Sandra Bertini fala sobre a importância, credibilidade e reconhecimento do Cine PE
Considerado uma das maiores vitrines da produção audiovisual brasileira, o Cine PE chegou à sua 22ª edição, após adiamento devido à crise de abastecimento. Realizado mais uma vez no Cinema São Luiz, sob curadoria de Edina Fujii, Danolo Calazans e Edu Fernandes, o festival apresenta filmes de diferentes gêneros: experimentais, com um apelo mais popular, intimista, de jovens diretores ou nomes renomados, mais “cabeçudo”, “careta”, politizado e “coxinha”. Fundado em 1997, o projeto tem como objetivo incentivar a produção cinematográfica, além de proporcionar ao seu público uma rica mostra de conteúdo audiovisual.
Entre os homenageados, Rodrigo Santoro, Cássia Kis Magro e Kátia Mesel receberam o Troféu Calunga no palco do Cine PE, na última quinta, sexta e sábado. Segundo Sandra Bertini, diretora do festival, a escolha foi feita como uma forma de agradecimento por suas contribuições ao universo cinematográfico. Além disso, também houve uma homenagem institucional à empresa Box Brasil, maior programadora independente brasileira e única independente multicanal.
Uma das grandes novidades desta edição é a votação do juri popular, na qual será realizada através de um aplicativo, desenvolvido especialmente para o evento. Sobre isso, Sandra Bertini, diretora do Cine PE, ressalta a necessidade de adaptar o festival à realidade de seu público, enfatizando que hoje em dia todos vivemos em um universo digital.
Em entrevista, ela compartilhou os detalhes dos bastidores e falou sobre a escolha da nova data, afirmando que nem mesmo o imprevisto foi capaz de tirar a animação daqueles que tradicionalmente comparecem ao evento. Quanto aos prejuízos, releva que não houve grandes danos, mas lamenta apenas a perda de alguns convidados, causadas pelo conflito de agenda. Confira:
Quais os danos ocasionados pelo adiamento devido à crise do abastecimento?
É realmente uma situação inusitada no país. Todos fomos atingidos pela greve, não apenas os grandes negócios, mas também os projetos culturais. No Recife, vários espetáculos culturais foram suspensos. Os maiores danos ficam pela perda de alguns convidados, por conta das agendas. Porém, em termos de programação dos filmes, não houve prejuízo algum.

Sandra Bertini – Crédito: Daniela Nader/divulgação
Qual o grande destaque desta 22ª edição?
O número de inscrições. Esse é o destaque dessa edição. Foram 503 filmes inscritos. Isso mostra a importância do evento, a sua credibilidade e seu reconhecimento nacional. A quantidade de filmes permitiu que a curadoria propusesse uma programação muito diversa em termos de linguagem, de narrativas, de presença de diretores, filmes de várias regiões, etc.
Uma das novidades deste ano é o aplicativo para voto popular. De onde surgiu a ideia e porque investir nela?
É verdade. Já fizemos várias formas de voto popular, durante esses 21 anos de evento, mas precisamos acompanhar a modernidade. Hoje tudo passa pelo digital. O nosso público é jovem, antenado, moderno, e nada mais justo que oferece-los uma forma de voto moderna também.
Como é montado o quadro de programações?
Tudo passa por uma curadoria. Este ano trabalhamos com três curadores que escolheram os filmes para compor as grades das mostras competitivas. Existe um grande debate entre eles e a direção do evento, no sentido de construirmos uma programação plural, diversa e que atenda aos anseios do público do Cine PE.
Sobre a curadoria, quais os critérios de seleção para a escolha do material exibido?
O critério mais importante é a possibilidade de construir uma programação plural, diversa, que represente o que está sendo produzido na cinematografia nacional.

Sandra Bertini, diretora do Cine PE – Crédito: Lana Pinho
Quanto aos homenageados, por que a escolha por Rodrigo Santoro, Cássia Kis Magro e Kátia Mesel?Qual a relação de ambos com o Cine PE?
O Rodrigo Santoro e a Cássia Kis são artistas de grande relevância para o cenário audiovisual brasileiro e, no caso do Santoro, sua carreira internacional tem sido também muito exitosa. Ambos foram premiados com o troféu Calunga no Cine PE de 2001, pelas suas participações no filme Bicho de sete cabeças, de Laís Bodanscky. Ele como melhor ator e ela como atriz coadjuvante. A Kátia Mesel é uma diretora genuinamente pernambucana que tem como fonte de inspiração o folclore do nosso estado, por meio da música, dos folguedos populares, da gastronomia. Ela divulga Pernambuco para o mundo e este ano faz 50 anos que trabalha nesse ofício. É alguém que merece todo o nosso carinho e respeito profissional pela sua história.
Quais as principais dificuldades encontradas para realizar um evento de grande porte como o Cine PE?”
Não diria que são dificuldades, mas qualificaria como “desafios profissionais”, algo que todos têm em seus trabalhos diariamente. Justamente por ser um evento de grande porte, precisamos sempre renovar para atender às expectativas do patrocinador, do público, dos diretores e produtores dos filmes, e também da equipe, para sentirmos prazer e orgulho do que está propondo fazer a cada edição. Sinceramente, se hoje você perguntar à classe que trabalha com produção cultural sobre as dificuldades envolvidas em empreender nessa área, acredito que o que mais entrava é o exagero da burocracia.

Cine PE celebra sua 22ª edição – Crédito: Lana Pinho
Como você enxerga a importância do festival para as produtoras cinematográficas locais?
O festival é uma grande vitrine para os realizadores de filmes, em especial quando as janelas de exibições são raras, especialmente para o curta metragem. Portanto, ter um espaço para exibir filmes pernambucanos é muito especial. Tivemos 39 filmes de Pernambuco inscritos nessa edição. O festival dá visibilidade ao que é produzido localmente. Essa é uma das missões do evento e estamos comprometidos com ela, e por essa razão temos uma mostra competitiva de curtas locais. Nesta edição vamos assistir oito filmes do nosso estado, além de mais três curtas daqui que estão na mostra curta nacional.

Sandra Bertini – Crédito: Lana Pinho
Uma das novidades para 2019 é a parceria com o Portomídia. Explica um pouco de onde surgiu essa união e quais as pretensões de ambos os projetos?
Essa parceria está começando a ‘”engatinhar”, mas já está rendendo muitos frutos. O Portomídia dispensa apresentações sobre sua importância para o audiovisual. Nós, que somos de Pernambuco, sabemos perfeitamente da sua credibilidade. No final do ano passado fomos acionados para fazer uma ação em um evento realizado por eles. Fizemos uma mostra com filmes da cineasta Kátia Mesel e um seminário sobre economia do audiovisual. Uma surpresa maravilhosa que é a premiação que será dada ao melhor filme da mostra Pernambuco, segundo o júri oficial do Cine PE. O Portomídia dará a cessão de 120 horas em laboratórios de pós-produção em imagem e/ou som. Também estamos com uma parceria num workshop de ilustração digital que acontecerá durante o Cine PE.
Na coletiva de imprensa realizada no último mês, você confirmou que em outubro acontecerá a primeira edição do Cine PE mercados e seminários. Qual a finalidade do evento?
Sim, é verdade. O nome do evento pouco importa, mas a proposta é fazer algo inédito em Pernambuco, voltado para o negócio do audiovisual, envolvendo toda a cadeia produtiva do segmento: distribuidores, exibidores, TVs abertas e pagas. Nosso objetivo é tanto ajudar a escoar a produção regional, priorizando as produções do norte, nordeste e centro oeste, como também fortalecer a profissionalização dos envolvidos nesse mercado, por meio das clínicas/oficinas.

Cinema São Luiz – Crédito: Lana Pinho
E sobre a primeira edição realizada em 1997, quais suas melhores lembranças?
Sou economista, formada pela UFPE e sempre fui técnica em pesquisa. De repente, fui surpreendida para desenvolver esse projeto. Começamos a desenha-lo em 1994, sendo sua primeira edição em 1997. Eu não conhecia produção cultural, precisei estudar, inclusive fiz uma pós graduação em cinema na UNICAP, fiz alguns cursos particulares e também comecei a circular em muitos festivais, para conhecer o ambiente de um festival.
Todos os festivais nos deixam lembranças “positivas” e “negativas”, porém eu deleto rapidinho as lembranças que não fazem a gente evoluir e crescer. Sendo assim, há uma lembrança inesquecível que revelo aqui. O momento em que Fernanda Montenegro foi ovacionada durante 10 minutos pelo público do cine Teatro Guararapes. Quase três mil pessoas aplaudindo de pé a dama da dramaturgia brasileira, pela sua participação no filme “Central do Brasil”. Fizemos a primeira exibição dele no país, quando ainda retornava premiado do Festival de Berlim. Foi incrível… Maravilhoso!
