Ricardo Nunes, o pernambucano que coleciona mais de mil pares de tênis

Ricardo Nunes, o pernambucano que coleciona mais de mil pares de tênis

Ricardo Nunes possui mais de mil pares de tênis - Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

Ricardo Nunes possui mais de mil pares de tênis – Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

Ter um, dois, três ou até quatro pares de tênis é normal nos dias de hoje, mas imagina guardar mais de mil pares de tênis em casa e muitos deles em suas respectivas caixas? Aos 37 anos, o empresário pernambucano Ricardo Nunes, formado em Odontologia, é um dos maiores sneakerheads do país. O termo é designado aos amantes da cultura dos tênis, que assim como ele, sempre gostou dos pisantes e acabou se tornando um colecionador. Hoje, Ricardo não só é um dos maiores entendedores do assunto no país, como também idealizou a SBR, uma revista especializada, junto com uma agência de conteúdo que atende as principais marcas esportivas de lifestyle que atuam no mercado brasileiro. Além disso,  é responsável pelo site Sneakers BR, que conta com cerca de 500 mil visitas mensais e parcerias com grandes marcas do setor.

Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

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Uma delas resultou no Lanceiro, tênis que criou em parceria com a Nike, cheio de referências pernambucanas, vendido no mundo inteiro. Com design assinado por Fabrício Machado, o modelo ganhou as cores da bandeira de Pernambuco e, no calcanhar, a emblemática frase de Chico Science “Um Passo à Frente e Você Já Não Está Mais No Mesmo Lugar”, visível sob o efeito da luz. Mil pares foram comercializados e apenas cinco deles estão com Ricardo: um novinho guardado numa caixa de madeira e os outros conservados em um plástico.

O tênis Lanceiro criado com referências pernambucanas foi vendido no mundo inteiro - Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

O tênis Lanceiro criado com referências pernambucanas foi idealizado por Ricardo e vendido no mundo inteiro – Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

Foi por volta de 2003 que ele descobriu que existia, no exterior, um circuito internacional de lojas que contava com lançamentos exclusivos. Um comércio de tênis raros, marcas que faziam edições vintage e pessoas que acampavam na porta de lojas para comprar tênis. “Junto com isso, surgiram os primeiros sites e revistas (todos gringos) sobre o assunto e eu, que sempre consumi tênis como qualquer pessoa, usando os pares e depois jogando fora e/ou doando, passei a colecioná-los, por me interessar pelas histórias que cada um deles carregava”, contou Ricardo. Ele sempre se destacou entre a família e os amigos pelos tênis que calçava. “Desde que deixei minha profissão (odontologia) de origem e passei a trabalhar com tênis, parei de contar os pares. Comandar o site e a revista me faz receber muita coisa, mas eu ainda gasto boa parte do meu dinheiro com tênis, espalhados pelas casas de São Paulo e do Recife. Isso porque não fico com tudo que mandam”, destacou o empresário.

Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

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Para guardar é simples. Ricardo encomendou um armário exclusivo, onde os pares ficam todos à vista em prateleiras, mas muitos continuam em suas caixas em um galpão na casa dos pais. Para conservar, muitos pares estão embalados em plásticos para evitar o desgaste da sola. “Eu não sou doente. Sou acumulador. Quem for casar comigo, já vai entrar nesta sabendo” antecipa. Viajar também é um caso à parte. “Sempre paguei excesso de bagagem pelos tênis. Na hora de vestir, a primeira escolha fica por conta do que vou calçar. Dou muito mais valor a eles do que a roupa”, contou.

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Crédito: Reprodução do Instagram

Os pares de tênis recebidos em seu escritório na capital paulista para um novo número da revista SBR – Crédito: Reprodução do Instagram

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O tênis da foto foi vendido apenas na Austrália, onde fica a sede da Sneaker Freaker, revista que o criou. Foram apenas 150 unidades comercializadas – Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

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Tênis desenvolvido pela grife Isolda em parceria com a Converse com estampa de lagosta – Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

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Tênis desenvolvido em parceria com a Nike com referências do Recife e de Salvador na palmilha. A cor amarela do par representa a região Nordeste – Crédito: Tatiana Sotero/DP/D.A Press

O tênis mais caro que comprou atualmente custou 500 dólares, mas claro, que muitos de sua coleção chegam a valer muito mais do que isso. O Lanceiro é um bom exemplo: quando foi vendido em lojas, em 2009, custava R$ 390. Hoje, quem tem um par novo não vende por menos de R$ 2 mil e, se for a edição especial, embalada numa caixa de madeira, junto com camiseta e adesivo, esse valor sobe ainda mais. Ricardo compra tênis quase toda semana, por um bom motivo: continua apaixonado por eles. A maioria que arremata é de sites internacionais ou em viagens que faz pelo mundo afora, principalmente em Tóquio e Nova Iorque.

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Os negócios de Ricardo com o universo dos tênis deu tão certo que, em janeiro de 2006, um ano depois de criar seu blog, a página foi eleita um dos 10 melhores do portal onde estava hospedado. Hoje em dia, várias marcas procuram Ricardo para palestras, workshops, além de comandar uma equipe de oito pessoas em um escritório que montou em São Paulo para ser a redação da SBR.

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Os projetos continuam em andamento e não param nunca. “Acabamos de lançar uma nova plataforma de conteúdo, chamada Pequeno Manual De Cultura Sneaker, em que contaremos histórias de modelos clássicos sempre de uma forma lúdica/educativa e com especial atenção para o design”, contou. Neste ano, surgiu um novo desafio: desenvolver uma coleção de roupas em colaboração com uma rede de fast fashion que distribuirá as peças para lojas do Brasil inteiro.

Confira um bate-papo exclusivo com o colecionador:

Qual o retorno que você recebeu das marcas e do público conhecedor do assunto quando se tornou referência no universo dos sneakers? E hoje, como é sua relação com as marcas? Você deve receber muitos pares para testes, não é?

Recebo muita coisa das marcas. Minha relação com elas é bem saudável e de bastante profissionalismo. Boa parte são clientes da minha agência e já desenvolveram algum tipo de trabalho conosco, desde conteúdo até a colaboração em algum produto especial. O retorno de público também é bem bacana e chega a ser até engraçado. Apesar de eu não costumar me expor muito, muita gente fala comigo nas ruas, sobretudo pelo tênis que estou usando. Fiz muitos e bons amigos por conta dos tênis – e do SneakersBR – tanto no Brasil, quanto fora dele, sejam pessoas cujo primeiro contato foi através de alguma marca onde trabalhavam, ou que chegaram até mim por lerem o site, frequentarem os eventos, etc.

A “febre” de um colecionador é ter peças exclusivas, inclusive, você já assinou um modelo com referências pernambucanas em parceria com a Nike. Como foi o desenvolvimento de toda a ideia para criar o Lanceiro?

O convite para assinar um produto para a Nike surgiu em 2008. Imediatamente pensei no Air Max 1, um tênis original de 1987, que é, até hoje, o meu favorito da marca. A informação de que eu não era de São Paulo e a estranheza que isso causava em muita gente do mercado, quando comecei a encarar o blog como algo mais sério, me fez ter vontade de falar de Pernambuco no tênis. Junto disso, uma das executivas da Nike, daquele time que me fez o convite para assinar o tênis e que acabou virando uma grande amiga, era fã da cultura mangue beat e me sugeriu pensar na ideia de falar disso no calçado. Quase um ano depois, o Air Max 1 Lanceiro chegou ao mercado. Inicialmente, o produto seria exclusivo do Brasil, mas um executivo da sede da marca viu o produto e quis ampliar seu alcance. Acabou que ele foi distribuído também em parte da Europa, Ásia e América do Norte, sendo bastante cobiçado pelos fãs de Air Max. Hoje, quase 6 anos depois, um par novo – coisa rara de se encontrar – vale algumas centenas de dólares.

Qual é a média de preço dos pares que possui?

Não existe uma média de preços e, como em qualquer cultura colecionável, muitos dos tênis acabam se valorizando com o tempo. Compro tênis quase toda semana! Primeiro, e acima de tudo, porque continuo apaixonado por eles – e só uso tênis, todos os dias, com raríssimas exceções. Segundo, porque meio que me obrigo a estar atualizado com tudo o que está saindo no mercado, sobretudo no que diz respeito aos poucos produtos que não são vendidos no Brasil.

Quais são os requisitos para que uma peça seja valorizada entre os sneakerheads?

Isso varia de pessoa para pessoa, mas ser raro/difícil de encontrar e ter alguma história importante por trás, ligada a alguma assinatura estrelada, de preferência, são alguns deles.

Author: Thayse Boldrini

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