Um artigo de Paulo Dalla Nora Macedo

LISBOA: Ao completar um ano em Portugal aproveito para refletir sobre as conversas, que tive oportunidade de ter nas mesas do Cícero Bistrot, com diversas personalidades portuguesas centrais na relação com o Brasil: o atual e ex-Primeiro-ministro Antônio Costa e José Manuel Durão Barroso; o Chanceler João Cravinho; o Prefeito de Lisboa Carlos Moedas; além de dezenas de artistas, jornalistas e lideranças da sociedade civil.
Estimulados pela arte brasileira, o Brasil sempre foi um dos temas centrais das conversas. Em comum, todos demonstram uma profunda admiração pelo que reconhecem como a grande obra de Portugal: o Brasil.
É dessa forma que eles demonstram um afeto gostoso de se ver e sentir pela minha terra, diverso do que muitas vezes observo em alguns dos meus compatriotas, especialmente de uma estirpe de patriotas que parecem ter vergonha do que nós somos: um País que – culturalmente diverso – tem na sua arte a sua verdadeira alma.
Com tamanha reserva de afeto, ficou claro para mim que o Brasil tem uma grande oportunidade em investir em uma relação ainda mais próxima com Portugal: o seu acesso privilegiado ao mercado comum europeu é um ativo que o Brasil deveria olhar com muito mais carinho. E Portugal precisa saber colocar-se como essa plataforma europeia.
Como exemplo: uma joint-venture de uma empresa luso-brasileira, sediada em Portugal, ganha automaticamente um “golden visa” para toda a Europa através do acordo de livre circulação de pessoas, serviços e mercadorias.
Uma grande oportunidade para redefinir e intensificar essa relação foi a Cúpula Portugal-Brasil, que se realizou mem abril.
Espero, sinceramente, que o Brasil entenda a oportunidade que se apresenta e saiba capitalizar o enorme bem-querer que os irmãos portugueses têm por nosso País, sem deixar-se impressionar por um limitado número de radicalizados desse lado do Atlântico que buscam notoriedade pelo ódio.
O Presidente Lula demonstrou, em novembro passado, na mesa do Cícero, com o Embaixador de Portugal no Brasil, ter compressão da oportunidade.
Pelo lado de Portugal, as vantagens também são claras: acesso a uma invejável capacidade de investimentos geridos por inúmeras empresas altamente sofisticadas e prontas para disputar espaço em mercados mais maduros.
Tomara que bons ventos soprem nessa Cúpula, que para ter sucesso precisa olhar além da relação Portugal – Brasil e adentrar a Europa.
