Chadwick Boseman deixa legado: “Deu esperança para vários que viram nele uma possibilidade”

Por Eric Ferreira, a convite do Blog João Alberto
Sou um jovem negro apaixonado por super-heróis. Vejo filmes do gênero desde que me entendo por gente, tendo sido esse entretenimento uma das minhas primeiras janelas para o entendimento das engrenagens do mundo.
Em 2018, me deparei com o cartaz de Pantera Negra, da Marvel. Estranhei. Chadwick Boseman estava no centro. Só havia atores negros. Então veio o estalo (mais avassalador que o de Thanos!). Eu nunca me vi na cor da pele, no cabelo e nos traços faciais dos meus heróis caucasianos favoritos. E isso trazia uma consequência muito perigosa, pois era silenciosa. Implicava que, para eu ser feito eles, teria que negar o que eu era. Como eu poderia me olhar no espelho e ter a certeza de que seria o Capitão América? Sem representatividade, não dava.
Quando assisti ao filme, senti as vibrações dos tambores da ancestralidade negra através do blockbuster (pasmem!), dentro de uma sala de cinema; ter visto os personagens principais de pele e traços negros, de cabelo crespo, passando naquela tela, foi como se uma parte de mim tivesse se encontrado, se aceitado. Eu vi oportunidade! É como se um mantra silencioso começasse a ser entoado: “eu também posso”. E mais: outros como eu, nossas filhas e filhos também irão se ver nesses heróis e entender que podem ser protagonistas na vida com as características que trouxeram no seu DNA. Não precisamos mudar. Somos heróis.
Hoje, recebemos a notícia da morte de Chadwick, o homem que, antes de si mesmo, talvez também nunca tenha se visto em seus heróis. Era um de nós. Aos 43 anos, foi vítima de um câncer tão agressivo quanto improvável, pois geralmente só atinge os com mais de 50. Partiu em casa, em paz, rodeado pelos que o amavam. Cercado pela admiração de um mundo inteiro que dele se orgulhava. Devia estar tranquilo.
Em algum lugar, Chadwick está sendo recebido, ao som dos tambores, por aqueles que vieram antes de nós. Cumpriu sua missão. Salvou o mundo. Porque deu esperança para vários que viram nele uma possibilidade. Perdeu a única batalha que já sabemos que nunca ganharemos. Tornou-se eterno. Vida longa ao Rei Pantera Negra. Depois de Chadwick, não tem como não ser Wakanda para sempre!
