Paixão de Cristo de Nova Jerusalém: Uma trajetória fundada de pai para filho
Considerado o maior espetáculo ao ar livre do mundo, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém já reuniu mais de 3,8 milhões de pessoas ao longo de seus 51 anos de história. Encenada em Fazenda Nova, distrito de Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, a peça conta parte da história de Jesus Cristo, tornando-se uma verdadeira tradição cultural no período da Semana Santa, em Pernambuco.

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém completa 51 anos de história – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Além de propagar os valores religiosos de nossa cultura, o espetáculo tornou-se um grande responsável por fomentar o turismo no Estado. Sua divulgação gera frutos durante todo o ano, principalmente, na época da Semana Santa. Nesse período, a rede hoteleira do Recife e polos turísticos como Porto de Galinhas, Gravatá e Caruaru recebem um grande fluxo de visitantes que chegam para assistir as apresentações. No Brejo da Madre de Deus, onde está localizada a cidade-teatro, circulam em torno de 250 mil pessoas durante toda a temporada.
No elenco desta edição, nomes como Renato Góes, Fabiana Pirro, Tonico Pereira, Kadu Moliterno, Nicole Bahls e Vítor Fasano darão a vida aos personagens bíblicos. A peça ainda contará com algumas novidades, entre elas, nova intervenção artística em alguns cenários (que remetem ainda mais a Roma antiga), mudanças no figurino e na estrutura de palco (no encontro de Maria com Jesus), e a inclusão de dançarinos plus size, que prometem chamar atenção no bacanal de Herodes. Com mais de 6 mil ingressos vendidos, a estimativa durante os 8 dias apresentações, que ocorrerá de 23 a 31 de março, é de cerca de 65 mil pessoas.

Renato Góes interpretará Jesus na 51ª edição do espetáculo – Crédito: Felipe Souto Maior
Robinson Pacheco, Presidente a Sociedade Teatral de Nova Jerusalém e Produtor Executivo do espetáculo, carrega consigo a missão de garantir a continuidade da Paixão de Cristo. Filho de Plínio Pacheco, fundador da cidade-teatro de 100 mil metros quadrados, ele conta que desde à infância seu pai o nomeou como assistente, o que lhe fez testemunhar sua capacidade de trabalho e determinação para tirar o projeto do papel.
“Quando foram finalizados os últimos cenários, na década de 90, eu já era adulto. Havia me afastado da Nova Jerusalém para seguir o meu próprio caminho. Sempre gostei do campo e lidar com a pecuária era a atividade que me realizava. Mas o destino nem sempre se encaixa em nossos planos. O peso dos anos e a necessidade de garantir a continuidade da Paixão de Cristo levaram Plínio Pacheco a me convocar mais uma vez. Desta feita, me “nomeou” o seu sucessor” relembrou.

Robinson Pacheco, Presidente a Sociedade Teatral de Nova Jerusalém e Produtor Executivo do espetáculo Paixão de Cristo – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Desde então, ele afirma ter encarado a tarefa de dar continuidade a esse trabalho com muita responsabilidade, mas fazendo questão de reconhecer que, nesse processo, a participação da sua família foi fundamental. Atualmente, a organização conta com o suporte direto de sua esposa Tânia (responsável pela administração) e dos filhos Robinson (administração e assistente de coordenação), Marina (coordenação de figurino) e Gabriela (assessoria jurídica e administração). Ao todo, mais de 1050 pessoas, entre atores, técnicos, maquiadores, sonoplastas, eletricistas, contrarregras, diretores, cabeleireiros, figurinistas, porteiros, serviços gerais, entre outros, são selecionadas para produzir o espetáculo.
“Graças a essa grande equipe chegamos a 51ª temporada da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, um espetáculo dinâmico, belo, moderno e ao mesmo tempo maduro e respeitado. Isso só me faz lembrar uma das frases marcantes de Plínio Pacheco: “Sozinho, ninguém faz nada de importante””, declarou.
Confira a entrevista completa:
Quais são as novidades para a edição deste ano? Novos cenários? Novos efeitos especiais?
Os cenários do Fórum de Pilatos, do Templo de Jerusalém e do Palácio de Herodes foram renovados. Utilizando uma técnica de pintura conhecida como faux finish (falso acabamento, em francês), suas paredes lisas em texturas com aspecto de mármore travertino e pedra envelhecida. Isso deixou os cenários com aspecto mais realista e mais ricos. Os figurinos dos personagens principais foram renovados. Com base em pesquisas históricas e estudos de cores, o guarda roupa ganhou mais realismo e ficou mais fiel aos trajes dos habitantes da região da Judéia durante o domínio romano há cerca de 2 mil anos.
Qual a cena mais difícil de montar no espetáculo da Paixão de Cristo?
Não existe assim uma cena mais difícil. Todas são muito complexas. Umas possuem efeitos especiais precisos de operação. Outras, requerem ensaios mais detalhados devido a grande quantidade de figurantes, atores e atrizes em cena. Todas são grandiosas e impactantes.

Rômulo Arantes Neto interpretou Jesus na edição de 2017 – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Cite alguns nomes de destaque que já assistiram ao espetáculo durante todos esses anos.
O cantor Roberto Carlos, cineasta italiano Franco Zeffirelli, e os Presidentes da República: Ernesto Geisel, João Figueiredo, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva.
Após a Paixão de Cristo, como fica a manutenção do teatro?
Após cada temporada da Paixão, nos voltamos para a Pousada da Paixão e seus eventos. A Pousada funciona durante todo o ano com seus 40 apartamentos e seus 9 pacotes. Uma das finalidades deste empreendimento turítico é dar utilidade a cidade teatro durante todo o ano, gerando emprego. No segundo semestre, iniciamos os trabalhos de pré-produção da Paixão do ano vindouro.
Quais os maiores desafios de coordenar um espetáculo com uma carga cultural tão grande dentro e fora do estado?
Por se tratar de um megaevento, os desafios são vários. Mas, nada que torne impossível de se resolver.
Temos grandes e bons parceiros. Temos também, uma ótima equipe em sua maioria, “escolada” com o decorrer dos anos. Tudo se resolve com muita boa vontade, empenho e profissionalismo. Porém, o maior desafio mesmo, é fazer com que esta enorme equipe de quase 1.500 pessoas, conceba suas responsabilidades e passe a exercer suas funções com a qualidade que a nossa Paixão de Cristo de Nova Jerusalém exige.

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2017 – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Como é administrar uma peça realizada no maior teatro ao ar livre do mundo, onde as cenas vão transpassando os cenários movendo o elenco e o público ao mesmo tempo?Administrar é na realidade, coordenar. Temos aqui uma grande equipe chamada de coordenação que tem a função de coordenar a apoiar o público durante seus deslocamentos. Acredito que este formato concebido na época por Luis Mendonça, filho do casal Epaminondas e Sebastiana Mendonça, pais de Diva Pacheco, foi originado de um movimento existente na época de um bloco de carnaval Ideal, da minha avó, Sebastiana de nome. Este bloco Ideal, que saía no domingo de Carnaval, visitando casas dos compadres e amigos. Talvez seja coincidência, mas certa vez, pensando e me fazendo esta mesma pergunta, deduzi que o espetáculo da rua, seguia a mesma lógica. Cada cena em um local diferente, fazendo um percurso parecido com o bloco, aproveitando ao máximo os prédios e ambientes naturais como cenários. Daí, acredito eu, nasceu a dinâmica do espetáculo móvel. Do carnaval ao espetáculo nas ruas. Das ruas, ao maior teatro ao ar livre do mundo. E o mais interessante disso tudo, único no mundo em seu formato. Como disse em seu livro recém lançado, do figurinista Victor Moreira, “Tudo aqui em Fazenda Nova, nasceu de uma grande brincadeira”. Fazer figurinos épicos, usando lençóis do hotel do meu avô Epaminondas Mendonça, e Elmos romanos feitos de latas de queijo do Reino. Assim nasceu a Nova Jerusalém de hoje um grande sonho de vários e verdadeiros sonhadores.
Como foi o processo da escolha do elenco desta edição?
No processo de escolha do elenco, partimos de alguns tópicos. Biotipo, disponibilidade, e vontade de participar.
São três pré-requisitos decisivos. Este ano partimos convidando Tonico Pereira, por ter sido colega e dirigido por Tio Lourinho, (Luís Mendonça), no teatro Carioca. Luís Mendonça, foi o primeiro autor, Diretor do Drama do Calvário em fazenda Nova. Renato Góes, Pernambucano, jovem ator, louco pela Nova Jerusalém e a Paixão, como uma peça realizada no maior teatro ao ar livre do mundo – sendo móvel.

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2017 – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Quais os processos para trazer tamanha realidade à encenação?
A Nova Jerusalém já nasceu grande e real. Aqui a pedra, é pedra. A terra, é terra. Tudo aqui é muito real. O fogo das lamparinas, archotes e candeeiros são reais, o cheiro do mato, a lua cheia, o céu estrelado, os palácios, arruados, lagos, pátios, e plateias, tudo real. Povo, gente, fé, amor, trabalho, seriedade.
Tudo isso somado ao depreendimento do casal pioneiro que inventou tudo, Plínio e Diva Pacheco, não poderia sair outra coisa, senão a realidade das cenas deste mágico espetáculo.
A que você atribui o sucesso permanente do espetáculo, que anualmente bate recordes de bilheteria?
O sucesso permanece, entendo, ser devido a temática apresentada. Jesus e sua história, jamais serão esquecidos.
Além, de todo inusitado formato que o teatro de Nova Jerusalém oferece. Espetáculo ao ar livre, móvel, cinematográfico, bem produzido, bem cuidado em todos os detalhes. O visionário Plínio dizia:
“Dormiu na Fama, cai da Cama” Esta é uma frase que nos faz acordar mais cedo, cuidar melhor das coisas e trabalhar com seriedade e afinco. Nosso público, historicamente, é muito leal ao nosso Projeto. Não podemos decepcioná-lo. Temos a missão de honrá-lo sempre, com um espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, renovado e dinâmico.
Nas frases do nosso fundador: “Temos a fé de todos os Santos Sertanejos; Temos a força de todos cangaceiros e volantes; Somos os construtores da Nova Jerusalém”. Não podemos parar. Crises passam. Nós ficamos. São 51 anos de história, 51 anos de muito trabalho, seriedade. São mais de meio século de amor e arte e, em especial, a Pernambuco. Quanto ao recorde de bilheteria, há alguns anos não conseguimos esta façanha. O que notamos à cada ano, é que nosso público vem sendo fiel, se mantendo, entre 50 e 60 mil pessoas. O nosso recorde, foi em 1997, quando recebemos 72 mil pessoas, mas só temos que agradecer.

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2017 – Crédito: Felipe Souto Maior/Divulgação
Porque achas que a apresentação não se perde no tempo? Afinal, todo ano o espetáculo é o mesmo, mas ainda assim as ruas de Nova Jerusalém ficam lotadas. Poderíamos atribuir este feito a fé? Ou acredita que muitos vão pela primeira vez, por curiosidade?
Acredito ser devido se tratar da história do maior exemplo de homem que já existiu em todos os tempos. Jesus impressiona com seus ensinamentos, e simplicidade. Somado a história, temos uma peça maravilhosa, bem escrita emocionante e felizmente concebida pela mente geniosa do seu autor, Plínio Pacheco. Somado a estes itens, vem outros grandes talentos de sonoplasta do nosso querido Hugo Martins, que nos empresta seu precioso tempo desde 1970, escolhendo músicas, temas de cada cena. Temos a dupla perfeita de diretores artísticos, Carlos Reis e Lúcio Lombardi, como maestros cuidadosos, regem com enorme cuidado cada detalhes do espetáculo, dirigindo competente elenco. O projeto de luz, de som, de efeitos especiais. Temos ainda o super talento de figurinista, Victor Moreira, que desde a primeira apresentação do Drama do Calvário em 1951, nas ruas da vila de Fazenda Nova, cria e desenvolve os figurinos da nossa Paixão de Cristo. Hoje, assessorado por Marina Pacheco, pesquisam, desenvolvem e criam figurinos novos e coordenam todos os anos, inovações maravilhosas, nas roupas deste megaevento.
Em suma, uma grande equipe, por trás desta gigantesca produção. Tá aí o segredo do sucesso.
Além do turismo, quais os benefícios que o espetáculo traz para Pernambuco?
No nosso singelo entender, são vários os benefícios que um evento desta natureza trás para nosso estado.
A paixão de Cristo de Nova Jerusalém, é teatro. Teatro é cultura. Pernambuco sempre se destacou na cultura nacional e Nova Jerusalém tem também esta missão de propagar a cultura pernambucana durante a quaresma com o seu maga evento que é divulgado em todo o Brasil. Além de lotar a rede hoteleira do estado, toda cadeira produtiva do turismo é beneficiada durante 10 dias. Outro grande beneficio para o Estado, é a exposição de mídia que o evento da Nova Jerusalém possibilita. São 2.500 inserções de mídia pela Rede Globo, de Salvador a Manaus, em todos os estados do Norte e Nordeste, mais 30 Países pela Globo internacional, além das inúmeras matérias jornalísticas geradas por vários veículos de imprensa do Brasil e exterior.
