Em nova exposição virtual, artista plástica recifense reflete sobre afetos na quarentena

Sala por Ianah Maia

A artista plástica recifense Ianah Naua lança novo projeto de poesias visuais em seu perfil no Instagram @ianah_. Com apoio da Lei Aldir Blanc, a iniciativa aborda, sob o olhar feminino e negro, a liquidez das relações afetivas vividas durante o isolamento social. Conversas nos stories, festinhas em salas de conferência, interações online… O afeto em tempos de isolamento social ganha novos contornos através da web. A distância entre o real e o virtual e a solidão durante a pandemia são temas que perpassam o novo trabalho da artista, com a exposição virtual ‘Me Apaixonei Pelo Filtro Que Projetei em Você’.

Lançado oficialmente em 18 de janeiro, o trabalho vem compilando escritos e pinturas que compõem narrativas poéticas sobre relações afetivas vividas durante o isolamento na pandemia. A cada semana, vídeos, fotos e imagens ilustradas em diferentes formatos e linguagens, são postados em seu perfil, poetizando o desafio de viver afetos através de interações virtuais e de períodos de quarentena compartilhada. O conteúdo formará, até meados de fevereiro, uma exposição virtual com seis poesias visuais sobre a temática. Um mosaico artístico de impressões e sensações de uma mulher negra acerca das paixões solitárias durante o isolamento, da efemeridade dos momentos presenciais e da fragilidade do real virtual – no qual emojis, likes e mensagens propõem muita aparência mas pouca fidedignidade no campo dos sentimentos.

Confira algumas artes da expo:

Cartaz da exposição Me Apaixonei Pelo Filtro Que Projetei em Você

“Considero importante falar de sentimento, para a gente se entender e ajudar as demais a se entenderem também. Afeto é quase sempre uma ferida para a mulher negra”, relata a artista. Com inspirações verídicas em momentos da quarentena, e no trabalho de artistas como Luedji Luna e da autora e teórica feminista norte-americana Bell Hooks – que defende a lida com o afeto como forma de empoderamento – o projeto lança, sobretudo, uma reflexão sobre a qualidade do afeto vivido em tempos de quarentena e de vida social online.

Entre galerias e murais, Ianah é conhecida por seus traços cheios de personalidade e o uso de tinta natural feita de terra – a geotinta. Na nova exposição virtual, ela inova ao unir o orgânico de sua técnica e o ambiente digital, para abordar o afeto no real, no virtual, e, até mesmo, para além desses campos. Pinturas digitalizadas simbolizam o afeto liquefeito nas camadas de Internet, que amplificam expectativas e encobrem possibilidades reais de sentimento , inclusive de amor próprio. 

]Nos textos das postagens, poucas palavras dizem muito. Trocadilhos e jogos de palavras tecem a veia poética, junto a recursos de música, localização, reels e stories, ferramentas que ajudam a contar uma história cronológica, quase como numa novela visual. “Nas poesias, brinco com essa moda dos filtros que tanto o pessoal usa, uma metáfora para as projeções que fazemos a respeito do outro, e também uma provocação sobre como a gente aparece para as pessoas através das redes”, conceitua ela. A exposição ‘Me apaixonei pelo filtro que eu projetei em você’ conta com incentivo da Lei Aldir Blanc em Pernambuco e pode ser acompanhada gratuitamente através do Instagram @ianah_. 

>>A ARTISTA

Natural da capital pernambucana, Ianah Maia é artista visual e técnica em agroecologia. Seu trabalho autoral circula entre pinturas, arte urbana, animações e auto-retratos fotográficos. Ianah traz um olhar honesto, enegrecido e de uma beleza incomum sobre afetos e sentimentos que ela encontra em si e em outras mulheres negras. Sua pesquisa artística toca o feminismo interseccional, a agroecologia, a decolonialidade, as culturas afro-diaspóricas e o ativismo afro-eco-feminista ao qual se dedica.

Desde 2012, tem integrado exposições coletivas e individuais entre Olinda e Recife, em espaços como Galeria Janete Costa, Casa do Cachorro Preto, Galeria Urban Arts e Museu da Abolição. Em 2017 participou da residência artística InArte/Urbana (Natal/RN), onde começou a investigar a técnica da tinta natural de terra (geotinta) para uso em murais de arte urbana. Desde então vem dedicando a maior parte de suas produções a essa técnica.

Atualmente, Ianah integra três movimentos: o coletivo artístico Entremoveres, que faz parte do Levante Nacional Trovoa; a Terra Coletiva, coletivo de artistas brasileiros que trabalham com tintas naturais; e a crew de graffiti e arte urbana PixeGirls. Outras exposições de destaque foram na Casa Naara (Rio de Janeiro, 2017); e sua última exposição individual, ‘Temporal’, inaugurada no Mia Café (Recife, 2019), a primeira totalmente dedicada à técnica da tinta de terra. 

Author: Mariane Magno

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