Gustavo Krause na biografia de Zózimo Barrozo do Amaral

azozimoNa contra-capa do livro

Um livro fantástico é Enquanto Houver Champanhe, há esperança, biografia de Zózimo Barrozo do Amaral, com quem tive o privilégio de estagiar, no início da minha coluna. Vale a pena ler esta entrevista que o autor concedeu ao jornal O Globo. E com uma curiosidade. Na contra-capa do livro uma notícia de Gustavo Krause, um dos incontáveis “furos” que Zózimo deu na sua coluna, uma das melhores de toda a história do colunismo social brasileiro.

Em 1969, Zózimo Barrozo do Amaral chamou a atenção da censura ao publicar uma nota sobre um general do alto escalão do governo militar. Acabou tornando-se o primeiro colunista social preso na história do país. Ao ver o símbolo da elite e do glamour do Rio adentrar sua cela, um dos intelectuais perseguidos pela ditadura exclamou: “Os homens enlouqueceram! Eles estão agora prendendo eles mesmos!”.

Zózimo teve uma vasta e movimentada carreira no jornalismo. Começou no GLOBO, onde ficou de 1963 a 1969, mudou-se para o “Jornal do Brasil” e voltou à sua primeira redação em 1993, permanecendo lá até a sua morte, aos 56 anos, em 1997. Não por acaso, porém, o episódio da prisão abre “Enquanto houver champanhe, há esperança: uma biografia de Zózimo Barrozo do Amaral”, de Joaquim Ferreira dos Santos, que será lançada em 3 de novembro. Ele confirmou uma mudança nas colunas sociais, que já não se aproximavam dos ricos e poderosos apenas para registrar gourmandises e finesses, mas também para noticiar os bastidores da política e da economia. Convidado em 2013 pela Intrínseca a escrever a história de Zózimo, Joaquim entende do assunto. Repórter e cronista, trabalhou com o biografado no “Jornal do Brasil” e assinou durante dez anos a coluna Gente Boa, no GLOBO. Em quase 700 páginas, ele reconstrói o árduo trabalho diário de um colunista que, sem perder o gosto pela boa vida, preferiu ficar “mais perto da máquina de escrever do que do bufê”.

 

Contar a história de Zózimo é contar a evolução de um produto jornalístico tipicamente brasileiro, a coluna de notícia. Qual a contribuição do seu biografado para essa atividade?

A ideia do livro é trabalhar com a grande angular, fazer um perfil desse período de transição da cidade, da mudança das redações, desse tipo de ocupação dentro de um jornal, a coluna de notícias. Os colunistas ainda lutam com essa coisa inglória que é a busca pelo furo. O Zózimo incluiu nela um novo sabor. Ele queria sempre tirar um sorriso do leitor.

 

Quando Zózimo começa na profissão, ela já deixou de ser a crônica social pura para se tornar um lugar de notícia…

A revolução começa com Maneco Muller, nos anos 1940. Já existiam centenas de colunas que cuidavam de sociedade carioca, casamentos, batizados… Havia um fascínio por esse mundo, uma espécie de conto de fadas com príncipes reais. Só que os colunistas sociais os afastavam em seus casarões. Maneco percebe que essa gente está misturada na cidade. Com ele, a coluna social ainda não é notícia, mas já tem um tom de crônica, de comportamento.

 

No livro, Maneco percebe que não há separação entre produção artística e vida social. Com Ibrahim Sued começa a busca pelo furo e até os bastidores da política. Qual é a marca de Zózimo?

O Manoel Bandeira dizia que Rubem Braga era ainda mais genial quando não tinha assunto para sua crônica. Zózimo era assim com as notícias. As notas mais clássicas dele não são furo, aquela “bomba-bomba’’ do Ibrahim Sued. Ao longo do tempo, ele vai enxugando o texto, num processo de depuração. O Ancelmo Gois dizia que ele tinha o melhor texto em três linhas do jornalismo.

 

Author: João Alberto

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