Cristina Amaral prepara turnê para a Europa com o DVD Minha Voz Minha Vida

Cristina Amaral prepara turnê para a Europa com o DVD Minha Voz Minha Vida

Crédito: Reprodução/DVD minha voz minha vida

Natural de Sertânia, de tímida ela não tinha nada. Shows de calouros, apresentações no coral da igreja e participações em diversos eventos estudantis foram os primeiros passos artísticos de Cristina Amaral, considerada uma das grandes referências da música nordestina.

Ao longo de seus 33 anos de carreira, dedicou-se fielmente a apresentação e valorização de nossas raízes culturais. Através de sua voz, o forró, o frevo e o baião de Pernambuco foram elevados ao mundo. Áustria, Suíça, Portugal e França são alguns dos locais por onde passou, deixando o legado da tradição de um povo que às 5h já estava de pé a ouvir Luiz Gonzaga ou o Trio Nordestino. “Sinto que já fui predestinada à arte. Desde menina, me dedicava a cantar na frente do espelho, mexendo o cabelo”, conta Cristina.

Apesar deste apego com o que é de sua terra, ela confessa que a música, de um modo geral, é o que lhe emociona, mas não nega o fato de que, sempre que puder, fará do Nordeste um lugar de referência. “A essência do forró está em mim. Sou o forró, como diz uma de minhas primeiras músicas consagradas. Foi o início de tudo. Mas fui de bailes e cantava o que fazia sucesso na época. Gal Costa, Elis Regina e Clara Nunes, por exemplo, me inspiram até hoje”, comentou.

Crédito: Reprodução/DVD minha voz minha vida

Seu último trabalho, Minha Voz Minha Vida, gravado no Parque Dona Lindu, em outubro de 2014, acaba de ser eleito o melhor DVD pelo 9º Prêmio da Música de Pernambuco, que também a nomeou como Melhor Cantora de Forró. O projeto contou com a participação de diversos artistas, entre eles Genival Lacerda, Lucy Alves, Jorge de Altinho e Priscila Senna, apresentando músicas que passeiam por seus 30 anos de carreira, como “Severina Xique Xique”, “Mon amour, meu bem, ma famme” e “Ai menina”.

Como forma de agradecimento por tamanha representatividade local, pela primeira vez na história, Cristina recebeu a Coroa de primeira-dama do Cais do Sertão. O projeto inédito pretende coroar uma cantora representante da cultura nordestina que faça a diferença na preservação e desenvolvimento das expressões artísticas, valores e tradições da região.

Cantora Cristina Amaral é eleita Primeira-dama do Cais do Sertão – Crédito: Francisco Andrade/Divulgação

Além da música, ela dedica seu tempo a ações sociais, como o projeto Sertânia sem Fome, que tem como objetivo ajudar crianças e famílias carentes de sua cidade natal. “Começamos nessa luta com a ajuda de muitas pessoas de Recife. Nossa ideia é transformar vidas, trazer essas crianças para a sociedade, para que elas possam ter os mesmos direitos” explica.

Crédito: Reprodução/DVD minha voz minha vida

Essa defesa apaixonada por suas raízes e seu povo, algumas vezes a envolveu em polêmicas quando o assunto era a participação do novo sertanejo em nossas festas juninas, “Não é ser contra ninguém, mas brigar pelo da gente”. Conversamos com a cantora, confira:

Quais seus planos para propagar a preservação e desenvolvimento das expressões artísticas locais após ter sido nomeada Primeira-dama do Cais do Sertão ?

Estou muito feliz por ser a primeira-dama do Cais do sertão. Isso para mim significa muito como artista porque tudo que quero é preservar e valorizar nossa cultura. Nada melhor que o museu do estado, que tá ali justamente para isso. Tenho muitas ideias, projetos, muita coisa boa vai acontecer. Quero todo mundo junto, unido, para a gente ter essa consistência com a nossa música e valorizar cada vez mais os artistas e compositores. Tenho certeza que essa parceria vai ajudar muito. Como primeira-dama e representante da cultura nordestina, tenho muito o que apresentar e fazer pela nossa música e cultura. A preservação é o mais importante. Tenho um propósito ali: amor, preservação, valorização e colocar tudo isso em projetos. Vou dar tudo de mim para fazer acontecer.

Crédito: Paula Maestralli

 
Para você, qual a importância de projetos como este? Como eles refletem em nosso cenário musical?
 
 É muito importante para o artista ser valorizado dessa forma. Você vem de um trabalho de muito tempo e o reconhecimento é tudo. O que reflete é um grande incentivo a cultura nordestina.
 
Além de ações de incentivo à música, você está  envolvida com o projeto “Sertânia sem fome”. Quais os trabalhos que serão realizados na sua cidade natal?

Esse projeto é o meu xodó. Nasceu em 2013, idealizado pelo engenheiro e advogado André Pinheiro, que estava passando em Sertânia e conheceu uma comunidade muito pobre, de pessoas totalmente sem educação e higiene, morando em casinhas de taipa. Natural da cidade, eu conhecia esse lado e tive o apoio de André para trabalhar em cima disso. Começamos nessa luta com a ajuda de muitas pessoas de Recife. Nossa ideia é transformar vidas, trazer essas crianças para a sociedade, para que elas possam ter os mesmos direitos. Surgiu o Lar Fraterno Vovó Cavendish, que atende 40 crianças estudantes de escolas municipais, que vão para lá ter aulas complementares. Lá, elas lancham, almoçam, refeições que não tinham em casa. Isso fez crescer cada vez mais esse projeto. Ficamos felizes em ver o amor transformando a vida dessas crianças. É prazeroso demais ver essa transformação. É um projeto que em minha mente, quero dar continuidade, vê-las crescerem, estudar, fazer vestibular. Queremos acompanhar todo o crescimento. Não só dos pequenos, como das famílias. Todo mês fazemos doações de cestas básicas para 250 casas. Sempre agradeço a Deus por me dar esse dom de cantar e através da música poder ajudar tanta gente. 

Como você avalia o mercado musical em Pernambuco atualmente? 

Para mim, o mercado continua efervescente. Muitos compositores, intérpretes, produzindo e progredindo. Inclusive artistas e compositores novos aparecendo. Mas não vai ao conhecimento do público porque não tem espaço na mídia, infelizmente.

Crédito: Paula Maestralli

 Em sua opinião, quem permaneceu  no cenário musical com obras consistentes e quem regrediu?

Vários artistas despontaram na cena musical, Luci Alves, Flor de Mandacaru, Bruno Lins. Outros que surgiram pós-movimento mangue beat como Otto, Cordel de Fogo Encantado e Johnny Hooker. Em minha opinião, todos têm obras resistentes, na verdade o que regrediu foram as oportunidades. Elas estão cada vez mais escassas para os artistas regionais, principalmente para aqueles de raiz que preservam a cultura nordestina. 

Considerando a importância do forró em sua trajetória e o quanto seu trabalho tem como objetivo valorizá-lo, como você avalia nosso São João?

O São João é a festa mais tradicional de todo o Nordeste. Desde que me entendo por gente que as festas juninas são comemoradas com autênticas músicas regionais, forró, xote, baião, arrasta pé. O forró está perdendo espaço para os outros ritmos sim. É uma pena o que os gestores estão fazendo. Contratando atrações que descaracterizam todas as tradições juninas de nossa região.

Crédito: Paula Maestralli

Sobre o DVD Minha Voz Minha Vida, que recebeu o prêmio de melhor DVD no 9º Prêmio da música de Pernambuco, como foi o processo de criação?

Antes de ser artista profissional, ouvia muito Gal Costa, era muito fã. Uma de suas músicas que eu mais gostava era Minha Voz e foi ela quem inspirou o título de meu DVD, Minha Voz Minha Vida. Convidei Luciano Magno para fazer a direção musical, escolhemos o repertório em cima do trabalho que já faço, com composições que marcaram a minha carreira e convidamos vários artistas como Luci Alves, Zé Barbosa, Jorge de Altinho, entre outros.

Quando, como e onde você iniciou a carreira musical?

Comecei minha carreira em Sertânia, com 13 anos, cantando no coral da igreja. Participava de um grupo de jovens chamado CJC. Aos 16 anos, fiz baile com a banda Marajoara e com Flavio José nos Tropicais. Participei de vários festivais de música sacra, frevo, MPB e sempre levei os prêmios.

 

Crédito: Paula Maestralli

Como você define o seu estilo musical?

Me defino uma cantora eclética, porque vim de uma escola chamada baile, onde passeamos por vários ritmos. Sou uma apaixonada pela música nordestina, minhas influências de Luiz Gonzaga, Jaque Pandeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil… Com eles aprendi a amar nossa cultura. Sou uma eterna apaixonada pela música que representa esses grandes poetas nordestinos.

 

Já houve alguma situação inusitada durante a carreira?

Aconteceu uma história engraçada com Jorge de Altinho. Foi tirar as férias de um amigo de Sertânia e ficou hospedado na casa de um pessoal na minha rua. Quando eu ia passando em frente, me chamaram para apresentá-lo. Na época, ele era só compositor, ainda não tinha seguido carreira profissional e eu também não. Meus amigos falaram: um grande compositor, Luiz Gonzaga já gravou música dele, o Trio Nordestino também… Eu não acreditei. Cheguei em casa para confirmar essa história, tinha discos de Trio Nordestino e fui conferir se realmente tinha seu nome. Imediatamente voltei para conversar e ouví-lo. Foi assim que tive o prazer de conhecer esse grande ícone da música nordestina.

Crédito: Reprodução/DVD minha voz minha vida

 

 

Além de trabalhar com a divulgação de seu DVD, tem mais algum projeto em mente?

Minha meta é focar no DVD, trabalhar mais, viajar o Nordeste e Brasil com esse trabalho. Ele está lindo, muito bem produzido, só recebo elogios. Quero dedicar-me a isso nesses próximos dois anos. Em janeiro de 2019, eu viajo em turnê para a Europa, França, Alemanha…. vou dar uma sacudida, levar nossa música. 

Author: Eduarda Andrade

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