Tito Lívio sobre os 20 anos do seu Downtown: “Antes de mais nada, é preciso ser louco”

Por Marília Gouveia

O empresário Tito Lívio Saraiva conseguiu deixar sua marca na vida noturna recifense, comandando há 20 anos o Downtown Pub, no Recife Antigo. O gaúcho deixou a profissão de Engenheiro de Pesca para se aventurar na noite e o que começou como uma diversão entre amigos se tornou uma das marcas mais conhecidas e respeitadas do ramo. Conversamos com ele sobre a história do pub, noites marcantes, dificuldades e segredos para se manter ativo por tantos anos. Confira:

Crédito: Armando Artoni / Divulgação

Crédito: Armando Artoni / Divulgação

– Como surgiu o Downtown?
O Downtown surgiu como uma brincadeira entre cinco amigos. A gente queria fugir um pouco da moda da época, que era forró, pagode e boate e fomos na contramão com uma casa voltada para o rock, que não estava em alta. A gente apostou na ideia que havia um público fiel para este tipo de casa. Então começou com música ao vivo e deu certo. O Recife Antigo também estava no auge, tanto que nós não conseguimos ir para o centro do bairro, na Rua do Apolo, na Moeda. Nós fomos para o lado oposto da moda, o lado ainda marginalizado. Não posso dizer que foi um estouro no primeiro momento – mas com um ano e pouco, a gente já via que era uma casa que tinha vindo pra fazer diferença.

– Como você administra o Downtown hoje?
Ao longo dos anos houve mudanças de sociedade, logo no começo, dos cinco amigos três saíram. Depois entraram mais dois, que ficaram com a gente por uns 10 anos, e há seis anos, só eu e meu irmão somos sócios da casa.

Downtown Pub/Divulgação

Downtown Pub/Divulgação

– Qual é o segredo para se manter por tantos anos?
Antes de mais nada tem que ser louco! É fato que uma casa noturna tem uma vida útil curta, seja no Recife, Rio, SP, Porto Alegre. Não ultrapassa quatro anos. Porque uma casa noturna mexe com moda, o público vai onde os outros estão. Nós, ao contrário de muitas casas que quando veem que o movimento está caindo parte para outro estilo, mais populares, ficamos fiéis à marca. Ainda mais que o próprio bairro do Recife passou por momentos delicados. Muita gente dizia que se sentia inseguro de ir, eu cheguei a anunciar algumas vezes que iria fechar, até como uma forma de cutucar as autoridades, porque eu nunca quis sair daqui. De cinco a cinco anos para cá, melhorou muito. Também com a abertura dos Armazéns do Porto, há dois anos, que o Downtown também tem a casa, o bairro melhorou demais e o movimento também voltou. Agora estamos passando por uma fase muito bacana, como antigamente.

– Quais as principais dificuldades?
A principal é a vida útil curta de uma casa noturna. No caso do Downtown também os problemas do bairro, que sempre foram crônicos, nunca deixaram de ter. Às vezes o próprio bairro espanta o público. A Lei Seca, que tirou muita gente daqui, e as pessoas ainda estão se adaptando. A noite hoje também tem muitas opções. O Recife é uma cidade que tem muito evento, muita festa. E isso é um fator que dificulta, já que eu sou um espaço que está toda hora ali, que não sai do local, uma festa é sempre uma coisa única. E essas festas passaram a ser um concorrente das casas noturnas. Além de que o nosso país vem atravessando uma fase muito difícil.

Crédito: Divulgação

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– Nesses 20 anos, qual a noite ou o show que mais te marcou?
Eu acho que o aniversário de 15 anos com a presença do Frejat foi uma noite apoteótica. Foi uma coisa muito diferenciada e para quem esteve lá, ficou registrado. Mas sempre acontecem noites que marcam, cada uma de um jeito, cada uma de uma forma. Hoje, a gente vem resgatando clientes antigos, com a linha retrô, anos 80, 90. A festa Hot Night, que acontece a cada dois meses, é noite garantida, com um saudosismo muito grande, que reúne um público que já deixou de frequentar. E é uma forma de estar sempre alimentando a chama da casa, e perpetuando enquanto dá.

– Quais os planos para o futuro?
É complicado falar, a gente nunca sabe. Mentiria se dissesse que tenho planos para continuar mais 20 anos com a Downtown. Primeiro, porque eu duvido que aguente, até pela minha idade. Segundo, o momento, por mais que eu tenha forçado ou tentando me manter fiel nesse ramo, é muito difícil. Tudo que eu falei agora há pouco conspira contra. Então hoje nós já temos uma segunda marca, que é o Pier, o restaurante. Que naturalmente tem uma possibilidade de durar muito mais tempo, de ir longe, e estará mantendo viva a marca. Mas um projeto para o futuro, que estamos pensando seriamente agora para 2017, é criar uma produtora. Até pela expertise, porque o pub é só uma extensão de coisas que nós fazemos: eventos, festas temáticas. Nós levamos a marca para Porto de Galinhas, Gravatá, Pipa, no Galo da Madrugada. E então nós não faríamos mais informalmente esses eventos, mas trabalhar de uma forma profissional e usando uma marca que hoje virou uma referência. E isso não é fácil de conquistar, e mais difícil ainda é manter por tanto tempo. E como conseguimos fazer isso, agora a gente quer aproveitar e tirar o máximo dela.

Author: Tatiana Sotero

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