‘Projetemos’ representa o Brasil em exposição internacional

Foto: Divulgação

Com a emergência sanitária da Covid-19, diversos artistas do mundo inteiro exploraram o poder de impacto, informação e transformação da arte, para ajudar comunidades afetadas com a pandemia. Entre os trabalhos que mais reverberaram no Brasil e em países afora, está o Projetemos, co-criado pelo pernambucano Mozart Santos e que representa o Brasil em uma exposição inédita, do Museu de Arte Contemporânea de SP, a partir deste sábado (29). Intitulada “Além de 2020. Arte italiana na pandemia”, a mostra fica em cartaz até o dia 22 de agosto e traz além do Projetemos, obras de mais 40 artistas das dimensões de Ai Weiwei e diversos outros.

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A participação do grupo, na mostra, ocorre através da Trans Lu(z)cidez, conjunto de nove intervenções, desenvolvidas a partir de vídeos, imagens, traquitanas, objetos projetáveis, performances e vídeo mapping. “O nome ‘Trans LU(Z)cidez’ traz em si vários códigos que trabalhamos diariamente no Projetemos. TRANS de informações que se cruzam, circulam e transformam. LUZ, subjetivamente a de conhecimentos transmitidos e objetivamente as luzes de nossos projetores. E LUCIDEZ, que é o que buscamos para nós e para quem nos acompanha”, pontua o multiartista pernambucano, Mozart Santos.

“Teremos um ambiente de 80 metros quadrados com uma instalação audiovisual multiplataforma que traz a essência do pensamento do projetemos: A construção de narrativas”, comenta a cientista política Bruna Rosa, co-fundadora do grupo.

Vários artistas e projecionistas foram convidados para construir a obra através de suas de suas abordagens e lutas pessoais. Entre eles, Maria Gadú que traz por meio da palavra dos povos originários, um vídeo-arte sobre os rios que existem ou existiam em São Paulo. Achiiles Luciano,que  apresenta uma obra mesclando a pintura analógica com a pintura digital para retratar expressões e grandes personalidades que se destacam nas lutas contra o racismo. E Raquel Diógenes, que desencadeia a linguagem contemporânea do vídeo e da música eletrônica para debater questões feministas.

A coleção de vídeos também conta com obras de Denise Lopes, professora doutora em cinema da PUC – RJ, Luciana Moherdaui, Gisele Beiguelman, Ana Magalhães, Celso Lembi, Demetrio Portugal, Gabriel Furtado, Luciana Marçal e Renan Inquerito.

No todo, o grupo apresenta uma série de intervenções que “iluminam narrativas que discutem o Brasil século XXI, ao testemunhar uma história do passado, neste país projetado como utopia de um possível desenvolvimento. Conduzindo o espectador a interagir com narrativas que ecoam questões de camadas sociais, culturais e antropológicas, produzidas diariamente com a ideia de reprodução pelo capital dentro das perspectivas da perplexidade e do desencanto do presente”, comenta Mamé Shimabukuro que participou da criação e concepção das obras, junto com Mozart Santos.

O convite para o Projetemos participar da mostra veio de Ana Magalhães, diretora do MAC – USP, que identificou no grupo, um trabalho pertinente ao tema geral da exposição que envolve expressões artísticas e personalidades do mundo da arte, que contribuíram para aliviar consequências causadas pela pandemia. A mostra é organizada pela produtora italiana Arthemisia e conta com a curadoria de Teresa Emanuele e Nicolas Ballario. O apoio é do Istituto Italiano di Cultura de São Paulo e do Consulado Geral da Itália em SP. 

Desde o século 19 que existem pessoas fazendo projeções de imagens nas paredes. Com lanternas e placas de vídeo desenhadas, se comunicavam e levavam entretenimento para grupos de pessoas. Eram chamados os Lanternistas Viajantes. Nascia ali, os VJs. Hoje as Lanternas Mágicas são os projetores e as telas são as paredes de grandes prédios. A população segue com a necessidade de entretenimento e informação. A arte continua sendo essa ferramenta que une ciência e beleza para falar para milhares de pessoas.

Foto: Divulgação

O Projetemos surgiu para “Iluminar pessoas iluminando paredes”, comenta o co-fundador do grupo, o paraibano Felipe Spencer, que complementa explicando sobre a necessidade do projecionismo, presente na mostra. “Fizemos um projetor com um cano de pvc e uma lupa. A ideia é simplificar o ato de projetar”, completa o editor projecionista.

Projeto que possibilita agregar muitas vozes e saberes, o Projetemos é uma rede que expõe uma “nova” forma de se relacionar com a cidade, a política, a comunicação e a arte. Fazendo das janelas, fachadas e empenas de concreto, um manifesto político, artístico e afetivo. A iniciativa que se fez ainda mais essencial com a chegada da Covid-19, nasceu emanada do desejo de olhar o mundo com o desejo e a necessidade de recriá-lo.

‘Além de 2020’ conta a história da arte contemporânea italiana, especialmente durante a pandemia, e homenageia o historiador, crítico de arte e curador, Germano Celant, que morreu em decorrência da Covid -19, em 2020. Celant batizou a Arte Povera, movimento de vanguarda artística da década de 60, marcado pelo uso de recursos não convencionais que promoveu uma arte mais simples e humanizada.

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Não por acaso, São Paulo foi escolhida para receber a mostra. Trata-se da cidade brasileira com uma das maiores comunidades de descendentes de italianos no mundo – estima-se cerca de 5 milhões de pessoas só na capital paulista. A escolha também ressalta o vínculo indissolúvel que une São Paulo à Itália, inclusive durante a pandemia. Os milhares de registros de proximidade e solidariedade, as cartas abertas, as ofertas voluntárias, com as quais nos primeiros meses de 2020 os paulistanos estenderam a mão à Itália, não só metaforicamente, uniram ainda mais estes dois mundos entre os mais afetados pela emergência sanitária. Além de 2020 é uma celebração a essa relação.

Para visitar a mostra é necessário fazer um agendamento prévio, gratuito através do: sympla.com.br/visitamacusp

Author: Mariane Magno

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