Marisa: ainda bem que o Recife encontrou você
“Ainda bem” – como diria a música da própria intérprete – que a cantora Marisa Monte incluiu a capital pernambucana em sua turnê Verdade uma ilusão, após um hiato de seis anos sem se apresentar por aqui. Sua chegada foi tão festejada, que os três dias iniciais de show não foram suficientes e, por estarem todos lotados, foi aberta uma quarta data, agendada para este sábado. Nesta primeira noite, durante quase duas horas de performance impecável – das 22h15 à 0h – ela compensou todo o tempo que passara ausente. Aplaudida de pé, Marisa Monte fez um passeio por todos os clássicos de sua carreira, em um espetáculo de som e imagens capaz de entorpecer até o mais compenetrado dos fãs.
Em meio à escuridão, ela surgiu no palco às 22h15, já cercada pela banda que a acompanhou até o fim da apresentação. A princípio, uma espécie de véu de tule formava uma parede transparente entre a artista e sua plateia, durante toda a primeira música, O que você quer saber de verdade. Em seguida, durante a execução de Descalço no parque, a barreira foi erguida e os espectadores puderam ver Marisa cara a cara, com maior nitidez e proximidade. No setlist, seguiram-se canções como Arrepio, Ilusión, Depois, Amar Alguém, Diariamente e Infinito Particular.
A artista cumprimentou sua plateia e disse estar bastante feliz em retornar a Pernambuco, onde sempre é recebida com carinho pelos admiradores. “Gente, que teatro, que acústica!”, comentou, “Só agora estou me dando conta da saudade que eu estava sentindo de vocês!”. Entre uma faixa e outra, fez questão de bater papo com os presentes, narrando fatos curiosos sobre sua trajetória e sobre a composição de algumas das letras incluídas na turnê.
Alguns nomes foram homenageados por Marisa ao longo da noite, sendo Cássia Eller o primeiro deles. Ao cantar a faixa ECT, a dona do palco explicou como nasceu a canção, eternizada na voz de Cássia. “Esta música eu compus com Nando Reis e Arnaldo Antunes”, começou, “mas a Cássia nos pediu para gravá-la no estúdio, e acabou se apropriando lindamente dela. Hoje, ninguém a associa a mim, ao Arnaldo, ou ao Nando. Esse sucesso é dela. Salve, Cássia!” Marisa Monte fez questão de lembrar o quanto admirava o trabalho e a personalidade de Cássia Eller, e o quanto ela lhe faz falta como referência musical. Emendou com o sucesso De mais ninguém, ainda homenageando a falecida amiga.
Lia de Itamaracá, que estava na plateia e levou flores para Marisa, também foi homenageada pela intérprete, que executou um trecho de Eu sou Lia (Ciranda de Lia). As duas chegaram a cantar juntas na abertura do carnaval do Recife, em 2008, mantendo o vínculo desde então.
O Maracatu Atômico, de Chico Science e Nação Zumbi, também teve sua vez, sendo um dos momentos mais animados da noite, quando até o governador Eduardo Campos se balançou animado ao ritmo das batidas de manguebeat. Na banda de Marisa Monte, três integrantes da Nação Zumbi: o baterista Pupilo, o baixista Dengue e o guitarrista Lúcio Maia. “Este é o power trio mais amado do Brasil”, falou a cantora ao apresentá-los, “os pedi emprestados à Nação Zumbi, prometo que estou cuidando bem deles durante a turnê e, algum dia, os devolverei”. Segundo ela, os três rapazes eram o principal motivo de o teatro estar lotado. “Aqui são todos os amigos e parentes desses pernambucanos”, brincou.
Outras canções famosas de álbuns anteriores também ganharam espaço e foram acompanhadas em uníssono pelo público, tais como Gentileza, A Sua, Beija Eu, Tema de Amor e Não Vá Embora. Antes de cantar a aguardadíssima letra de Ainda bem, Marisa homenageou a cantora italiana Mina Mazzini, com a música Sono Come Tu Mi Vuoi. Em seguida, declarou-se fã de Mina e contou que a havia convidado para gravarem Ainda bem em parceria, mas Mina havia gostado tanto da música, que pediu sua autorização para cantá-la em seu próprio álbum, o que Marisa permitiu, com orgulho.
Sendo assim, ambas terminaram por executar a mesma música, cada uma em seu próprio álbum, porém sozinhas. Após render elogios à intérprete italiana, Marisa foi surpreendida por um grito de um fã na plateia: “Essa moça não amarra teus sapatos, Marisa!”, insinuando a superioridade da brasileira em relação à outra. Modesta, Marisa riu, concluindo: “Mina é Mina, eu sou eu”.
Após uma breve despedida, às 23h45, Marisa retornou para uma breve segunda etapa do show, que contou com a participação surpresa do sanfoneiro Waldonys, díscipulo de Gonzagão, convidado pela cantora a se juntar a ela no palco. Em parceria, cantaram A Festa de Santo Reis, de Tim Maia. Ao público, Marisa dedicou a canção Amor, I love you, adaptada em uma das passagens a “Recife, I love you!”. Um dos fãs, no gargalo do palco, teve a honra de receber o microfone das mãos de Marisa para interpretar o trecho de Eça de Queiroz, narrado por Arnaldo Antunes na versão original da música. Encerrando o show, Velha Infância, de sua fase com os Tribalistas.
Além de uma brilhante presença de palco, cheia de leveza, fluidez e feminilidade, Marisa Monte contou ainda com uma excelente performance de sua banda. Para completar, um jogo de imagens projetadas em todo o palco conferiu ao show um caráter ilusionista, teatral, cercado de efeitos especiais. As imagens mostradas como plano de fundo são obras de artistas contemporâneos brasileiros, incluindo o pernambucano Jonathas de Andrade.
Nesta primeira noite, marcaram presença nomes de destaque no estado, a começar pelo governador, Eduardo Campos, acompanhado de sua Renata, além do prefeito Geraldo Julio, acompanhado de sua Cristina. A cantora Céu, os arquitetos Zezinho e Turíbio, Silvio Pontual e Vanessa Vechionne, Humberto Costa, Cláudia e Mauro Alencar, Pedro Henrique Reynaldo, Adriana Rocha, empresários, artistas e juristas também prestigiaram o evento. Na saída, elogios inúmeros falavam por si, explicando por que Marisa Monte é uma das divas da MPB: mal termina o show, já deixa saudades. E embora tenham se passado seis anos desde sua última apresentação no estado, Pernambuco a recebeu como se este dia fosse ontem.






















