Os tesouros escondidos da cidade do Recife e a história que eles contam

Os tesouros escondidos da cidade do Recife e a história que eles contam

A arquitetura do Recife é um convite à uma aula de história, contada através de casas, sobrados e mansões coloniais até edifícios nos estilos modernistas e contemporâneos, que são verdadeiras obras de arte. Andar pelo centro e algumas regiões da Zona Norte da cidade é como fazer uma verdadeira viagem no tempo.

Muitos desses imóveis caíram no esquecimento, alguns abandonados e largados à própria sorte. Mas outros permanecem sendo cuidados e preservados e estão em plenas atividades, como verdadeiros tesouros escondidos na cidade. O Blog João Alberto preparou um pequeno guia com espaços que unem história, cultura e arte. Confira:

Templo Conciliação

Numa das várias andanças que costuma fazer pelo centro do Recife, a estudante de Direito, Marina Rodrigues, 22, avistou uma construção antiga, diferente dos demais imóveis da localidade. Resolveu investigar o que era aquela casa na cor de azul que a chamou tanta atenção. Junto com uma amiga, ficou refletindo sobre o que a casa poderia ser. Apostaram em um convento ou uma escola. No final das contas, indo até lá, descobriram que o imóvel se tratava, na verdade, de um templo. “Estávamos indo confeccionar um presente nas proximidades da Avenida Conde da Boa Vista (onde fica o casarão) e resolvemos guardar o carro no local (onde também funciona um estacionamento)”, conta Marina. “Perguntamos ao manobrista, que nos contou que na casa funcionava um templo maçônico”.  Marina não visitou o local, mas ficou encantada com o prédio. O Templo Conciliação foi fundado em 1907 para abrigar algumas Lojas Maçônicas do estado e também foi recepção de grandes eventos de autoridades locais na época.

Hoje, percebe-se que a construção sofreu com os efeitos do tempo, mas continua com suas atividades. Seis lojas maçônicas ainda funcionam no local, que, aos poucos, vem passando por pequenas reformas a fim de recuperar seu aspecto imponente de outrora. Dentro do templo funciona também um pequeno museu, onde são expostos objetos da época, como as cadeiras onde sentaram o D. Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina durante uma visita ao Recife. Para conhecer o local, é preciso agendar visitas de segunda a sexta pelo telefone (81) 3032-0726.

Casa Cultural Villa Ritinha

Casa Cultural Villa Ritinha fica na Rua da Soledade Crédito: Roberto Ramos/DP

Assim como Marina, muitos recifenses acabam não tendo conhecimento de alguns espaços históricos que unem cultura e arte na cidade. A Casa Cultural Villa Ritinha é um desses imóveis antigos que hoje abrigam e ajudam a contar a história do Recife. A edificação passou por uma série de reformas para ser aberta ao público em 2017, como foi construída na década de 1840.  No príncipio, o número 35 da Rua da Soledade era a residência de um barão português do açúcar, que batizou a casa de Ritinha em homenagem à sua esposa. Mas, de lá para cá, a moradia de uma nobre família acabou virando hotel, pensão e até prostíbulo.

O empresário e art designer alemão Klaus Meyer, idealizador do espaço, fez uma minuciosa pesquisa para, junto a sua equipe de obras, resgatar com fidelidade a beleza e a história do lugar. “Buscamos fotos da década de 1920 e documentos do governo que descrevem toda a casa. Vamos manter todos os detalhes originais para preservar a história”, contou o atual dono da casa, após a inauguração do espaço em 2017.

Atualmente, Villa Ritinha funciona como um centro de cultura, recebendo exposições de arte, eventos musicais, gastronômicos, entre outras manifestações culturais. No espaço, também funciona um café-bar. O centro cultural é aberto ao público e funciona das 13h às 21h, de terça-feira a sábado.

Gabinete Português de Leitura

Gabinete Português de Leitura abriga mais de 80 mil volumes Crédito: Marlon Diego/Esp.DP

A rua Imperador Dom Pedro II, bairro de Santo Antônio, abriga um imponente casarão. É impossível passar por ali e não reparar: o Gabinete Português de Leitura é a casa de milhares de livros e funciona como um elo entre o Recife e Portugal, transformando a via num pequeno refúgio lusitano no centro da cidade. Fundado em 1850, o gabinete recebeu inúmeros encontros da comunidade portuguesa em Pernambuco. A primeira sede ficava na Avenida Marquês de Olinda, bairro do Recife. Em 1921, mudou-se para a rua com um nome mais português, onde está localizada até hoje. Prestes a completar 168 anos, o lugar resiste como símbolo da cultura lusitana e é referência no quesito literatura no estado.

Crédito: Brenda Alcantara/Esp.DP

O acervo do gabinete conta com 80 mil volumes, incluindo obras raras dos séculos 17, 18 e 19. Gênios portugueses dormem ali, nas estantes do casarão, à espera de visitas que queiram ler suas ideias. Entre eles, os famosos Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Saramago e, é claro, Luiz de Camões. A obra mais conhecida deste último escritor, o clássico Os Lusíadas, edição de 1880, está guardada no gabinete de leitura em uma capa banhada a ouro.

No auditório e salão de exposições ocorrem seminários, conferências, reuniões, solenidades, lançamento de livros, exposições fotográficas e projeção de filmes portugueses. O espaço dispõe de uma sala de estudos aberta ao público com capacidade para cerca de 50 pessoas. Climatizada e com internet Wi-fi liberada, conta ainda com as edições diárias de jornais de Pernambuco e Portugal. O Gabinete Português de Leitura funciona de segunda a sexta-feira, das 18h às 17h e é aberto ao público.

Academia Pernambucana de Letras

Solar foi ocupado por duas nobres famílias Credito: Ricardo Fernandes/DP. Local

A Academia Pernambucana de Letras é um casarão vistoso da Avenida Rui Barbosa, no charmoso bairro das Graças. É impossível não reparar nele quando se atravessa uma das principais vias da Zona Norte do Recife. O que pouca gente conhece é a história que mora dentro do solar branco e azul, que atualmente é a casa dos escritores de Pernambuco.  A casa foi morada de duas nobres famílias do Recife. O Barão Rodrigues Mendes, de acordo com a Academia, foi o segundo a se mudar para o casarão no então bairro aristocrático de Ponte D’Uchoa. Por muito tempo permaneceu sob os cuidados da última família até viver, em meados do século XX, um “semi-abandono” e ser comprada em 1966 pelo Governo do Estado.

A partir 1973, o solar virou o que é hoje: a sede da instituição literária sem fins lucrativos, onde quarenta imortais descansam em suas cadeiras. Lá, os escritores pernambucanos discutem sobre o fortalecimento das Letras no estado e promovem eventos culturais nos jardins e nos salões do casarão.  Muitos desses eventos são abertos ao público, bem como a visitação à Academia. No próximo dia 23, haverá um evento gratuito no casarão para comemorar o Dia Nacional do Escritor. Entre as atividades programadas, estão apresentações de cantadores e exposição, nos jardins do casarão, de obras literárias de várias academias do estado. Para maiores informações: 81. 3268-221.

Centro Cultural Benfica

No meio da movimentada Rua Benfica, um casarão se esconde em meio a algumas árvores. O sobrado, um dos muitos centenárias na rua do bairro da Madelena, tem amplas portas e detalhes compostos por colunas de azulejos que combinam com as cores da construção.

A casa do século 19 foi batizada de Joaquim Cardozo, engenheiro civil pernambucano que também foi poeta, contista, desenhista e editor de revistas especializadas em arquitetura. Não podia ser diferente. Uma construção tão poética só poderia receber o nome de alguém que tivesse contribuído para a literatura e a arte no estado. O terraço do casarão, repleto de árvores, é bucólico mesmo no meio de uma cidade grande.

Desde 2001, funciona no local o Centro Cultural Benfica, um espaço extensionista da Universidade Federal de Pernambuco. Quatro instituições são abrigadas pelo centro: o Teatro Joaquim Cardozo, a Livraria Benfica, o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) e o Acervo Museológico Universitário, que reúne uma coleção de obras de cerâmica da UFPE. Diversas atividades culturais acontecem frequentemente no casarão, como lançamento de livros, projeção de filmes, apresentação de peças teatrais, concertos musicais e exposições artísticas e a realização de cursos, seminários e palestras. O Centro Cultural Benfica é aberto à visitação pública. O acesso é gratuito. Para mais informações:  2126.7387/7388

Author: Bettina Novaes

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