Uma história de Ricardo Boechat

Foram muitas as histórias envolvendo Ricardo Boechat, que morreu ontem. Gostei desta contada pela jornalista Keila Jimenez:

 

“2011, camarote ‘Lounge’ da Band na Fórmula Indy em São Paulo.

Famosos e contratados da emissora se acotovelavam atrás dos cliques da imprensa presente. Todos queriam sair nas fotos. Todos queriam apertar a mão de um Saad (os donos do Grupo Bandeirantes). Todos queriam ver e serem vistos na prova badalada.

Enquanto os repórteres apostavam se Adriane Galisteu iria cumprimentar (ou não) Viviane Senna (as duas dividiam o mesmo metro quadrado no evento), senti que o lugar no puff ao meu lado já não estava mais vazio.

O meu novo vizinho de camarote era um sujeito franzino, de camiseta verde, calça jeans, papete estranha e chapéu de pano. 

Demorei para reconhecer. 

“Boechat?”, perguntei olhando quase que por debaixo do chapéu de pescador.

“Droga, você me descobriu aqui!”, respondeu o âncora, tirando onda da minha cara.

Me explicou, enquanto comia uns canapés acumulados em um guardanapo, que “odiaaaava” eventos, e que estava ali praticamente ‘obrigado’.

“Vim, mas vim de roupa de protesto!”, me garantiu Boechat, rindo.

“Com esse look ninguém vai querer me fotografar! Como vou sair na sessão ‘estilo’ da revista de celebridades assim?”, perguntou ele, me mostrando a papete de couro detonada. 

“Estou disfarçado de Seu Madruga!”, brincou ele.

Caímos na risada. Chegamos a conclusão que não entendíamos nada de Fórmula Indy. “Quantas voltas têm esse troço, minha filha?”, perguntou o âncora do ‘Jornal da Band’.

Descobrimos que a mini coxinha e a salada de frutas eram os melhores quitutes da ‘boca-livre’ da vez. E que ele precisava ir logo apertar a mão do chefe para poder voltar para casa, para jantar ‘costela’ com filhos e netos.

E foi. Se despediu de mim, desejou sorte, e cruzou o camarote lotado rumo a um rápido aperto de mãos com o patrão. Saiu ser ser notado, sem um ver um flash.

Boechat não gostava de ser famoso. Mas também não deixava de atender com carinho fãs que o abordavam vida a fora. Era amado por taxistas.

As famosas gargalhadas eternizadas com José Simão na BandNews eram autênticas.

Boechat soltou algumas delas no telefone quando liguei para checar a “história” de que ele havia brigado “de porrada” com o colega Reinaldo Azevedo. O âncora da Band não parava de rir no telefone e queria saber, segundo as minhas fontes, quem havia levado a melhor na briga.

“Quem apanhou mais?”, perguntou Boechat, gargalhando.

“Não, não bati no Reinaldo, nem apanhei! Não que a gente não mereça!”, respondeu ele ainda rindo, agradecendo a ‘checagem’ da fofoca da vez. “Ninguém checa mais nada hoje em dia, ainda bem que você me ligou!”, concluiu.

Minutos depois, Reinaldo me mandou uma foto linda, bebendo vinho e rindo com Boechat em uma sala muito bem decorada. Pediu para não publicar, pois era um momento pessoal.

Aquilo estava longe de ser uma briga. E olha que Boechat adorava uma, só que de ideias. 

“Como todo velho, eu tenho resistência a ser dirigido por outra pessoa”, me disse Boechat quando resolveu se aventurar na narração de um documentário de bichinhos da BBC, exibido pela Discovery.

“Sou cabeça dura. Tenho minhas ideias. O pior é que me pagam para falar sobre elas!”, brincou ele. “Falo tanto que me chamaram para narrar documentário (risos)!”, disse Boechat.”

 

 

 

Author: João Alberto

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