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“Vivi uma experiência ao lado da mulher que mais me inspira e que tanto amo e vi que era uma viagem possível para qualquer idade”, revelou Mariana Serra, co-fundadora da Volunteer Vacations

“Vivi uma experiência ao lado da mulher que mais me inspira e que tanto amo e vi que era uma viagem possível para qualquer idade”, revelou Mariana Serra, co-fundadora da Volunteer Vacations

Mariana tem um carinho especial pelo Haiti. Crédito: Reprodução/Instagram

Nova Zelândia e Taiti foram alguns dos países que Mariana Serra, co-fundadora e idealizadora da Volunteer Vacations (VV), já morou. A carioca, de 32 anos, já trabalhou em projetos na Índia, Tailândia, Costa Rica, Tanzânia e no Quênia, como voluntária na maior favela urbana do continente e em um orfanato, cuidando de crianças com AIDS e tuberculose. Ela também foi escolhida pela Forbes para integrar a lista de jovens mais promissores do Brasil, 30 abaixo de 30, em 2016. “Foi uma grande surpresa e um sentimento de gratidão com uma dose de encorajamento para continuar empreendendo”, comentou a empresária.

Filha de um professor e uma enfermeira, Mariana é formada em Relações Internacionais e desde 2011 pesquisa sobre o conceito de férias voluntárias. Até que no ano de 2013, com férias do trabalho, resolveu fazer parte de um grupo de voluntários de uma creche no Quênia. “Existe uma Mariana antes e depois dessa experiência, que pra sempre vai ficar em mim”, revela a carioca sobre sua primeira experiência com o voluntariado. Após voltar ao Brasil, em três meses, Mariana e seus amigos Alice Ratton e André Fran, criaram a primeira agência de experiência de trabalho voluntário nas férias do país. “Unindo a paixão em comum de três pessoas, ajudar e viajar”, revela Mariana sobre sociedade da empresa. A VV liga o cliente a ONGs parceiras em mais de dez países e entre as instituições estão creches, asilos, centros de recuperação de leões, elefantes e outros animais. Entenda mais sobre a história da empresária, que faz a diferença no trabalho voluntário no Brasil:

Como você ingressou no universo do trabalho voluntário?
Isso aconteceu já na minha adolescência, particularmente em ações pontuais no Rio, como Dia das Crianças, Natal, Páscoa, e sempre foram coisas muito incentivadas pelos meus pais.

Qual sua experiência marcante no trabalho voluntário?
Certamente, a primeira vez que fui ao Quênia, porque foi lá que tudo começou na VV. Eu já tinha voluntariado no Brasil, mas nunca fora e ter ido ao continente africano, em especial no Quênia, foi o que mudou tudo na minha vida.

Além disso, eu viajei quando tinha 27 anos e com a minha mãe, com quase 60 anos. Imagina: vivi uma experiência ao lado da mulher que mais me inspira e que tanto amo e vi que era uma viagem possível para qualquer idade, qualquer momento da sua vida. Ajudamos, rimos, choramos, nos entregamos a um país por completo. Chegamos logo após um atentado terrorista, o 3º maior do país, não sabíamos o que encontraríamos. E lá deixamos tudo que sabíamos para ajudar um orfanato que hoje é parceiro da VV e praticamente todo mês recebe algum voluntário brasileiro. Existe uma Mariana antes e depois dessa experiência, que pra sempre vai ficar em mim.

Como surgiu a ideia de criar uma agência com férias voluntárias? E qual o principal objetivo?
Sou formada em relações internacionais, trabalhava na época em uma multinacional brasileira, em um âmbito totalmente diferente do que faço agora. Era executiva, aprendi muito, mas não era feliz ali, eu não tinha um propósito no meu trabalho, algo maior sabe? Aquilo que te faz levantar todo dia e ter certeza que está fazendo a coisa certa, que o que eu desenvolvia contribuía para um mundo melhor. Como eu não tinha propósito, ficava frustrada e inquieta. A inquietude é muito bom porque te faz agir. Comecei então um MBA no IBMEC e lá tive a oportunidade de fazer uma viagem aos EUA, onde pude jantar, conhecer e conversar diretamente com o Warren Buffet, um dos maiores empreendedores do mundo! Foi um banho de incentivo à querer empreender.

Mariana Serra formou mais de 300 empreendedores quenianos durante a Semana VV de Empreendedorismo com a Vem Gerir, em fevereiro de 2015 – Crédito: Marcelo Spatafora/Divulgação

Nessa mesma viagem conheci o conceito de férias voluntárias, algo que eu já procurava para mim há um tempo. Como estava sem propósito no trabalho, eu comecei a buscar um propósito para as minhas férias, estava em busca de realizar um sonho, de unir duas coisas que eu amava: voluntariar e viajar. Aqui no Brasil, eu já estava procurando e só achava viagens do tipo intercâmbio, nada que fosse somente durante as férias e com foco no trabalho voluntário em si. Mas aí nessa viagem, eu descobri que lá fora já existiam pessoas e agências que faziam isso: férias e voluntariado. Em paralelo, junto com uma amiga de infância, Alice Ratton (que é uma das mulheres que me inspira demais), minha sócia, começamos a desenvolver um portal.

Voltei dessa viagem, trouxe essa ideia e ela adorou. Decidimos que iríamos incluir isso. Nesse meio tempo pesquisando, tive a oportunidade de conhecer o André Fran, outra grande inspiração, hoje meu grande amigo e sócio. Falando com ele veio à luz: focar somente em voluntariado. Surgiu então uma sociedade, Alice, Fran e eu, nasceu a VV (Volunteer Vacations). De conversa em conversa, de sonho em sonho, unindo a paixão em comum de três pessoas, ajudar e viajar.

Todo ano Mariana realiza a Semana VV, na qual a cada camisa vendida um percentual vai para orfanatos apoiados pela agência. Crédito: Reprodução/Instagram

A agência inclui países como Quênia e Tanzânia. Suas experiências pessoais influenciam na escolha dos destinos?
Certamente influenciam! Na realidade agora toda viagem que faço, mesmo de férias, eu tento colocar no meio algum projeto social para conhecer e aí incluir em nossos parceiros. Agora por exemplo, estou na Indonésia de férias. Já temos projetos aqui, vou visitar nossos parceiros em Bali e vou surfar na Ilha de Sumbawa. Aproveito e fazer o que? Conhecer mais um projeto por lá e abrir uma nova parceria. Então sempre fazemos dessa forma.

Quênia e Tanzânia eu fui em 2013, em 2014 iniciamos a VV e esses dois destinos já estavam abertos, através de experiências que eu vivi por lá. Mas hoje em dia não é só isso. É indicação. São ONGs e agências de ajuda humanitária que nos contatam para uma apresentação e vermos as possibilidades de ajudar.

O que te motiva a fazer e proporcionar a experiência do trabalho voluntário a outras pessoas?
A reposta dessa pergunta é o que me faz dormir e levantar todos os dias feliz e certa que estamos no caminho certo. Outro dia estava conversando com a minha sócia, Alice, minha amiga desde os 6 anos de idade, nos olhamos e falamos, olha só, de conversas em café hoje a gente manda centenas de pessoas por ano para o Brasil e para o mundo para ajudar, para lutar e construir um mundo melhor. Pessoas que saíram da sua zona de conforto, sua casa, sua segurança, pagaram e foram investir em algo que contribui para o mundo, que não é só para ela, é para todos. Nós duas falávamos isso com sorriso de orelha a orelha. E essa alegria é a mesma no Fran e em todo mundo que trabalha na VV hoje.

O que certamente motiva a todos nós é o poder que tem a empatia, o olhar para o próximo, o real poder do voluntariado. Você ver a transformação de um voluntário que está buscando ajudar, mas mal sabe ele que ele também vai se ajudar ao ajudar o próximo. A gente vê isso diariamente. Pessoas saindo, indo ajudar e voltando totalmente transformadas. Foram lá, ajudaram, muitas vezes foram além, fizeram ainda mais, e o fizeram porque foram transformadas, impactadas! A verdade é que, o que estamos fazendo não é somente uma viagem de férias voluntárias, estamos também formando novos cidadãos. Pessoas que através de uma experiência vão mudar seu olhar para o mundo, o próximo e através dessa viagem em que ela já ajuda, ela volta transformada ao ponto de mudar até sua percepção no mundo, mudando seu comportamento, estilo de vida e continuando a contribuir ainda mais por um mundo melhor. Eu te pergunto agora, quer motivo maior do que esse em continuar empreendendo socialmente?

Segundo a CI, a grande maioria do público que procura as férias voluntárias é feminino. Como você avalia esse percentual? E por quais motivos?
É exatamente isso. Cerca de 90% do público da VV é feminino. Incrível isso! Agora levamos um grupo para o Haiti, total de 15 mulheres, não foi nenhum homem. Mas isso é mundial. Conversando com pessoas de fora, na Europa, nos EUA, é a mesma coisa, quem mais faz trabalho voluntário é a mulher.

Difícil explicar o motivo, mas a mulher tem o olhar do cuidado, não sei se vem daquele “instinto materno”, mas só sei que mulher se preocupa com o todo, trabalha bem a questão da empatia, consegue se colocar no lugar do próximo, busca entender a dor e sempre ajudar. Eu busco essa resposta até hoje, mas é uma realidade, temos destinos como na fronteira com a Síria por exemplo, e ainda sim, sabendo dos riscos, quem mais vai é mulher. Mas tá aumentando o número de homens que procuram, e aumentando de forma rápida! Isso é bacana. Acho que isso se dá por conta da busca do propósito que hoje todo mundo tem.

Você faz parte da lista da Forbes 30 abaixo de 30. Isso ajudou a divulgar mais seu trabalho e inspirar outras mulheres?
Ah, certamente. Fiquei muito feliz em estar na lista. Foi uma grande surpresa e um sentimento de gratidão com uma dose de encorajamento para continuar empreendendo. Não era somente eu na lista, é o empreendedorismo social na Forbes, uma das maiores revistas de business do mundo. Olha a força que isso tem. Uma revista tradicional colocando na lista uma pequena empreendedora social, que por sinal não faz nada sozinha. Entrei na lista porque junto comigo tenho meus sócios e hoje toda uma equipe maravilhosa da VV que empreende com amor, propósito e objetivos determinados. Ajudou muito a dar credibilidade ao nosso trabalho, as pessoas perceberem o valor da experiência e também da empresa como um todo. Estamos além do lucro, daquele negócio tradicional de bater meta financeira, vamos além, estamos construindo algo que é maior que isso, que é transcontinental, que está em diferentes continentes ajudando e colaborando com diferentes culturas e por um mundo melhor de fato, e isso tudo num modelo de empresa social.

Ajuda a ser modelo para outras pessoas e mulheres certamente, passei a dar mais palestras, a dar mais aulas e escuto muito isso. É gratificante, mas não sou diferente, nem melhor que ninguém por fazer isso, simplesmente fui atrás de um sonho, fui atrás de fazer o que eu amo e no meio do caminho descobri tanta mulher que faz o mesmo, são elas que me inspiram hoje, que me fazem continuar, mulheres determinadas, com diferentes atribuições e que fazem. No meu Instagram (@marianaserra) comecei a falar dessas mulheres com a hashtag #mulheresquevinomundo porque não sou só eu, recebo tanta mensagem linda, falando de inspiração, admiração, mas existem milhares de outras e quero mostrar a todos o poder e força dessas mulheres e mostrar principalmente que somos todos sim capazes de fazer algo, cada uma em seu âmbito, com sua atuação e seu dom.

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