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Uma noite num Bunker em Israel

Minha noite num bunker em Israel

           Confesso que tenho assistido com a maior consternação as reportagens sobre o criminoso ataque do Hamas a Israel, deixando milhares de mortos, principalmente de civis. Tive a felicidade de ter feito cinco viagens à Terra Santa, passando por alguns dos locais onde acontecem conflitos. Muitas das matérias falam dos bunkers que a população de Israel usa para fugir das bombas, misseis e foguetes.

           Cercado de nações com os quais tem conflitos históricos, Israel adotou desde cedo políticas de proteção básica contra os constantes ataques desses inimigos. O país tem leis que exigem a construção desses espaços de segurança, os bunkers Segundo dados ao Ministério da Defesa israelense, existem atualmente pelo menos 2 milhões dessas estruturas no país. A TV tem mostrado inúmeros relatos de pessoas que buscam proteção nesses locais, inclusive de brasileiros.

           Três anos depois da sua fundação, Israel aprovou, em 1951, uma lei de defesa civil, exigindo que todas as construções, públicas ou privadas, tivessem, esses bunkers, como abrigos antibombas. Em 1991, devido ao uso de armas químicas pelo Iraque, na Guerra do Golfo, uma nova lei determinou novos padrões para essas construções, aumentando sua segurança.

           Conheci muitos deles, nas visitas que fiz, em residências, hotéis e em kibutz. Inicialmente o bunkers eram pelo menos parcialmente subterrâneos. Depois, o termo passou a designar qualquer estrutura fortificada para proteção das pessoas. E foram se adaptando às leis israelitas. A de 1951 determinava que os abrigos antibombas fossem construídos no subsolo, com porta reforçada, ter suprimentos e sistema de ventilação. Todas as construções deveriam ter um, mas moradores próximos podiam dividir o mesmo local. Atualmente, as regras foram flexibilizadas. O exigido é que todos os prédios ou casas tenham um quarto fortificado – pelo menos um por andar. Normalmente é um quarto da casa ou apartamento, usado no dia a dia.

           Quando surge algum problema, poderosas sirenes são acionadas e as pessoas têm um minuto e meio para chegar a um desses bunkers para se proteger do ataque. Uma sensação digamos de terror.

           Vivi esta experiência, na minha primeira viagem a Israel, em 1974. Fui a convite da colônia israelita de Pernambuco, organizada pelo saudoso Salomão Jaroslavsky, que era uma espécie de cônsul do país em Pernambuco. Como não havia (e ainda não há) voos diretos do Brasil para Israel fui para Madri, embarcar para Tel Aviv num avião da El-Al, a empresa aérea de Israel. Já no aeroporto de capital espanhola, tive uma fiscalização rigorosa. Viram meu passaporte várias vezes, fizeram muitas perguntas. E até tive que ir para uma área junto do avião, onde  identifiquei minha mala que foi aberta e passou por outra e ainda mais rigorosa  revista.

           Finalmente librado, embarquei para Tel Avi, onde fui recebido por um guia e encaminhado ao Hotel Shalom, à beira-mar. Dei uma rápida circulada pelo hotel, jantei e fui dormir. Às 22h, fui acordado com o som estridente de sirenes e pessoas batendo na minha porta. Não entendia nada do que diziam, mas como todo mundo estava correndo, vesti a roupa rapidamente e segui os outros hóspedes. Felizmente estava no 2ª andar e pelas escadas cheguei ao bunker do hotel, no subsolo. Uma sala imensa, com camas, lençóis, ventilação uma estrutura com café e sucos. Felizmente encontrei um casal de judeus argentinos que falava hebraico e que foi traduzindo as informações. Seria um possível ataque de Monhamed Kadaf, o líder da Líbia, em guerra com Israel.. Como estava cansado da longa viagem, consegui dar alguns cochilos. O grupo, com umas 150 pessoas ficou até as cinco horas da manhã, quando foi liberado para sair e fomos para o café da manhã do hotel. Foi um enorme susto, felizmente logo resolvido. O único que passei em todas essas viagens por israel. No dia seguinte, tudo normal na cidade. Mas não escapei, depois, na viagem de rigorosas fiscalizações, inclusive em áreas com muitos policiais. Por 10 dias, visitei várias cidades israelenses, incluindo dois dias num kibutz, dirigido por brasileiros e que produzia frutas e verduras desidratadas, vendidas para o mundo inteiro.

           Foi minha primeira – e espero a derradeira- noite que passei num Bunker. A experiência, que contei na coluna “Passaporte”, que eu assinava no Caderno de Turismo do Diario de Pernambuco, acabou sendo reproduzida em duas revistas de circulação nacional.

Author: João Alberto

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