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“Enfrentamos muitas dificuldades financeiras, o restauro já enfrentou diversas paradas”, afirma Padre Rinaldo Pereira sobre o restauro do telhado da Igreja Madre de Deus

“Enfrentamos muitas dificuldades financeiras, o restauro já enfrentou diversas paradas”, afirma Padre Rinaldo Pereira sobre o restauro do telhado da Igreja Madre de Deus

Natural de Caruaru, Padre Rinaldo Pereira resolveu ingressar na vida sacerdotal quando ainda era estudante de odontologia e letras. “Nos últimos dois anos da faculdade de odonto, já tinha em mente que iria entrar para os Capuchinhos, então em 1994 entrei na vida sacerdotal e aprendi muito com eles”, revela o Padre.

Crédito: Paulo Paiva / DP

Conhecido pelos belos sermões durante as cerimônias de casamento no Recife, ele revela que a inspiração para as pregações vem da cena que presencia. “Faço tudo com simplicidade, reverência e a devoção que é necessária, mas nada de extraordinário”, afirma o sacerdote de 46 anos. Formado em odontologia, abriu um ambulatório no convento do Pina, em 2002, beneficiando os moradores do bairro, parando de exercer a profissão no mesmo ano.

Assumiu, interinamente, em setembro de 2015, a presidência da comissão de intervenção, na época dos escândalos das irmandades, caso em que foram descobertos a adulteração e o superfaturamento na venda de túmulos no Cemitério de Santo Amaro. “Ainda estamos trabalhando no caso. Já resolvemos muitas coisas. Hoje está tudo mais apaziguado”.

Crédito: Peu Ricardo/DP

Atualmente, ele é pároco da Igreja Madre de Deus, localizada no Bairro do Recife, da Concatedral de São Pedro dos Clérigos, no bairro de Santo Antônio, e diretor do Museu de Arte Sacra, em Olinda. Entre as mudanças que já promoveu no museu estão a catalogação de todas as peças do local,  lançado nesta semana. “A grande motivação desse trabalho foi a celebração dos 40 anos do museu. Essa sempre foi a meta. Uma forma das pessoas terem acesso a todo o belo material que temos”, explica ele. Além disso, o padre está à frente do restauro do telhado da Igreja Madre de Deus. “Enfrentamos muitas dificuldades financeiras, o restauro já enfrentou diversas paradas, tem mais de um ano essa reforma, por falta de recursos”, lembra. Em entrevista ao Blog João Alberto, Padre Rinaldo Pereira comenta sobre suas missões humanitárias. Confira:

Como foi o processo de criação do catálogo do museu?
Fizemos um grande trabalho de catalogação de todas as peças que existem no museu. A grande motivação desse trabalho foi a celebração dos 40 anos do museu, essa sempre foi a meta. Uma forma das pessoas terem acesso a todo o belo material que temos. Chamamos Drailton Gomes para fotografar todo o acervo e depois procuramos a Cepe para fecharmos uma parceria. Trabalhamos um ano e meio nessa publicação. A publicação mostra as principais coleções do museu e tem textos do governador e do vice, do Arcebispo, do Secretário de Cultura, meu e de outros nomes importantes para a instituição.

Crédito: Paulo Paiva / DP

Quais as principais mudanças que o senhor já promoveu como diretor do Museu de Arte Sacra?
Tenho o privilégio de ter uma excelente equipe comigo. Profissionais competentes e compromissados com causa de defender a cultura. Uma de nossas conquistas, no ano passado, foi o projeto de restauro e requalificação do Museu. O projeto está arcado em R$10 milhões e ainda estamos na fase de capitação de recurso, mas isso dará um novo rosto ao local. Muita coisa que está no acervo também precisa de restauro, estamos tentando isso pela Lei Rouanet e procurando parceiros que apoiem a causa.

Uma de suas características fortes são os belos sermões durante cerimônias de casamento no Recife. A que atribui?
Não invento nada paralelo, apenas sigo o ritual. Faço tudo com simplicidade, reverência e a devoção que é necessária, mas nada de extraordinário. Também acredito naquilo que estou assistindo, a manifestação do amor de Deus, que é capaz de fazer duas pessoas se amarem.

Crédito: Peu Ricardo/ DP

Como é a sua dedicação às missões humanitárias?
Ao longo dos anos que estou aqui, me dedico ao alívio do sofrimento da comunidade. Tento, junto ao poder público, fazer ações que melhorem a comunidade. Agora tenho me dedicado diretamente à Comunidade de Nossa Senhora do Pilar, que faz parte da Paróquia Madre de Deus. Lá, eu enfrento desafios de todos os tipos. Acabei de entregar 500kg de peixe para a Semana Santa. Além disso, a comunidade é marcada por violência, drogas e miséria. Eles são completamente esquecidos.

O senhor é formado em odontologia. Já fez algum projeto ligado à área durante a vida sacerdotal?
Morei no convento do Pina e lá abrimos um ambulatório, atendíamos algumas pessoas, mas nunca fiz um grande projeto, isso é uma frustração. Parei com a profissão em 2002, não sei nem para onde vai mais. Mas atualmente, a Comunidade do Pilar está na lista de espera para receber um ônibus da Defensoria Pública com benefícios.

O senhor assumiu a presidência da comissão de intervenção na época dos escândalos das irmandades, recebendo até ameaças de morte. Como reagiu?
Primeiramente comunicamos à polícia, buscar ajuda é importante. Tivemos um mês de viaturas policiais fazendo ronda pelo local. Não mudei minha rotina, continuei com a missão, acreditei em Deus e tive uma sensação de grande proteção e amparo.

Como foi o seu trabalho na presidência do conselho que investigou o escândalo das irmandades em Pernambuco?
O processo canônico da Igreja é sigiloso e demorado, então ainda estamos trabalhando nele. Já resolvemos muitas coisas. Hoje está tudo mais apaziguado.

O senhor está na administração da Igreja Madre de Deus desde fevereiro de 2016. O que mudou após sua chegada?
Como também estou no Museu, tenho um olhar mais focado na questão cultural. Minha luta é para manter esse patrimônio de Pernambuco. Enfrentamos muitas dificuldades financeiras, o restauro do telhado já enfrentou diversas paradas, tem mais de um ano essa reforma, por falta de recursos. A Igreja Madre de Deus e a Comunidade do Pilar são, no momento, os dois presentes que Deus me deu. Cheios de desafios.

Crédito: Arquidiocese de Olinda e Recife/Divulgação

Como o senhor ingressou na vida sacerdotal?
Antes de entrar para o convento estudei letras e odontologia, e sempre tive muita vivência com os Frades Capuchinhos lá em Caruaru, minha cidade. Nos últimos dois anos da faculdade de odonto, já tinha em mente que iria entrar para os Capuchinhos, então em 1994 entrei na vida sacerdotal e aprendi muito com eles. Em 2011, recebi o chamado para entrar na Diocese. Nunca deixei de servir à Igreja, apenas mudei de instituição. E até hoje tenho uma dívida de gratidão com os frades.

Durante os 15 anos de vida sacerdotal, qual foi o momento que mais te marcou?
Muitas situações marcam a vida da gente, mas eu diria que quando um jovem, que se dizia ateu, com uma doença terminal, me procurou e eu o acolhi. Foi um momento marcante. Fizemos juntos um caminho de descoberta do amor de Deus, da fé, do conforto, da palavra de Deus. Infelizmente, ele veio a falecer, mas faleceu cristão. Ainda hoje celebro missas por ele. Aprendi muito com ele, em meio ao seu sofrimento e encontro com Deus.

Padre Rinaldo entre os bispos Dom Antônio Tourinho e Fernando Saburido. Crédito: Fernando Machado

Por quantas Igrejas o senhor passou no Recife?
Morei minha vida toda no Convento de São Félix. Em 2015, fui para a Paróquia de São Paulo Apóstolo, em Jardim São Paulo. Em 2016, assumi a Igreja da Madre de Deus e a partir desse ano também ficarei na Concatedral de São Pedro dos Clérigos.

Existem muitos padres que escrevem livros e fazem shows pelo país. Você pensa em seguir nesta esfera?
Gosto muito de escrever, o que talvez possa ser chamado de poesia. Utilizo também como uma forma de rezar, quem sabe em um futuro próximo seja publicado, mas não agora. E sobre cantar, admiro quem tem esse dom, mas não me vejo nessa posição.

Quais são seus futuros projetos?
Sonho em ver a Igreja da Madre de Deus no caminho em que possamos avançar no restauro. Que possamos preservar este patrimônio e dar dignidade ao templo. Outro sonho é que a Comunidade do Pilar receba suas moradias e o povo tenha uma vida digna.

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