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Juliano Holanda prepara disco autoral e avalia papel da arte nos dias atuais: “é a pergunta e a resposta”

Juliano Holanda prepara disco autoral e avalia papel da arte nos dias atuais: “é a pergunta e a resposta”

Juliano Holanda está mergulhado na produção de novo disco autoral, Sobre a futilidade das coisas. Foto: Tiago Calazans/Divulgação

O músico pernambucano Juliano Holanda encontrou na literatura de Dom Quixote o ponto de partida para seu novo disco solo, Sobre a futilidade das coisas, que lança no segundo semestre deste ano. Em entrevista ao Blog João Alberto, falou sobre suas inspirações, seu processo criativo e o papel da arte em meio à pandemia. “A arte é o grande espelho. Aquele que reflete, que distrai, que aponta, que denuncia e diverte”, avalia Holanda.

“A arte está na medula de tudo que te põe pra pensar. Creio que nesse momento atual, a arte é a pergunta e a resposta”, complementa Holanda, que nos últimos quatro anos desde seu último disco, Espaço-tempo, se dedicou a compor, tocar e produzir para trabalhos de outros artistas. Agora, reúne canções autorais inéditas no novo disco, como a faixa Eu, cata-vento, que lançou nas plataformas de streaming no mês passado, gravada no Estúdio Musak antes do período de isolamento social. Confira entrevista:

BLOG: Como tem vivenciado esse ano atípico? O que tem feito em isolamento social?

Tenho procurado compor bastante. Feito parcerias novas, expandido as possibilidades. Também tenho lido muito e tentado me nutrir de boas energias.

BLOG: Esse isolamento contribuiu para catalisar os planos do disco solo? Ou já estava previsto?

Já estava previsto, mas a quarentena nos levou a repensar alguns processos.

BLOG: Quais as inspirações por trás de Sobre a futilidade das coisas?

Meus discos surgem de momentos de inquietação. Não estabeleço datas, deixo que cheguem. Este surgiu de um reencontro meu com a literatura de Dom Quixote. Foi o estalo inicial. Tem uma canção chamada Rocinante, que é o nome do cavalo dele. Quixote tinha esse pangaré, que ele via um alazão. Essa miragem quixotesca do mundo me moveu pro disco. É uma análise sobre a coisificação dos seres e a humanização dos objetos.

BLOG: Depois de assinar muitas composições para outros artistas, sentia falta de mergulhar num trabalho seu, como compositor e intérprete?

Vou guardando umas músicas. Coisas que vão ficando pelo caminho. Acho que o baú vai enchendo de ideias e chega um momento em que é preciso colocar pra fora. Componho muito e fatalmente nem tudo é aproveitado. Tem umas canções que grudam mais em mim. Essas costumam ser as que gravo.

O artista dedicou os últimos quatro anos dedicado a compor e produzir trabalhos para outros artistas. Foto: Tiago Calazans/Divulgação

BLOG: Tem envolvimento previsto em outros projetos, de parceiros musicais? Algo engatilhado para este ano?

Estou em processo de gravação dos discos de Tomfil e Agda Moura. Além de ter composto parcerias com Igor de Carvalho que estarão no seu próximo EP.

BLOG: Como descreveria o intervalo entre Espaço-tempo, seu disco anterior, e Sobre a futilidade das coisas? Considera que foi um período frutífero artisticamente? Trouxe amadurecimentos?

Bastante. Viajei um bocado nesse tempo. Fui a muitos lugares, escrevi, li, aprendi muita coisa. Foi também o período de formatação e realização da Reverbo, mostra coletiva de música autoral que participo.

BLOG: Em linhas gerais, qual o papel da arte e dos artistas nesse momento delicado que a humanidade atravessa, de instabilidades e inseguranças sociais, políticas e de saúde?

A arte é o grande espelho. Aquele que reflete, que distrai, que aponta, que denuncia e diverte. A arte está na medula de tudo que te põe pra pensar. Creio que nesse momento atual a arte é a pergunta e a resposta. É o que pode nos lembrar que somos humanos.

BLOG: Quem você espera que escute Sobre a futilidade das coisas? Para que perfil se destina esse disco? O que ele tem de mais especial a dizer?

Pra mim, o processo criativo é algo intensamente íntimo. E por isso mesmo creio que se expande pra tantos lugares distintos. Não vejo o público como alvo, vejo como flecha, em todas as direções. Espero que o disco acesse algum lugar nas pessoas que se permitirem. É um testemunho sincero de alguém que vive o seu tempo.

Author: Larissa Lins

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