em si é agregadora. Mas acredito que o sucesso e o grande diferencial do projeto está em toda a pesquisa que é feita, que apresenta o Brasil que o Brasil “desconhece”. Claro que eu toco muitos sucessos, músicas que muitas pessoas conhecem, mas também me preocupo em sempre estar levando alguma descoberta, uma raridade do passado, além, claro, de também algumas novidades do presente. Como eu disse, a Terça do Vinil mistura os tempos e isso também faz com que misture os públicos, não tendo muito isso de ser velho ou novo para gostar do que vai se ouvir no repertório. A música nasce em um tempo específico mas é atemporal e carrega em si uma espécie de magia que rompe essas fronteiras de tempo. Imagino que o público sinta essa pequena mágica, que se une a esse carinho que eu tenho nas pesquisas que faço. Se trata de respeito com o que está sendo apresentado e cuidado com quem está recebendo. É com esse carinho, cuidado e respeito que o projeto trata a música brasileira. E muitos se divertem pelo fervor e swing das músicas, outros se emocionam seja pela letra, pelos arranjos, por se lembrar de momentos… A Terça é um sucesso talvez por apresentar tudo isso, um repertório de qualidade, que mexe além do corpo, a alma também.
Como você seleciona a lista de músicas para cada edição?
Não existe lista ou playlist pré-definida. Nada é feito previamente. A cada terça eu chego sem saber o que vou tocar, com exceção das noites que homenageio um artista específico, mas que também não seleciono músicas, não programo. O repertório é feito na hora e a partir do meu feeling, do meu sentimento naquela noite. Tudo também depende do público. Vou sentindo. Acho que é como uma dança onde não existe o condutor, é uma via de mão dupla, uma troca. Uma coisa vai levando a outra e a noite acontece.

DJ 440 – Crédito: Alex Ribeiro
O que não pode faltar no repertório da Terça do Vinil?
Tem músicas que já são clássicos do repertório da Terça. Novos Baianos, Tom Zé, Cartola, Chico Buarque, Bethânia, Gal e Caetano, por exemplo, são artistas que sempre tocam porque são ícones da música brasileira. A gente também sempre termina a noite com a mesma música, desde o início e isso já virou uma marca da Terça do Vinil. Sabe-se que chegou ao fim quando se ouve Porque brigamos, da Diana.
Como você definiria o público que frequenta a Terça do Vinil?
Primeiro, um público que eu só tenho a agradecer, porque tem gente que me acompanha desde o início, que frequenta há 2, 3 ou 5 anos. E depois, bom… Eu acho que a música brasileira é imperecível, inclusive uso esse termo como marca do projeto. Imperecível porque é algo que está neste além-tempo, não morre e rompe fronteiras de idade, gênero. Não há como definir o que não se define. Até na música não há como colocar tudo dentro de um pacote só. É música brasileira, mas existem infinidades de diferenças entre artistas, ritmos, regiões, linguagens. É tudo muito vasto, diverso. E acho que a maravilha do projeto é esta: a diversidade.

DJ 440 também atua em outros projetos musicais – Crédito: Alex Ribeiro
Quais seus outros projetos além da Terça do Vinil?
Assim como a Terça do Vinil, tenho outro projeto antigo, um site chamado DNA – Discoteca Nacional, onde disponibilizo download de discos de música independente brasileira. Uma marca do meu trabalho é o fomento da música. Acredito na troca e no compartilhamento e vejo essa plataforma como uma possibilidade de fazer isso acontecer. Colocando o fomento da música para as vias de produção, tenho como um braço da Terça do Vinil a festa “Vinil em Brasa”, que é uma versão, digamos, mais agitada, mais dançante do projeto. Além dessa festa também realizo a A noite dos DJs maliciosos, uma festa de salsa, cumbia e ritmos paraenses, e também a Reunião de bacana, uma festa de samba com bandas e DJs convidados. Tenho também um espaço, chamado Tropicasa, localizado na Rua da Glória, na Boa Vista. Sempre quis ter um lugar pra receber bandas e DJs e, semanalmente, temos uma programação diversa e de altíssima qualidade por lá.
Quais os seus próximos projetos?
Bom, a Terça do Vinil, que é meu “filho” mais velho, comemorou recentemente 10 anos com uma grande festa. O sucesso foi tão grande que estou estudando a possibilidade da Terça do Vinil apadrinhar outras produções, então pode ser que venham novidades com o selo Terça do Vinil de qualidade. Em 2018, a ideia é não parar de produzir, fomentar e também circular, levar, jogar no mundo. Também pretendo fazer alguns circuitos nacionais e internacionais do DJ 440.
