Obras de Tarsila do Amaral ganham vida na animação Tarsilinha

Telas como Abaporu, A Cuca e A Feira, da pintora modernista brasileira vão integrar a novidade. ganham A história de Tarsilinha, animação de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo – formados, respectivamente, pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, abre espaço para o legado de Tarsila do Amaral. A trilha sonora é de Zezinho Mutarelli e Zeca Baleiro, que ainda interpreta, ao lado de Ná Ozetti, a canção-tema, especialmente composta para o longa. Produzido pela Pinguim Content (de O Show da Luna e Peixonauta), produtora fundada pelos diretores, o filme foi finalizado em março de 2020, mas por causa da pandemia de covid-19 teve sua estreia adiada, que agora está prevista para o dia 17 de março. No enredo, uma menina de 8 anos enfrenta muitos desafios para tentar recuperar as lembranças que foram roubadas de sua mãe, e enquanto passa pelas paisagens criadas pela artista, contracena com os personagens dos quadros e dos desenhos que também ganham vida.
O Saci (na voz de Skowa), com o qual Tarsilinha (Alice Barion) faz amizade, assim como o Sapo (Ando Carvalho), que gosta de inventar palavras – parafraseando o escritor modernista Oswald de Andrade –, e a Lagarta (Marisa Orth), a vilã da trama que mora num lugar isolado, dentro do Abaporu, que no filme é uma grande montanha no meio do Vale do Sem Fim, são alguns dos personagens do longa. Há ainda o Pássaro (Marcelo Tas), que vende o bilhete de trem para Tarsilinha, e a Cuca (Cristina Mutarelli), da qual a protagonista foge por conta do medo. O filme surgiu entre 2007 e 2008 com a ideia aproximar o público infantil do legado da Tarsila do Amaral, como conta o diretor Kiko Mistrorigo. A sobrinha-neta da artista, que tem o mesmo nome em sua homenagem, procurou a produtora Pinguim Content com o objetivo de incentivar as crianças, desde a pré-escola, a conhecer o trabalho de uma grande artista. Segundo ele, o projeto foi ganhando corpo, e de audiovisual passou para um longa-metragem, que faz um mergulho no universo de Tarsila do Amaral e também no Modernismo brasileiro.
“Não queríamos fazer uma biografia da artista, e por isso partimos de suas obras”, relata Célia Catunda, irmã da artista Leda Catunda. Para além da animação das obras de Tarsila do Amaral, o longa constrói um universo através do recorte das obras da artista das fases Pau Brasil e Antropofagia – em que ela inovou nas cores e formas. Os quadros ganham a linguagem tridimensional, a mesma das obras que parecem sair das telas, e servem de cenário para essa grande aventura de Tarsilinha por um mundo mágico, recheado de personagens criados também pela artista. As cenas da cidade e de paisagens do interior paulista, como da zona rural que Tarsila do Amaral tanto conhecia, já que viveu em uma fazenda, fazem com que “o público tenha a sensação de estar mesmo naquele lugar”.
Célia
Outro conceito do roteiro foi o de trabalhar o Modernismo, mas não de forma didática. Assim, o longa ganhou como fio condutor a questão da memória e das influências externas que se vai colecionando e guardando na memória, como aponta a diretora. Além disso, diz Célia, apresenta outros contextos, como é o caso da obra Abaporu (quadro emblemático da fase antropofágica de Tarsila do Amaral), que no filme tem seu mistério mantido, ao mesmo tempo em que levanta a questão da deglutição.
