Vogue Brasil veicula capa polêmica em meio à pandemia de coronavírus
Na contramão de decisões editoriais de revistas de moda em todo o mundo, que têm buscado soluções criativas para se posicionar no contexto da pandemia de coronavírus, a Vogue Brasil escorregou no tom e gerou polêmica com sua capa de maio de 2020. Protagonizada por Gisele Bündchen, a publicação celebra os 45 anos da revista e sugere um “novo normal” diante do período delicado que a humanidade atravessa em função da Covid-19. O “novo normal”, porém, não se mostrou tão “novo” ou consciente como o público brasileiro esperava.
Enquanto outras publicações apostaram em capas sem foto, imagens de profissionais de saúde ou produções com marcas autorais de seus países, a Vogue Brasil percorreu um caminho desvinculado do momento vivido pelo Brasil, que segue na crescente de sua curva de contaminações por coronavírus e cumpre protocolos de distanciamento social. “O momento de reclusão nos faz, de alguma forma, reavaliarmos nossas vidas. É um convite a rever nossas prioridades e valores. A vida nos deu um chacoalhão e nos fez olhar não só para dentro de nós mesmos, mas para como agimos e nos relacionamos com o outro”, publicou Gisele em seu Instagram. A intenção externada por ela nas redes sociais, contudo, não fica clara para quem se depara com a capa em questão. Considerada um símbolo do padrão de beleza consolidado nos anos 1990, Gisele veste peças de grife e não faz o “link” esperado com o cenário da pandemia. “Nas páginas, refletimos sobre como a simplicidade é mais que uma tendência de moda, mas parte vital do ‘novo normal’”, diz o perfil da Vogue Brasil no Instagram.
>> Julgamento nas redes
Nas redes, o público reagiu à capa da Vogue Brasil de maio. “Gisele incorpora o minimalismo e a simplicidade vestindo Prada? Se toca, Vogue Brasil”, publicou uma internauta. “Normal é tudo que não está nesse momento. Gisele na capa e Prada. Realmente normal…”, disse outra. “Se liga na nova realidade, Vogue”, pediu uma outra. “Isso é o velho normal!”, endossou mais um. Alguns seguidores contra-argumentaram que Gisele teria sido escolhida não somente por sua beleza, mas por seus trabalhos sociais e engajamento com causas em defesa da sustentabilidade e pelo combate ao coronavírus. Mas a polêmica estava feita.
A revista e a “cover girl” Gisele ressaltaram que o editorial e a capa já estavam prontos, tendo sido produzidos antes do período de isolamento coletivo e programados para a comemoração dos 45 anos da Vogue Brasil. O argumento, no entanto, não convenceu. Muitos leitores usaram as redes para sugerir que o material poderia ter sido armazenado e usado numa outra oportunidade, nos próximos meses, evitando a sensação de alienação – que contribui para estigmatizar o jornalismo de moda em momentos de crise como o atual.